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II SÉRIE-A — NÚMERO 97

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predisposição genética, disfunção do sistema imunitário ou exposição a causas ambientais) calcula-se que a

endometriose afete 1 em cada 10 mulheres em idade fértil, uma prevalência de 10%, o que, no caso de

Portugal, significaria cerca de 350 000 mulheres com esta doença, a maioria ainda por diagnosticar.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, os sintomas mais frequentes de endometriose são: a)

dores menstruais intensas (dismenorreia progressiva), que ocorrem um a dois dias antes da menstruação,

persistem durante a mesma e podem prolongar-se por alguns dias após o seu término e são prevalentes em

até 79% dos casos; b) dor durante o ato sexual (dispareunia profunda) que pode persistir após o coito e ser

intensa, prevalente em 45% dos casos; c) desconforto a urinar (disúria) e dificuldade em evacuar (disquesia),

prevalentes em até 25% e 29% dos casos, respetivamente; d) dor abdominal ou lombar, presente em 58% dos

casos; e) dor pélvica crónica, prevalente em 69% dos casos, e dor pélvica aguda associada com rotura,

hemorragia ou infeção de um endometrioma. Podem existir ainda outros sintomas associados como a

hemorragia uterina anómala, a fadiga crónica, retorragias e hematúria ou sintomas gastrointestinais

inespecíficos ou pneumotórax catamenial espontâneo.

Entre 30% a 50% dos casos de endometriose têm infertilidade associada e certas manifestações da

doença resultam em incapacidade de levar uma gravidez a termo. Simultaneamente, estima-se que cerca de

50% das mulheres em ciclos de procriação medicamente assistida por razões de infertilidade sejam mulheres

com endometriose, normalmente por diagnosticar.

Tendo em conta a descrição dos sintomas e os impactos que têm na saúde, qualidade de vida social,

profissional, relacional, sexual e reprodutiva das mulheres não é difícil perceber que esta é uma doença que

deixa uma marca intensa na vida das mulheres, muitas vezes logo desde que se inicia a puberdade. Estas

consequências são gravadas pelo diagnóstico tardio da doença, o que faz com que as mulheres tenham que

viver durante muitos anos com a doença, sem saberem que a têm, sem obterem uma validação das suas

queixas e sem terapêutica adequada que possa ajudar a controlar e combater os sintomas.

Estima-se que entre as primeiras queixas e o diagnóstico da doença distem 8 a 10 anos em média. Durante

este tempo, estas mulheres vêem-se obrigadas a recorrer a inúmeros profissionais de saúde, realizam exames

inconclusivos repetidamente, sendo eventualmente não diagnosticadas ou, em alguns casos, diagnosticadas

com outras patologias. Neste interregno, as mulheres despendem recursos económicos pessoais e do Estado,

à medida que veem a sua qualidade de vida comprometida e sem solução aparente e à medida que a doença

continua a progredir.

Mas por que razão o diagnóstico demora tanto tempo? Ainda que haja desafios no processo de

diagnóstico, a doença pode ser sinalizada através da história clínica, exame ginecológico, recurso a imagem

ou a estudo histológico, mas ela continua a ser subdiagnosticada. Uma das principais causas radica na

desvalorização dos sintomas por parte da sociedade e por parte da comunidade médica, e na normalização da

dor a reboque da ideia de que a menstruação é dor. Não é. Dor pélvica persistente e/ou intensa não é normal

e essa ideia precisa de ser desconstruída na sociedade em geral, e junto das mulheres e dos profissionais de

saúde, em particular.

A sensibilização das mulheres para a identificação de sintomas que podem indicar algo que está muito para

lá do desconforto da menstruação, assim como a sensibilização dos profissionais de saúde para não

desvalorizarem estes mesmos sintomas, tornará possível um diagnóstico e tratamento mais precoce da

doença.

Para tal seria muito útil que a Direção-Geral da Saúde, reunindo um conjunto de peritos na área,

elaborassem uma Norma de Orientação Clínica que chamasse a atenção para a prevalência, sintomatologia e

impacto da endometriose, sensibilizando desta forma os profissionais de saúde para esta doença e permitindo

um diagnóstico precoce e, por consequência, a administração de uma terapêutica de controlo dos sintomas ou

da doença também mais precoce.

Seria útil que o próprio Ministério da Saúde, paralelamente ao trabalho técnico da elaboração da norma de

orientação clínica, desenvolvesse campanhas de informação e consciencialização sobre esta doença.

É isso que o Bloco de Esquerda pretende que seja feito ao apresentar esta iniciativa legislativa: ao

sensibilizar a sociedade e os profissionais de saúde para uma doença que afeta 10% das mulheres em idade

fértil e que tem impactos negativos significativos na qualidade de vida, estaremos a promover o seu

diagnóstico mais precoce o que, por sua vez, permitirá o acesso a terapêutica também de forma mais célere,

permitindo um controlo dos sintomas e uma melhoria da qualidade de vida.