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SESSÃO N.° 48 DE 28 DE ABRIL DE 1903 473

dos pelo Digno Par o Sr. Conde de Lavradio, de se ir agora, e em tres annos, aumentar o quadro dos segundos tenentes em mais de 70 officiaes. Para os admittir, argumentava-se dizendo que, como se lhes não abonava subsidio, não havia aumento de despesa, e deixou-se que se habilitassem mais do que os precisos; o aumento de despesa, e não pequena, apparece agora, e com o prospecto da quasi duplicação do quadro dos segundos tenente. Mas emfim são estes os nossos habitos, e o jubileu ahi está a receber mais uma vez a sua consagração definitiva. (Apoiados).

Vem agora a analyse do que se passa com o material naval e que o acaso da gerencia d'elle, orador, como inspector do Arsenal lhe proporcionou o triste dever de conhecer.

Está para pagar a ultima prestação do couraçado Vasco da Gama.

Para isso estão mencionados no orçamento 80 contos de réis. Pode ser que chegue; mas elle, orador, crê que nem para metade.

O proprio couraçado Vasco da Gama, que ainda não está completo, já fez uma requisição para o arsenal-um escaler. Este navio deve vir concertado de Livorno mas ainda cá não chegou e já contribue para gastar averba dos concertos e reparações consignada no orçamento do nosso arsenal.

O proprio cruzador D. Carlos, barco magnifico e que pode ser considerado como modelo em todas as marinhas, tambem tem feito despesas ao arsenal em cousas pequenas, meadas, mas que, como elle, orador, sabe perfeitamente, pois todos os dias lida com as contas, representam uma despesa importante, o que elle, orador, diz sem querer por forma alguma censurar o seu digno commandante, que é um official que só deseja exercer dignamente as suas funcções, mas para demonstrar que mesmo os navios mais perfeitos não deixam de ter todos os dias necessidade de reparações, e dos commandantes desejarem que nelles se façam alterações e melhoramentos.

Esta ordem de considerações leva-o ainda a dizer, em honra do nosso arsenal e dos operarios que ali trabalham, que é injusta e infundada a fama que se lhe cria de nada produzir ou de importar carissimo qualquer trabalho ali feito.

Nós vemos que se manda fazer um navio lá fora, mas não consideramos que, se parece sair barato, elle não traz, por assim dizer, mais do que casco e machina, pois que as restantes minudencias não convem ao industrial fazê-las; avolumariam o custo e e não lhe dariam interesse.

Custam dinheiro; e cá está o nosso arsenal para as executar depois.

Diz-se mal do D. Amelia, que criou má fama depois que a seu bordo foram alguns reporters, por occasião da viagem de Suas Majestades aos Açores, e que se não deram bem; mas não ha razão para depreciar esse navio.

Ha um proverbio francês que diz, applicado aos navios: Marcheur, rouleur, o que demonstra não admirar que o referido cruzador balouce um pouco; mas tem provado a sua estabilidade, e ainda ha pouco se viu, quando se retirou El Rei de Inglaterra, e que era preciso marchar a 20 milhas. É o D. Amelia marchou a 20 milhas.

Ora este mesmo navio não se acha em serviço de estação, onde ha muito devia estar e é bem preciso.

E porque? Porque precisa de material para uma pequena modificação no leme; e, como esse material custa 850 francos, ainda não se mandou vir de fora!

O cruzador Adamastor teve de soffrer - como todos os navios de todas as marinhas ao fim de cinco annos de trabalho incessante - uma larga reparação. Este cruzador esteve cinco ou seis meses sem poder fazer uma beneficiação nos paioes, de que' carecia, porque não havia verba para adquirir 200 kilogrammas de zarcão ou, pelo menos, não convinha gastá-la. O mesmo succedeu quando foram necessarios novos tubos para o condensador, porque os que existiam estavam inutilizados pelo uso.

Os torpedeiros precisam todos caldeiras novas, estão impossibilitados de servir.

Os cruzadores S. Rafael e S. Gabriel não estão tambem em condições de servir: o primeiro, antes de 4 meses de reparações; o segundo antes de 7 ou 8; tendo o S. Gabriel de conservar se no dique durante 6 meses, para reparar o fundo, trabalho que terá de ter uma execução difficilima e que representará um esforço violentissimo para os que o executarem.

As canhoneiras Zambeze e Rio Lima tambem precisam de um largo con certo, o que por igual succede, ao rebocador Lidador.

Com respeito aos vapores do Arsenal é quasi perigoso andar nelles. As caldeiras teem 18 a 20 annos de serviço. Todos os dias é preciso accendê-las porque não se pode dispensar o serviço d'aquelles vapores e não ha outros que os substituam.

A ponte da cábrea precisa uma larga reparação.

As officinas do Arsenal estão por fazer. A officina das machinas tem uma parte a descoberto, de maneira que os operarios, muitas vezes trabalham á chuva e os apparelhos ali existentes - alguns de alto valor-estão sujeitos a inutilizar-se.

Pois das verbas destinadas a estes concertos, das quantias necessarias para estes melhoramentos, d'esta penuria é que tem de sair a importancia necessaria para satisfazer aos encargos de uma Escola Naval com todas as installações apropriadas ás exigencias do ensino e do internato.

E para tudo isto nem sequer se permittiu que os pobres rapazes conservem umas guigas que compraram á sua custa, não só para se divertirem, mas para aprenderem a remar, que o Governo lhe não proporciona meios de saber; para poderem, habilitar-no no gosto cio sport nautico, em que parece mais natural que aspirantes de marinha se empreguem, do que no lawntenis e no foot-ball do futuro internato.

Elle, orador, tem descrito a largos traços o estado dos nossos navios e não se refere agora ao estado dos que estão no ultramar porque estamos numa sessão publica. Mas se ella fosse reservada a Camara ouviria surpresas, que não quer manifestar em publico, porque antes de tudo é português.

Dirá mais uma vez á Camara que não tem ambições politicas e fala, portanto, desassombradamente, sem o intuito de produzir effeitos parlamentares, mas com a firme e sincera vontade de dizer a verdade, e só a verdade.

Por demais tem cansado a assembleia á qual faz os seus protestos de gratidão pela maneira amavel como o tem escutado.

Não deseja, porem, terminar sem ler o additamento ao artigo 76.°, que vae mandar para a mesa e é o seguinte.

(Leu}.

Como a Camara vê não é uma proposta de caracter politico, é uma proposta que nem sequer ataca o projecto.

Elle, orador, não quer ter as honras de infalivel porque pude enganar-se na analyse do projecto; mas o que não pode enganar-se é na despesa que elle traz.

Suppunha que, depois da approvação do convenio que dizia que vinha liquidar as nossas finanças, não se trabalharia para abrir uma nova fallencia.

Não pode pois acreditar que a Camara dos Pares queira autorizar com o seu voto uma despesa que não conhece e cem se convencer de que o serviço que se vae criar corresponde á despesa que se vae fazer.

Não terminará tambem sem lembrar que se a alliança inglesa trouxe para nós vantagens internacionaes de um altissimo alcance, nos trouxe tambem encargos que um dever de honra nos manda cumprir. O primeiro d'esses encargos, aquelle que concorda com todas as theorias que ha poucas sessões aqui se definiram nas Camaras de defesa movei e defesa permanente, é a