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II SÉRIE-E — NÚMERO 19

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Os dados das áreas ardidas no distrito de Faro, como no resto do continente, são extremamente

influenciados pelos grandes incêndios. O ano de 2003 foi o de maior área ardida no distrito de Faro, com perto

de 60 mil hectares, seguindo a tendência do restante território continental. No entanto, tal simultaneidade não

aconteceu noutros anos, como em 2005 e 2017, em que a área ardida no distrito de Faro foi muito reduzida

enquanto no resto do território atingiu níveis elevados. Essa simultaneidade também não ocorreu nos anos em

que a área ardida no distrito de Faro foi mais elevada, como em 2004, em que arderam no distrito mais de 30

mil hectares, ou no ano de 2012, quando um só incêndio nos concelhos de Tavira e de São Brás de Alportel

consumiu uma área de mais de 20 mil hectares, tendo sido na altura objeto de um relatório específico (Viegas

et. al. 2012).

Esta não coincidência de áreas ardidas elevadas no distrito de Faro e no restante território é

particularmente acentuada no ano de 2018, em que até 15 de setembro o ICNF registava no conjunto do

território continental pouco mais de 38 mil hectares ardidos, dos quais cerca de 27 mil no distrito de Faro

(Figura 2). Acresce que, praticamente, toda a área ardida no distrito correspondeu ao incêndio de Monchique

em análise.

Este enquadramento é importante para compreender que o incêndio de Monchique constituiu a maior

componente da área ardida a nível nacional o que tem, como se verá, consequências importantes que

transparecem na análise que apresentamos.

Convém igualmente identificar do ponto de vista do histórico dos incêndios as componentes associadas

aos matos e aos povoamentos florestais nos espaços florestais percorridos pelos incêndios. Neste caso, a

análise mostra claramente que no distrito de Faro e, particularmente, no incêndio de Monchique, os

povoamentos florestais foram os mais atingidos pelo incêndio, em maior proporção do que sucedeu em anos

anteriores (Figura 3). Os números provisórios do ICNF apontam para cerca de 10 mil hectares de matos e 16

mil hectares de povoamentos florestais ardidos, a que se deverão adicionar cerca de mil hectares de área

agrícola.

Figura 3. Evolução das áreas de matos e de povoamentos florestais ardidos no distrito de Faro. Fonte: estatísticas

ICNF. Registe-se que para 2017 os valores oficiais reportam-se ao período desde o início do ano até 15 de outubro

e em 2018 até 15 de setembro.

Convém ainda registar que na análise do incêndio de Monchique de 2018 se constatou que este percorreu

essencialmente área já consumida em 2003 (em cerca de 80% da sua extensão), o que pressupõe 15 anos de

considerável acumulação de biomassa combustível, sobretudo florestal, sem a adequada gestão. Aliás, o

estudo elaborado na Primavera de 2018 por vários especialistas da Universidade de Lisboa (Turkman et al.

2018, Pinto et al. 2018), considerava já que, devido à acumulação de combustível naquela área, o concelho de

Monchique encabeçava a listagem dos concelhos do país com maior probabilidade de voltar a ser afetado por

um mega incêndio. Uma catástrofe anunciada, portanto.