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16 DE FEVEREIRO DE 2018

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Porém, a sociedade entra agora na quarta revolução tecnológica, o que permite e reforça um acesso

multidirecional à informação, muita desta científica. Os guardiões do conhecimento informativo, muitas vezes

associados a protetorados do status quo e ligados a esferas de interesses privados, estão hoje mais vulneráveis

ao questionamento informado e consciente não só de cidadãos e cidadãs, como de outras organizações. E este

processo de verificação e questionamento ativo, tal como científico, levou a uma crescente adaptação por parte

dos meios de informação, sejam eles de comunicação ou científicos, e vieram expor fragilidades em argumentos

ou opiniões de vários sectores, nomeadamente no sector alimentar. São hoje evidentes, havendo mais criação

e cruzamento de informação científica, que o processo agroalimentar, atualmente globalizado e interligado, tem

profundas e estruturais implicações, qualitativas e quantitativas, no meio que nos circunda. São disto exemplo

conceitos, que vingam crescentemente na Academia e na Indústria, como a pegada hídrica1 dos alimentos ou

os alimentos quilométricos2.

Por si só, estas conceções mais holísticas e com um cunho mais interdisciplinar científico estão a transformar

a indústria, mas sobretudo a sociedade civil e, por inerência, os partidos e movimentos políticos. Evolutiva e

socialmente, vemos que deixámos, como coletivo psicossocial e económico, de ser meros consumidores para

nos aproximarmos de prosumidores (produtores + consumidores), ou seja, atores sociais mais conscientes e

exigentes no consumo diário de bens e serviços. Esta consciência individual e coletiva, aliada ao maior acesso

a dados, estudos e análises científicas, que também gera mais informação de valor acrescentado e

multidirecional, tem levado à alteração drástica de consumos que influenciam, inerentemente, vários sectores

produtivos. E esta consciencialização tem vindo também a vingar na sociedade Portuguesa com um incremento

das preocupações sociais no que infere ao aumento de políticas públicas, sensatas e equilibradas, de proteção

ambiental e de bem-estar animal.

Atualmente, por exemplo, é indissociável pensarmos em produtos lácteos sem os relacionarmos com o bem-

estar das vacas leiteiras e dos seus vitelos, muitas vezes subprodutos, tal como no impacto hídrico desta

indústria, em toda a cadeia de produção, distribuição e consumo.

Também é factual o impacto ecológico e económico destas indústrias não só em Portugal, como na Europa

e Mundo, especialmente quando o mercado é distorcido com subsídios e apoios diretos e indiretos, alterando

artificialmente o preço real destes bens, e externalizando os custos ambientais. Recorde-se que a FAO

reportou3, em 2013, que a produção agropecuária no mundo, em todo o seu ciclo, é responsável por 14.5% das

emissões de gases com efeito de estufa (GEE), sendo que a produção de carne e leite, através de vacas leiteiras,

compõe 41 e 20%, respetivamente, deste valor total. De frisar ainda que as emissões globais deste sector são

superiores ao de todo o sector de transportes mundial que perfaz, sensivelmente, 11% das emissões de GEE.

E, como é exemplo nesta indústria, existem muitas outras nomeadamente na aquacultura, na agropecuária

intensiva e na agricultura agrotóxica. Isto é, estes impactos raramente são calculados e integrados, de forma

consciente e responsável, pelos agentes económicos. Esta transversalidade do modo como produzimos,

distribuímos e consumimos leva-nos também para uma plataforma de ética inter-geracional que nos vincula,

cada dia mais, aos reais impactos sociais, económicos e éticos da urgência de cuidarmos do bem-estar de

gerações futuras.

Para que haja então mais transparência, cientificidade e informação, necessitamos de critérios mais rigorosos

para aferir todos os impactos que emergem da produção, distribuição e consumo de um determinado bem ou

serviço, especialmente quando abordamos necessidades primárias como é o exemplo da alimentação. Mais do

que mantermos o atual paradigma, meramente quantitativo, necessitamos de criar um comité eco-agro-alimentar

que produza transversalmente conteúdos científicos que traduzam todas as variáveis presentes em todo o

sistema alimentar, nomeadamente na produção, na distribuição e no consumo.

1 http://www.natureza-portugal.org/o_nosso_planeta/agua/pegada_hidrica/ 2 http://www.alimentoskilometricos.org 3 http://www.fao.org/3/a-i3437e.pdf

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