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10 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

réis em grandes reparações, para o que deveriam ser encorporados na operação financeira que se fizer para completar a nossa rede geral de viação ordinaria a cargo do Estado.

Sr. Presidente: não entrei neste debate por mero capricho, mas por me convencer que as minhas responsabilidades de engenheiro constructor de estradas, durante quasi 18 annos, me obrigavam a entrar neste assunto de alto interesse publico. Construi proximamente 200 kilometms de estradas de 1.ª e 2.ª ordem, e ordenei, como executor immediato, as despesas correspondentes na importancia comprehendida entre 500 e 600:000$000 réis.

Não tenho superior autoridade na materia, mas possuo: a experiencia, de que me vou servir, para mostrar á Camara que as causas do estrago rapido das nossas estradas não se devem procurar só nos maus processos de administração, e no abandono e má direcção da sua conservação. Os actuaes processos de construcção são uma das causas officiaes da pouca duração das estradas ordinarias. Com a reducção ao minimo dos preços unitarios dos trabalhos, são abandonados os mais elementares preceitos da sua execução e empregados os materiaes, que mais perto se encontram, sem a minima preoccupação pela sua qualidade e conveniente applicação.

A Espanha, por exemplo, que não nos pode causar grande inveja pelo esmerado tino administrativo, dá-nos lição proveitosa em construcção de estradas. Perdôe-me o Sr. Pereira de Lima, lá fui viajar ao estrangeiro, mas fui perto e demorei-me pouco tempo, (Risos).

Basta relatar o que se passa com a construcção da faixa de transito; alem da boa qualidade e dimensões da pedra partida, a camada lançada na caixa deve ter uma sufficiente espessura para resistir á compressão o leito do transito. Nos empregamos a espessura de 0m,20 de pedra partida, antes de comprimida, que se reduz a menos de 0m,15 depois d'esta operação.

Francamente, o que ha a esperar da duração de uma camada de empedrado, verdadeiramente pobre e destinado ao mais cruel abandono?... O que se vê por esse país fora... (Apoiados).

Outra causa determinante de destruição do pavimento empedrado é a destruição das bermas ou margens das estradas, que é costume proteger com travessões de pedra grossa; em seguida ao acabamento da plataforma das estradas a macadam. Com effeito, estragadas as bermas, deixa de existir a caixa onde é contido o empedramento e, facilmente, este se desloca lateralmente por não ter já a resistencia que lhe offerecem os prismas de terra, que constituem as bermas, acima do fundo da caixa. Estragada assim a ligação da pedra partida, unica garantia da solidez do pavimento, comprehende-se o que succederá.

Não vou, para evitar puerilidades que cansariam a attenção da Camara, até a critica das operações da mão de obra. da parte das estradas a que acabo de me referir...

Vozes: - Não cansa.

O Orador: - Tambem o delineamento é factor importante da duração das estradas.

Os grandes pendentes do perfil longitudinal, é a largura reduzida da faixa de transito, para vehiculos, podem muito concorrer para o rapido desgaste do empedramento.

Assim, as grandes inclinações dos escoantes de uma estrada ordinaria facilitam o escoamento das aguas pluviaes no sentido longitudinal, quando elle se deve fazer, de preferencia, no transversal, para lhe limitar o trajecto e consequentemente a sua acção arrastadora, que se aggrava com o aumento de velocidade, devida á maior inclinação. D'aqui resulta, haver necessidade de exagerar o abaulamento para contrariar o esgoto longitudinal, o que difficulta o transito, especialmente dos vehiculos automoveis, por causa do phenomeno denominado derrapage, cá falei francês! certamente com aprazimento do Sr. Pereira de Lima, que é um distincto cultor da lingua de Voltaire.

Era o caso de substituir os vehiculos que marcham sobre, um leito existente pelos balões; mas, não sei cousa alguma de aerostatação, apesar do meu illustre collega Pereira de Lima ter faltado num filho illustre da nossa terra, que se occupou da resolução primitiva d'este audacioso problema, e todos conhecemos o nome illustre de Santos Dumont.

Contento-me com a circunstancia de que os aeronautas tambem não sabem onde vão parar dentro da barquinha dos seus balões, pelo menos no estado actual da solução do problema. (Riso).

Sr. Presidente: dizia eu: a pequena largura da faixa de trajecto é tambem uma causa de prejuizos da conservação das estradas, porque os vehiculos são obrigados a seguir sempre os mesmos quites, e nos cruzamentos tem de pisar os terrenos para evitar choques.

Comprehende-se como são, particularmente perigosas as grandes velocidades de marcha dos automoveis, especialmente para os outros vehiculos ordinarios.
Para isso é um erro attribuir aos automoveis funcção economica, que pertence aos caminhos de ferro actuaes.

(Interrupção do Sr. Pereira de Lima, confirmando o contrario.)

Só se elle marcharem leito proprio; de outra maneira só quem andar de automovel pode transitar pelas estradas ordinarias.

Ora em leito proprio já elles não teem exploração economica.

Tambem os vehiculos de transporte são grandes agentes de destruição dos empedramentos, pela circunstancia do maior numero, ter apenas 2 rodas e as chapas de trilho d'estas serem muito estreitas.

Uma grande carga, alem do peso bruto do carro, pelo contacto inferior de um só par de rodas, transmitte uma energica pressão, concentrada, sobre o empredramento, a qual determina grande attrito desgastador da aggregação dos materiaes, durante a marcha do vehiculo, alem da acção de esmagamento dos materiaes.

Não é fácil evitar este mal, porque não estando completa á rede deviação publica, seria uma crueldade exigir grandes larguras de chapas de trilho, que tornaria impossivel a rodagem sobre o terreno natural, pelo menos aos vehiculos tirados por uma só parelha.

A acção cortante que o aro estreito da roda tem nos empedramentos não deixa certamente de se exercer sobre o terreno natural, quando elle está encharcado, mas tambem se exerce no sentido da marcha, facilitando-a, o que não poderia succeder com os aros largos, carregados de lama entre os raios, que dão ás rodas a funcção de elevadores (ou alcatruzes), a não ser que se aumentasse o numero de parelhas de animaes de tracção.

É claro que as causas apontadas da destruição das estradas podem e devem ser dominadas pela boa conservação e que, quando esta não existe, a principal causa, reside nessa má circunstancia.

Attribue-se, muitas vezes, a má conservação á negligencia do pessoal permanente.

Assim será; mas não devemos perder de vista que a absorção superior doe serviços publicos, privando os chefes executores de toda a iniciativa, atrofia a iniciativa de quem está ao pé do logar onde as cousas se fazem.

Ouvi dizer ao nobre Ministro das Obras Publicas, na sessão de hontem, que vae dar mais largas attribuições aos engenheiros directores das obras publicas dos districtos administrativos, exigindo-lhes a correspondente responsabilidade.

Virá, então, uma nova epoca de bom senso e de verdadeira utilidade pratica. O imperio da manga de alpaca deve acabar. (Muitos apoiados).