15 DE JANEIRO DE 1998
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naumaquia, e as suas ruínas nos informam dos seus fabricadores». O mesmo sábio antiquário pretende derivar de Aravor o topónimo, por «Maravon> ou «Maralvor» — o que não parece aceitável; e tanto ele como Huebner
reproduzem a referida inscrição, que é:
Imp.cae.dni.traia/particip.f.traianv/hadriano.avc/ pont.max.trib/potes.i.cos.ii/civitas aravor [ano de 119, diz Viterbo].
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Parece que à época romana deveriam remontar dois outros edifícios: «do primeiro já se tem demolido a melhor parte; parece já nos tempos antigos serviu de igreja; a sua grossa cantaria é escudada, e a sua arquitectura lhe promete o triunfar dos séculos». O referido abade Bernardo José diz que este edifício arruinado era chamado «a torre da Moura». A outra construção «já serviu de capela em outro tempo; é toda um monstruoso perpeanho quadrado, desempanado a picão, e só nas juntas maravilhosamente unido». Junto deste edifício se descobriu uma lápide, votiva a Júpiter. Óptimo Máximo: «JOVI.O.M./K.AD.», pelo que diz o padre Viterbo estar inclinado a suspeitar que esta construção «seria algum sácelo ou delubro dedicado a Júpiter». O padre Carvalho é de opinião que a cidade de Aravor é fundação dos Túrdulos. Da sua história seguinte nada se sabe, mas deve ter-se arruinado esta urbe com as invasões bárbaras, árabes e cristãs até ao século xi. Nesta altura, às suas fortificações se dava o nome de «castro de S. Justo» que lhe deve ter sido dado pelos Godos, pois a aplicação do nome de um santo a um castro que depois os Árabes vieram a possuir representa, segundo Leite de Vasconcelos, «cristianização de um culto pagão», sendo certo que os Romanos aqui dedicaram templos aos seus deuses, aos quais templos árabes e cristãos depois adaptaram aos seus ritos. Sob os árabes, a designação «castro de S. Justo» manteve-se como èm muitos outros casos, se bem que Leite de Vasconcelos, influenciado por frei Manuel da Rocha, diga que este castro é o que está acima de Mondim da Beira. Esta persuasão, porém, se não admite, pois que, trazendo o Silense que o rei Fernando, o Magno, de Leão, além de muitos outros castelos e castros, «cepit etiam... castrum sancti Justi super flumen MaJva situm», feriamos de aceitar que o Barosa, rio a que estão iminentes Mondim e o castro, sem haver outro próximo, se denominava Malva; ora aquele rio já no século x se chamava Barrosa e com este nome figura no inventário dos bens do cenóbio vimaranense nesta região, feito em 1055, isto é, precisamente quando o dito rei andava expulsando daqui os Mouros, na sua entrada por Cima-Coa. Alguns autores citados dizem mesmo que foi o rei Fernando que pôs ao lugar o nome de Malva, tirado do rio que o banha, e que é deste nome que derivou o de Marialva. O aforamento da estremadura (a região ribeirinha do Douro em que se situava Marialva) foi continuado por D. Afonso Henriques, o qual, na sua carta de foral a esta povoação (1179), diz que foi ele que mandou «pobradores» para a/, com a concessão de muitos privilégios — entre estes o de os moradores da vila não terem o senhor que não quisessem. Este privilégio confundiu-o J. A. de Figueiredo com o de beetria, motivo que o levou a incluir Marialva entre as beetrias portuguesas — o que Herculano demonstrou ser erróneo. A colonização deu origem, no local, à instituição canónica de duas paróquias — a de São Pedro, que foi reitoria e comenda da Ordem de Cristo, e Santiago, abadia do padroado real, intramuros. Estes devem ter %\do levantados sobre as ruínas do castro de São Justo,
