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2 | II Série B - Número: 019 | 27 de Janeiro de 2007

VOTO N.º 84/X DE PESAR PELA MORTE DO PROFESSOR ANTÓNIO HENRIQUE DE OLIVEIRA MARQUES

O Professor Doutor António Henrique de Oliveira Marques foi um dos mais prestigiosos historiadores portugueses do século XX. Licenciado em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se tornou docente, destacou-se durante a crise académica de 1962 pelo apoio que prestou à luta estudantil daquele ano. Essas e outras atitudes de desassombro cívico e político valeram-lhe ser demitido da universidade pelo governo da ditadura em 1965.
Forçado a auto-exilar-se naquele ano nos Estados Unidos, aí vai fazer boa parte da sua obra, leccionando nas Universidades de Alburne, Florida, Columbia, Nova Iorque, Minesotta e Chicago. Doutora-se em História nos EUA e regressa a Portugal após a Revolução de Abril de 1974.
É director da Biblioteca Nacional entre Outubro de 1974 e Abril de 1976, aí iniciando um longo projecto de renovação. Em Julho deste ano preside à comissão instaladora da Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e funda o Departamento de História dessa Faculdade. Foi Presidente do Conselho Científico da Faculdade Ciências Sociais e Humanas, entre 1981 e 1986, cria o primeiro Mestrado de História Contemporânea das universidades portuguesas em 1983 e é o primeiro presidente do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova, em 1990. Maçon na clandestinidade, desde antes do 25 de Abril, Oliveira Marques é eleito Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente Lusitano, entre 1984 e 1986. Em 1998, recebe das mãos do Presidente da República o colar da Grã Cruz da Ordem da Liberdade.
Consagrado há muito como eminente medievalista, após a implantação da democracia, o Professor Oliveira Marques constrói uma obra de verdadeira referência em matéria de História Contemporânea, designadamente nos domínios da História da I República e da Maçonaria Portuguesa, mas também contribuindo para o arranque dos novos estudos académicos e da historiografia sobre o Estado Novo. Oliveira Marques é autor de uma obra pujante e em muitos aspectos incontornável, onde figuram mais de 60 trabalhos publicados e na qual continuava a labutar afincadamente quando a morte o surpreendeu.
A Assembleia da República curva-se perante a memória do cidadão, do historiador de vulto e do homem de cultura apresentando à sua família, à Universidade Nova de Lisboa e à comunidade científica em geral os seus pêsames.

Assembleia da República, 25 de Janeiro de 2007.
Os Deputados: Fernando Rosas (BE) — Alberto Martins (PS) — Manuel Maria Carrilho (PS) — Bernardino Soares (PCP) — Luís Fazenda (BE) — António Montalvão Machado (PSD) — Pedro Duarte (PSD) — Teresa Caeiro (CDS-PP) — Nuno Magalhães (CDS-PP) — Pedro Mota Soares (CDS-PP) — Heloísa Apolónia (Os Verdes) — mais duas assinaturas ilegíveis.

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VOTO N.º 85/X DE PESAR PELA MORTE DA ESCRITORA FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

Fiama Hasse Pais Brandão, um nome de primeira linha na cena cultural nacional do nosso tempo: escritora a tempo inteiro, autora de uma obra literária densa e de grande qualidade, trabalhadora dedicada e discreta, Fiama Hasse Pais Brandão, como todos os poetas, morreu antes de tempo. E morreu em silêncio, como em silêncio viveu: os versos do seu poema Elegias Sem Som (1996) poderiam ser o seu epitáfio:

«Nada é tão silencioso como o tempo/, no interior do corpo. Porque ele passa Com um rumor nas pedras que nos cobrem

(...)

Só no interior sem nome do nosso corpo

(...)

o tempo caladamente persegue o sangue que se esvai sem som.

(...)

Sábia não sou. Calei-me porque as memórias minhas e a voz sozinha também pertencem ao Todo em harmonia.
Ainda amo a pátria, feita de lugares, parentes do próximo, e do vento meu semelhante.»