O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

17 DE SETEMBRO DE 1975 1339

Entretanto, tanto a casa Pequito Rebelo como José Lobato tinham já preconizado os refugos em relação à vacada e rebanho. Em relação a este último, os trabalhadores chegam a acordo e do resultado da venda sabe-se que o dinheiro foi depositado em nome do José Lobato e da comissão de trabalhadores. Mas em relação à vacada o caso foi mais difícil, tendo-se concluído em fazer a sua entrega à Junta de Intendência e Pecuária, que, no entanto, passados dois meses sobre o assunto, ainda não tinha levantado o gado. Devido a esta demora, longa, decide um grupo de três ocupantes deslocar-se ao Crato, onde decorria uma feira, para vender os animais a intermediários. Sabe-se que estes ofereceram um preço irrisório pelo gado e que daí até se começar a comentar tal venda (dizendo-se que tais vacas eram roubadas) foi um segundo.
Gerou-se um clima de efervescência, que levou os populares presentes a meterem o gado em causa numa camioneta para o levar de retorno à Quinta da Margalha (propriedade do citado latifundiário, Pequito Rebelo).
Mas não ficou por aqui o levantamento popular e assim decidem ir à propriedade ocupada e levar o resto do gado para a mesma quinta. Por esta ocasião, começa-se a comentar o caso na rádio, dizendo-se que grupos de reaccionários levaram a população a efectuar tal acto. O comentário da rádio baseava-se num comunicado da Intersindical.
Entretanto, e fazendo-se jus ao comunicado referido, começa a dar-se começo a uma mobilização de populares das zonas de Avis, Boavista, Ponte de Sor, chegando-se mesmo a referir a presença de pessoas do Baixo Alentejo, com o objectivo de se ir buscar o gado levado da propriedade .ocupada para a quinta referida.
A população de Gavião, onde fica situada a referida quinta, decide que tal não está certo, optando por fazer frente aos que aí se deslocavam, barricando-se à volta da vila de Gavião. Embora pareça terem-se dado alguns tiros para acalmar os ânimos, não há dúvida de que foi a presença das forças armadas que evitou o confronto gravíssimo que se daria de populares contra populares, trabalhadores contra trabalhadores.
Os ânimos acalmaram-se porque, e também, as forças armadas decidiram trazer o gado para Portalegre e aí, com representantes próprios, do Governo Civil, do povo de Gavião, da comissão de trabalhadores, analisaram o destino a dar aos animais.
Entretanto, de notar que o povo de Gavião, ao decidir barricar-se, foi também por sentir que o gado que agora ali estava garantiria trabalho à população local e que sem ele seriam mais alguns desempregados a juntar a tantos que existem por esse País fora.
O problema não fica, no entanto, por aqui. Em Portalegre, durante o dia de ontem, começam a aparecer grupos que a pouco e pouco organizam uma manifestação para contestar o governador civil como sendo o responsável pelo facto, acabando por, em clima de verdadeira efervescência popular, em que as FA tiveram de utilizar gases lacrimogéneos, exigir que fosse emitido um comunicado a desmentir a Intersindical e a repor o problema tal como se passou e que o referido governador pedisse imediatamente a sua demissão. Entretanto, começou a pensar-se em assaltos a sedes do PCP e MDP .e neste momento, Sr. . Presidente e Srs. Deputados, eu, que leio estas linhas, não sei ainda qual a solução do problema focado. Sei que a situação é gravíssima. Sei que á confrontação é iminente. Aqui até abro um parênteses em relação aos órgãos da informação, principalmente à rádio, que poderão desempenhar, agora sim, um papel importantíssimo ao serviço da Revolução, para que, em meu nome pessoal, apelem para a serenidade dos Portalegrenses para que não degenere em conflito aquilo que está eminente neste Momento.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Não posso é ficar indiferente em relação a mais um caso de levantamento popular, cujas causas remontam ao sentido de justiça da população do meu distrito, que tem assistido, passivamente, a ocupações de que, na maior parte dos casos, discorda. Contrariamente às instruções enviadas pelo Governo anterior, em que as ocupações se justificariam nos casos de sabotagem económica, do não pagamento de salários e por subaproveitamento, a verdade é que muitos casos de ocupações não são abrangidos pelos aspectos mencionados. Sabe-se quais os partidos que estão por trás das ocupações, mas não posso deixar de mencionar o Conselho da Reforma Agrária no meu distrito como um dos responsáveis pelo que se vai passando.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tem sido de total fantasia revolucionária o que se passa com aquele Conselho. São as ocupações que não se justificam. São as promessas aos trabalhadores ocupantes. É a política de total inconsequência realista que só se justifica pelo desenraizamento em relação aos problemas locais, para não dizer até incompetências.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Do dinheiro que existe no referido Conselho para servir de fundo de ajuda na agricultura fazem-se empréstimos quase sem garantias de qualquer espécie, que acabam por não servir de investimentos agrícolas, mas tão-só para pagar salários a trabalhadores rurais, que, nalguns casos, já não os recebiam há semanas.
Membros do Conselho da Reforma Agrária fazem de vez em quando visitas às propriedades ocupadas para indagar das necessidades dos trabalhadores, mas sabe-se antecipadamente de que, por mais que diga que os trabalhadores necessitam de máquinas, de técnicos, de produtos, a resposta será o silêncio, porque, afinal, o que se pretendeu foi dar a ideia de que essas necessidades iam ser resolvidas e deste modo aguentar uma situação que se revela dia a dia cada vez mais trágica e desastrosa.
Quando se sabe que alguns dos elementos do Conselho da Reforma Agrária actuam depois das horas de expediente de terra em terra, seduzindo os trabalhadores, que não desejam as ocupações, para as mesmas se realizarem em conjunto com «outros», sempre minoritários, poder-se-á ter uma perspectiva de que, mais do que estar com os trabalhadores, o que está em causa é uma ideologia política que tem de se impor seja lá como for.