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30 DE JUNHO DE 2012

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«Júlio Augusto Morais Montalvão Machado foi uma figura de projeção nacional, com um percurso de vida a

todos os níveis exemplar.

A componente política, vivida com empenho e verticalidade, foi, sem dúvida, a que lhe deu maior projeção.

A figura do pai, juiz de Direito, terá contribuído para tal, na medida em que foi uma figura destacada da 1.ª

República. Seguindo-lhe o exemplo, Montalvão Machado, já no Liceu Rodrigues de Freitas, no Porto, onde

concluiu o ensino secundário, era um elemento ativo do Movimento de Unidade Democrática Juvenil, uma

frente de combate à política seguida por Salazar. Esse mesmo espírito acompanhou-o no meio universitário,

enquanto estudou na Universidade do Porto e se especializou em Oftalmologia, em 1957. A campanha para a

eleição do general Humberto Delgado foi um momento privilegiado para o povo português manifestar o seu

descontentamento e Montalvão Machado destacou-se nessa jornada, o que lhe valeu a prisão pela PIDE.

Como sempre acontecia, as represálias a nível profissional não perderam pela demora: foi-lhe proibida a

nomeação para o cargo de médico do Hospital de Chaves, onde tinha exercido a profissão; mais tarde, em

1973/74, foi enviado para a Guiné como médico oftalmologista, quando já contava 45 anos de idade.

O rótulo de opositor e as consequências negativas que daí advinham não o intimidaram na sua ação cívica

e política. No momento oportuno, ou seja, na brecha temporária que foi aberta pelo regime, ao permitir que a

oposição concorresse às eleições de 1969, Montalvão Machado voltou a marcar presença, integrando a lista

dos Deputados da oposição, pelo distrito de Vila Real. Conhecido e considerado nos círculos que procuravam

uma alternativa ao regime ditatorial, foi convidado para integrar a chamada «ala liberal» da Assembleia

Nacional, mas, fiel aos seus ideais, e com a coragem de sempre, rejeitou o convite. Optou por continuar a

trabalhar no seu distrito trasmontano, divulgando os ideais democráticos e ajudando muitos opositores a

fugirem clandestinamente pela fronteira.

A queda de Salazar, as eleições de 1969 e 1973, o avolumar das contradições no seio da sociedade

portuguesa, com destaque para a Guerra Colonial, abriram novas perspetivas de luta. Neste contexto se

fundou a Acção Socialista Portuguesa, antecessora do Partido Socialista, tendo sido membro fundador de

ambos.

O seu percurso político no regime democrático foi feito como militante do Partido Socialista, ocupando

vários cargos de destaque, quer na comissão nacional, quer na comissão política. A ligação ao distrito de Vila

Real continuou a manter-se, através de cargos na direção partidária, acabando por ser nomeado Presidente

Honorário da Federação Distrital do PS de Vila Real.

Pelo seu perfil e pelo seu passado, fez parte do rol dos democratas que substituíram os antigos

governadores civis. Coube-lhe, naturalmente, o distrito de Vila Real, de que foi Governador Civil em 1974 e

1975. Tomou parte ativa na instalação do Instituto Politécnico de Vila Real, criou o Arquivo Distrital e dirigiu o

plano de colaboração para a saúde, entre Portugal e a Noruega.

No concelho de Chaves, pertenceu à assembleia municipal, desde as primeiras eleições autárquicas, tendo

sido eleito presidente da mesma, entre 1993 e 2001.

Foi eleito Deputado pelo distrito de Vila Real, tendo exercido as funções em 1979 e 1980.

Foi ainda mandatário distrital da candidatura de Mário Soares à Presidência da República, em 1991, e

mandatário concelhio da candidatura de Jorge Sampaio, também à Presidência da República.

A sua vida profissional, como médico oftalmologista, foi exercida no Hospital de Chaves, tendo entrado

para a carreira médica hospitalar em 1982, tornando-se diretor do mesmo hospital entre 1986 e 1988.

A forte ligação à terra e o gosto pela escrita e pela investigação, levaram-no a escrever e a publicar a

Crónica da vila velha de Chaves, A República em Chaves, a história dos Defensores de Chaves, a vida de

António Granjo, entre outros. Estes trabalhos levaram a que fosse aceite como membro da Academia

Portuguesa de História.

O cidadão Montalvão Machado, nascido a 27 de julho de 1928, na freguesia de São Pedro, no concelho de

Vila Real, e falecido a 25 de junho de 2012, foi uma figura incontornável da vida política portuguesa. Sempre

se intitulou como republicano e antifascista, proclamando e vivendo permanentemente os ideais democráticos.

Por todo o seu percurso recebeu o título honorífico de Comendador da Ordem da Liberdade.

É, pois, com grande consternação que o Partido Socialista apresenta à Assembleia da República este voto

de pesar pela sua morte e endereça a toda a família e amigos as sentidas e sinceras condolências».

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto que acabou de ser lido.

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