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14 DE JULHO DE 2021

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realizados durante o trabalho de parto e parto e/ou não tiveram informação sobre opções de parto, como

indução, cesariana, parto domiciliar, entre outras.

Quase 25% das mulheres não se sentiu bem com a posição adotada para a expulsão.

Mais de 10% das mulheres refere que a experiência de parto influenciou de forma negativa a sua autoestima,

existindo, ainda, um número significativo de mulheres que não se sentiu segura, apoiada, ouvida, respeitada ou

bem tratada e para quem o parto teve uma influência negativa, tanto a nível pessoal como a nível inter-relacional,

na relação com o bebé e com o parceiro.

Finalmente, 1468 mulheres, ou seja, 43,8% das inquiridas, afirmaram não ter tido o parto que queriam.

O segundo inquérito2 sobre esta matéria foi dirigido às mulheres cujo parto ocorreu entre 2015 e 2019. Cerca

de 7593 mulheres responderam ao inquérito e 7586 respondentes deram o seu consentimento para a

participação no questionário.

Os dados revelam que 18% das mulheres não teve direito ao acompanhamento durante o parto.

Verifica-se um elevado recurso à episiotomia, que ocorreu em mais de 60% das situações.

Ainda, cerca de 30% das mulheres afirmaram ter sido vítimas de desrespeito, abuso ou discriminação. Aqui

destacaram particularmente a prática de intervenções não consentidas, as quais afetaram direta e

negativamente a perceção das inquiridas sobre a sua experiência de parto. Foi, ainda, mencionada a relação

deficiente com os prestadores de cuidados e situações de abuso verbal e físico.

Os resultados destes inquéritos são muito preocupantes.

Destacando o caso particular da episiotomia (corte na zona do períneo) em fevereiro de 2018, a OMS

considerou que o uso rotineiro ou liberal desta prática não é recomendado para mulheres nas situações de parto

vaginal. 3 Com esta nova recomendação, a OMS deixa de admitir uma taxa de praticabilidade de episiotomia

entre os 10% e os 15%, o que demonstra que esta está efetivamente a desencorajar a realização deste tipo de

procedimento. Não obstante estas recomendações, a realidade é que a episiotomia é prática recorrente nos

hospitais portugueses no âmbito dos partos vaginais, ocorrendo em mais de 70% dos casos.

De acordo com o Relatório Primavera 20184 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, a

episiotomia é uma prática particularmente mais frequente em Portugal que nos restantes países europeus.

Usando dados recolhidos para 20 países em 2010 no âmbito do projeto Euro-Peristat e considerando os partos

vaginais, observou-se uma variação na frequência de episiotomia de 3,7% na Dinamarca a 73% em Portugal e

75% no Chipre, mostrando como é controverso o uso por rotina da episiotomia. Dos 907 211 partos vaginais de

nascimentos vivos únicos ocorridos entre 2000 e 2015 em hospitais públicos portugueses, 721 072 (79,4%)

foram partos não instrumentais; 696 510 (76,7%) mulheres foram submetidas a episiotomia; e 5110 partos

vaginais (5,6 por 1000) foram complicados por lacerações perineais de terceiro e quarto grau.

Em consequência, o Relatório refere que «temos que pensar que estamos em prevalências como as dos

Estados Unidos em 1979 (60,9%), uma prática depois ativamente contrariada pelas recomendações do

American College of Obstetricians and Gynecologists, e tendo em 2012, o Leapfrog Group

(www.leapfroggroup.org) proposto uma meta de 12% para episiotomias, revista em 2015 para 5%. Um longo

caminho a percorrer e que deverá ser discutido em Portugal».

Ainda sobre a episiotomia, o Relatório das Nações Unidas com o título «Uma abordagem baseada nos

direitos humanos sobre maus-tratos e violência contra as mulheres nos serviços de saúde reprodutiva, com foco

no parto e na violência obstétrica»5, de 2019, critica, igualmente, a utilização excessiva e rotineira desta prática

que contraria as recomendações da OMS6, afirmando, a título de exemplo, que a «episiotomia é utilizada em

30% das mulheres que fazem o parto vaginal no México, 50% em Itália e até 89% em Espanha», e que «61%

das mulheres em Itália que foram sujeitas a uma episiotomia não receberam informações adequadas e o seu

consentimento informado não foi solicitado.»

Este Relatório menciona, ainda, que esta prática «se desnecessária e/ou feita sem consentimento informado,

2 Cfr. Experiências de Parto em Portugal – 2.ª Edição, da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, que pode ser consultado em https://associacaogravidezeparto.pt/campanhas-e-eventos/inquerito-experiencias-de-parto-em-portugal-2-a-edicao/ 3 Cfr. Recomendação 39, constante do Relatório Intrapartum care for a positive childbirth experience, publicado em 2018 pela Organização Mundial de Saúde. 4 Cfr. Relatório Primavera 2018, do Observatório português dos sistemas de saúde, que pode ser consultado em http://opss.pt/wp-content/uploads/2018/06/relatorio-primavera-2018.pdf 5 Pode ser consultado em https://digitallibrary.un.org/record/3823698#record-files-collapse-header 6 WHO recommendations Intrapartum care for a positive childbirth experience, pode ser consultada em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272447/WHO-RHR-18.12-eng.pdf