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II SÉRIE-B — NÚMERO 11

A repressão verificou-se até no interior de estabelecimentos comerciais e do quartel dos bombeiros, atingindo à bastonada os presentes.

Soares telefonada Cavaco e Dias Loureiro explica situação.

ANEXO N.° 5

Diário de Notícias, 28 de Dezembro de 1994.

Mário Soares recebe hoje autarca depois das expticaoões 1 de Dias Loureiro

Carga policial volta à Marinha Grande

Em greve há duas semanas, os vidreiros da Manuel Pereira Roldão, na Marinha Grande, chumbaram nova proposta da administração da empresa. As reivindicações e os protestos — carga policial incluída — voltaram à ma.

Forte e feio. Foi assim que a polícia de choque carregou ontem sobre os vidreiros da Manuel Pereira Roldão, populares e jornalistas. Vários feridos, a estrada e a linha férrea do Oeste cortadas marcaram o dia na Marinha Grande.

Mais de 50 jipes, carrinhas e cerca de meio milhar de polícias armados, e numerosos cães, fizeram frente aos vidreiros da fábrica Manuel Pereira Roldão.

Os autarcas pediram à força de intervenção da GNR que não avançasse sobre a população, mas não foram ouvidos. Ninguém foi poupado.

Há casos de marido e mulher a trabalharem na fábrica, há dois meses, sem receber salário. São alguns dos mais dramáticos.

«Eu, quando vi os jipes e as carrinhas da polícia ainda pensei que trouxessem comida, para nos distribuir.» O vidreiro, de mãos nos bolsos, deixou escapar um sorriso tão triste como a sua ironia, enquanto se esquecia do olhar a meio da estrada, onde a polícia de choque «varria» os colegas da M. Pereira Roldão.

O major da GNR, que comandava a força de choque, não hesitava: «Quero tudo para trás, quem ficar aí leva.» De lado, encostados à parede de um café, seis ou sete pessoas, entre os quais jornalistas, observavam a polícia no meio da estrada. Contrariado o major chamou um militar com uma câmara de vídeo. «Filme aquela ala.»

Armando Constâncio, vereador da Marinha Grande, assistia a tudo estupefacto. «Isto é surrealista, o homem tem um comportamento fascista.» Mas não era só o vereador que assistia a tudo espantado. Os residentes no lugar da Amieirinha, onde se registaram os primeiros confrontos, estavam impedidos de se dirigirem às suas casas pela polícia. Nem o empregado da bomba de gasolina escapou. E de nada lhe valeu gritar «Eu trabalho aqui!»

«Houve um foguete que foi atirado para o pé do Corpo de Intervenção, mas nada justifica o que se está a passar», comentava o vereador, que, em vão, havia pedido ao major da GNR para não carregar sobre os trabalhadores. «Pedi-

-Ihe para não avançar, expliquei-lhe que os trabalhadores iam desmobilizar ao fim da tarde e que se não avançassem as pessoas também não avançariam. Foi o mesmo que nada.»

O vereador Constâncio, que com o presidente da autarquia tem acompanhado o processo da luta dos vidreiros, contou aos jornalistas que no diálogo que travou com o comandante distrital da GNR, major Geraldes, onde apelou à calma das forças policiais, este lhe respondeu: «Isto são actos terroristas iguais os que se vivem em Angola, que não se podem tolerar.»

A estrada e a linha férrea do Oeste, que estiveram cortadas pelos trabalhadores vidreiros durante várias horas passaram a estar cortadas pelos próprios agentes da autoridade. Após a primeira incursão da polícia os manifestantes recuaram, primeiro para a rotunda e depois para o centro da Marinha Grande. Foi já dentro da vila que se registaram os maiores confrontos. «A polícia perseguiu as pessoas até dentro dos cafés, batendo, inclusive, nas pessoas que estavam sentadas.»

Soares preocupado

Pelo menos uma dezena de pessoas, entre as quais duas crianças, tiveram de receber tratamento hospitalar, número a que se junta a irmã do próprio vereador Constâncio, que, na noite de segunda-feira, fora atingida com uma bala de borracha numa perna e ficara internada.

Álvaro Órfão, autarca da Marinha Grande, telefonou ontem ao Presidente da República, dando-lhe conta das suas preocupações. O autarca, soube o DN, será hoje recebido por Mário Soares, a quem transmitirá, pessoalmente, a sua proposta para a resolução deste conflito. Depois do contacto de Álvaro órfão, Mário Soares falou com o Primeiro--Ministro, que, a despeito de não estar ao corrente da situação, acabou por pedir ao Ministro Dias Loureiro que informasse, rapidamente, o Presidente da República sobre o evoluir dos acontecimentos na Marinha Grande. Após a audiência com Soares, o autarca encontrar-se-á com o Ministro Dias Loureiro.

A CGTP-IN fez saber que o seu coordenador, Manuel Carvalho da Silva, intervém amanhã na manifestação dos vidreiros da Pereira Roldão, convocada para o centro da Marinha Grande. — Paula Sanchez com João Figueira.

ANEXO N." 6

Público, 28 de Dezembro de 1994.

Marinha Grande: Soares falou com Cavaco e recebe hoje presidente da Câmara

Mário Soares recebe hoje o presidente da Câmara da Marinha Grande, Álvaro órfão, que lhe vai apresentar pessoalmente o seu protesto pelos incidentes que ontem envolveram forças policiais e trabalhadores da firma Manuel Pereira Roldão. O Presidente da República falou ontem com o Primeiro-Ministro e com o Ministro da Administração Interna, na sequência dum telefonema do mesmo autarca, e apesar das explicações de Dias Loureiro sobre os acontecimentos o PR decidiu conceder hoje a audiência que lhe foi solicitada.

Depois da conversa com o autarca, Soares telefonou a Cavaco que lhe disse não estar a par dos acontecimentos, mas se disponibilizou para pôr o ministro que tutela as polícias em contacto com o Presidente. Dias Loureiro falou de seguida para Belém, mas as teses do Ministro entravam em contradição com as do presidente da Câmara, e Mário Soares aguarda pela conversa mais detalhada que hoje decorrerá na Presidência para esclarecer o que se passou.

Segundo fontes sindicais, mais de quatro centenas de agentes das forças de intervenção da PSP e da GNR investiram ontem sobre populares e trabalhadores da vidreira Manuel Pereira Roldão, perseguindo-os, a partir das 18 horas e 30 minutos, pelas ruas da Marinha Grande. A investida