que o Silense diz destruído por Fernando, o Magno, «até os alicerces», para evitar que os Mouros, expulsos de Lamego, aí fossem fortificar-se; à entrada do castelo há uma data (1559) que é de uma reconstrução. Existiu ainda
outra igreja, a de São João, na qual D. Dinis apresentou em 1289 João Soares, freire do templo (sem que se saiba se este templo é aquela «ermida» de São João Baptista, onde, diz o padre Carvalho, existiu um convento dos Templários, sem embargo de que o mesmo rei deu, depois, a mesma igreja à Ordem do Hospital). Outro mosteiro floresceu aqui, o de Nossa Senhora dos Vilares, franciscano, fundado em 1447, a duas léguas e meia da vila (do qual era padroeiro, cerca de 1750, o capitão-mor da Meda, Cristóvão Pereira). Além destes mosteiros, «parece que no tempo dos Godos, para nascente, e não longe desta cidade (Aravor), existiu um mosteiro, num sítio em que se têm desenterrado colunas, vestígios de claustros e oficinas», diz o padre Viterbo. No. século xvni eram comendadores de Cristo em Marialva Manuel Inácio da Cunha e Meneses e, depois, José Félix da Cunha. D. Dinis, por sua carta, concedeu ao concelho licença de feira franca, mensal, a qual se fazia no arrabalde ou na vila. D. Pedro I, por sua carta, confirmou todos os antigos privilégios da terra, fazendo mercê da abadia a Afonso Giraldes; este mesmo rei concedeu aos anadéis e besteiros da vila o privilégio de cavaleiros, o de montaria livre, a isenção de tributos por posse de animais, etc; o «anadel e os besteiros de Marialva me enviaram dizer que eles e os besteiros que antes deles foram na dita vila e no termo, foram sempre privilegiados e honrados, assim no meu tempo como no tempo dos outros reis que antes de .mim foram [...] Primeiramente, outorgo-lhes que eles hajam privilégios de cavaleiros [...] que quando houverem de ser chamados para serviço que sejam chamados por seu anadel, e não pelo alcaide nem pelos homens da justiça desse lugar. E outrossim lhes outorgo que eles não sejam teúdos a pagar em peita nem em talha», etc. Por carta de 25 de Outubro de 1359, D. Pedro I mandou entregar o seu castelo de Marialva a Domingos Anes, morador na vila, o qual fez dele menagem ao dito rei. Nos inícios do século xvin, ainda este castelo era «todo murado de canteria», com quatro torres (uma, a do relógio) e quatro portas; mas, meio século depois, estão já «arruinados os muros em parte»; e a paróquia de São Pedro, intramuros, que em 1700 ainda contava 40 fogos, despovoou-se tão rapidamente que, então, eram só oito os fogos, porque os habitantes saíam de lá e as casas caíam em ruínas, apesar de intramuros estarem a igreja, a casa da câmara, a cadeia e o pelourinho. Cerca de 1758, o alcaide do castelo era o marquês de Tavira. Marialva foi cabeça de condado por mercê de D. Afonso V a Vasco Fernandes Coutinho e de marquesado por mercê de D. Afonso VI a D. António Luís de Meneses, agraciado a 11 de Junho de 1661. D. Manuel I concedeu à vila e seu termo foral novo, em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1512, do qual se sabe que a coroa possuía aí 3600 réis de direitos (2880 do concelho e 720 pela pensão dos tabeliães); todos os outros direitos reais haviam sido dados aos moradores por 100 libras «da moeda antiga», pelo que escreve o citado abade de Marialva em 1758 que a vila tinha o privilégio «de não terçar Sua Majestade .nos baldios do concelho, nem nas portagens», porque estes direitos reais D. Manuel «os vendeu à Câmara por 100 libras», como constava do foral «que se acha no arquivo da Câmara». O concelho ÜC Marialva era composto das duas freguesias da sede e de oito no termo, a saber: Aldeia Rica, Barreira. Carvalhal,