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cos, para conseguir a perfeição. Jesus christo expressamente o declarou - Estote perfecti - dissemos sim, que a absoluta continencia he um estado mais perfeito, e o Concilio Tridentino expressamente o declarou; porem isto o que significa he, que o que professa este estado está mais livre dos cuidados terrenos, e em consequencia mais facilmente póde conseguir a perfeição, a que todos sem distincção são obrigados a aspirar. Forem como o estado da absoluta continencia não he o unico meio de conseguir a perfeição; por isso não estão todos obrigados a abraçala, e até não a deve abraçar o que, conhecer que não póde ser continente; isto mesmo intima o Apostolo - qui se non continent nubani, melius enim est nulere quam uri - ficando porem no estado do matrimonio estreitamente obrigado afazer todos os esforços para conseguir a perfeição pois, como já adverti, a perfeição não está nos estados ou conselhos, mas sim na caridade, a qual em todos os estados estamos obrigados a trabalhar por alcançala, posto que em uns estados se encontrem mais trabalhos, e dificuldades que em outros.

Estão por tanto descobertas as justissimas, e solidissimas razões, em que se fundou o Concilio Tridentino, para declarar, que o estado do celibato he mais perfeito que o estado do matrimonio. Reconheço que estas reflexões são mui alheias do assumpto, que está em discussão; porém como o illustre Preopinante attentou trocelo para o lado theologico, eu faria traição ao meu ministerio se não procurasse desembrulhar as idéas pouco exactas, que estão envolvidas nas sobreditas proposições.

Examinando agora o objecto da moção pelo lado politico, e economico; não posso deixar de advertir, que seria mais util, para se conseguir o fim que o seu illustre autor teve em vista, propôr um projecto, que se dirigisse a destruir a opinião, que certas classes de cidadãos formão das necessidades, que não são necessidades reaes; mas que elles considerão como taes. A doutrina sustentada pelo illustre autor da moção tem patronos muito illustrados, mas quasi todos os economistas modernos demonstrão, que a multiplicação dos matrimonios está na razão dos meios da subsistencia, e das necessidades. Por tanto o unico meio de multiplicar os cidadãos he augmentar, ou para melhor dizer, deixar augmentar a riqueza nacional. Observa-se que na classe dos trabalhadores são mui frequentes os matrimonios. A razão he clara, he porque a multiplicação das classes productoras não he limitada se não pelas necessidades reaes, e a das classes não produtoras he limitada pelas necessidades facticias, e de convenção. Não queiramos senhores contranger os homens até nos seus arranjos domesticos, e principalmente na que não póde agradar senão debaixo dos auspicios da liberdade. Deixemos viver os homens segundo o calculo, que cada um tiver formado sobre o que melhor lhe convem. Excluir um cidadão descargos publicos, por viver no celibato, he violar os principios sobre as penas, e recompensas; he castigar um homem, porque he infeliz, ou he previdente; he corromper o matrimonio com vistas politicas e mercenarias: não empreguemos recompensas, nem ameaças, para obrigar os homens ao matrimonio como fez Augusto. Os seus regulamentos merecerão he verdade os elogios de alguns escriptores, entre os quaes Montesquie a tem o primeiro lugar; porem o mesmo Montesquieu confessa que aquelles regulamentos não produzirão o effeito que o seu autor teve em vista. Em uma palavra façamos os cidadãos felizes, e então poderemos confiar na natureza.

O senhor Bispo de Castello Branco: - Apoio o parecer do excellentissimo Deputado no que respeita á intelligencia da doutrina de S. Paulo. Este Apostolo deixa em perfeita liberdade aos fieis na escolha de estado contra a falsa persuasão de alguns hereges, fanaticos, que se presuadião que para ser perfeito christão era necessario ser celibatario; e he por isso que o Apostolo recomenda aos que se não podem conter, que se cazem, porque he melhor do que delinquir na concupicencia - melius est nubere quam uri - o mesmo Apostolo dá a preferencia ao estado de celibato sobre o estado de matrimonio nas palavras - Beatior autenient si six permanserit secundum meum consilium; puto autem quod ego spiritum Dei habeam. He fundada neste principio da palavra divina que a igreja deffiniu no Concilio de Trento que o estado do celibato he mais perfeito que o estado de matrimonio; toda está doutrina he dirigida aos que se dedicão ao serviço da igreja, e ao culto divino. Eu a julgo impropria deste lugar, e desta augusta Assemblea, porque nella se trata unicamente dos empregos civis, a respeito dos quaes he da sua competencia legislar sobre o estado que he mais conveniente para os mesmos empregos, ao que se não oppõe as leis da igreja, as quaes serão sempre observadas por este augusta Congresso, que tem proclamado respeitar a Santa Religião.

Promover os matrimonios na sociedade, julgo seu um bem para a mesma sociedade; mas presuado-me que só se deve fazer por meios indirectos, especialmente nos povos que se empregão na agricultura, por ser cousa observada que entre esses, que tem costumes mais simples, e abundancia de bens, são frequentes os casamentos: e que da preferencia dos casados para empregos temporarios, não póde resultar a utilidade que se figura no projecto de additamento ao §. 13 da Constituição.

O senhor Borges Carneiro: - Como eu fui taxado de herege, e eu me tenho por muito catholico, tenho que dizer alguma cousa sobre as palavras do Apostolo Oportet.

O senhor Presidente: - Não he essa agora a questão.

O senhor Borges Carneiro: - Eu fui atacado, devo defender-me.

O senhor Castello Branco: - Senhor Presidente deve dar licença para falar. O senhor Borges Carneiro deve defender-se.

O senhor Borges Carneiro: - O Apostolo S. Paulo diz: "Que he conveniente, que será muito bom que o Bispo tenha uma mulher só, que tenha dado prova de que governa bem a sua casa, e tenha seus filhos bem creados." Não manda isto, mas diz que he muito bom! Chama ao matrimonio muito grande! Diz: "Que não aconselha a conti-