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em Concelhos superiores a um certo numero de fogos, onde seja por isso necessario dividir os Cidadãos em mais de uma Assemblea para commodidade delles; mas isto de modo que se deixe recurso das decisões que ordenarem a divisão, e não se deixe nunca mais ao arbitrio das Commissões de Recenseamento a faculdade de poderem privar povoações inteiras do exercicio de direitos importantissimos, só porque os fazem ir votar a uma immensa distancia, contra os seus habitos, contra as suas relações, possibilidades, e meios, porque é antigo ditado quem vai para uma jornada deve preparar-se para ella, e não tem ás vezes os mesmos meios para comer fóra de casa que tem em sua casa.

Sr. Presidente, dizia eu que julgava que a eleição tinha sido viciada na sua origem por falla de verdade, e de liberdade, não só porque as disposições do Decreto Eleitoral tinham sido tomadas de modo que assegurasse ao Governo a sua influencia decisiva no resultado da eleição, como tenho mostrado pelas razões que ate aqui ponderei; mas porque era notorio, irrecusavel e provado que o Governo tinha por via dos seus Agentes e directamente exercido — uma intervenção illegal, criminosa, e violenta na eleição. Será isto verdade?.. Duvida-lo-ha a Junta?... Sr. Presidente, appello em primeiro logar para o testimunho quasi unanime de toda a Imprensa periodica que a respeito de todo o Reino, e de todos os Circulos Eleitoraes expoz mais ou menos uma serie de factos que comprovam cabalmente o que deixo dito, sendo notavel que nem deixou de acompanhar este accôrdo de censura unanime, um Jornal que por muitas vezes e em muitas occasiões tem dado o seu apoio ao Governo, que em repetidas occasiões habitualmente, e por via de regra lhe tem sido mais favoravel que hostil; mas não me contento só com esta notoriedade, accrescem arei e sujeitarei á consideração da Junta um facto novo e da maior excepção que prova até que ponto as Auctoridades Administrativas Superiores dos Districtos exerceram esta influencia por modo inaudito, indecente e exorbitante, tractarei de chamar a attenção da Junta para o officio do Secretario Geral do Governo Civil do Districto de Aveiro pedindo a sua demissão em officio publico a porque não queria tomar parte na responsabilidade proveniente das tropelias e abusos que estava commettendo o seu Chefe no que dira respeito a eleições — Será suspeita esta Auctoridade?.. Não foi publico este documento.. Foi elle por ventura desmentido?.. Serei eu por ventura que exagere o procedimento irregular da auctoridade!.. Parece-me que ninguem póde pôr em duvida este facto — Deixo á Junta as illações que delle se seguem.

Será verdade que documentos officiaes se expediram para todos os angulos do Paiz e para todas as Repartições Publicas indicando ou indigitando os individuos que deviam ser votados, declarando «que os Empregados Publicos que não seguissem á risca a lista do Governo, que não votassem como lhes indicava o seu Chefe Superior Administrativo haviam ser demittidos?.. Será isto invenção minha?... Peço licença á Junta, para lêr varios documentos que foram publicados — um Jornal publicou o seguinte documento. (Leu)

O Orador leu a Circular de um Administrador de Concelho do Districto de faro, publicada no Jornal a — Lei, e no Patriota.

Foi contradicto por alguem este documento que appareceu publicado nos Jornaes?.. Estarão de accôrdo com elle outros documentos procedentes de outras Repartições Publicas que attestam que isto não é mais que a revelação de um systema e de um plano seguido e exercido_ por todas as Repartições dependentes dos diversos Ministerios?... Ouça a Junta outro documento. (Havia algum sussurro na Sala)

Sr. Presidente, se a Junta não presta attenção ao que eu digo, se isto assim continúa, então eu declaro a v. Ex.ª que cedo da palavra... O Sr. Presidente: — Peço á Junta que preste attenção ao que dizem os Oradores, de contrario não poderá continuar a discussão. (Apoiados)

(O Orador continuando). Visto que se restabeleceu a ordem na Assembléa, vou lêr á Junta um outro documento que é bastante importante, e vem a ser o seguinte (Leu).

O Orador leu a Circular dirigida pelo sub-Inspector Geral dos Correios aos seus subordinados, publicada em differentes Jornaes,

Ora, Sr. Presidente, este documento que é attribuido a um alto Funccionario, cujo caracter é de mim conhecido de ha muito tempo e tem por isso mesmo para mim um valor muito mais subido do que póde ter para com aquelles individuos que o não conhecem; fallo do sub-Inspector Geral dos Correios; todos que conhecem a moderação deste dignissimo Funccionario, o seu constante e illibado procedimento no cumprimento de seus deveres, a alta elevação do seu caracter, o escrupulo da sua consciencia no desempenho das suas obrigações, hão de concluir daqui quão grave foi a acção Ministerial que impellia aquelle Empregado a officiar aos seus Subordinados por um modo que elle nunca empregara em circumstancias similhantes, durante qualquer dos Governos que têem dirigido os negocios publicos, a obrar em fim d'uma maneira por que -nunca procedeu elle, o tomem totalmente estranho a todas as dissensões politicas 1 Não me consta que o Sr. João de Sousa Pinto de Magalhães, nome que deve sempre ser ouvido com respeito em toda a parte e principalmente nesta Casa, (Apoiados) determinasse, que os seus Empregados influissem nas eleições neste ou n'aquelle sentido; que dissesse aos seus Empregados ou lhes desse claramente a intender, que seriam demittidos se não votassem de certo modo, (O Sr. Ministro da Fazenda: — Peço a palavra) que o Governo não estava disposto a tolerar que elles deixassem de ir votar naquelles individuos que o Governo queria que fossem votados para Deputados — é isto o que se collige deste documento, e por aqui avalie a Junta se são ou não verdadeiras as ponderações que fiz de que o Governo constituido em Dictadura, ameaçou tudo, e todos, especialmente aquelles que estavam mais facilmente debaixo do cutello demissorio para que votassem como elle queria? Perguntarei agora, Sr. Presidente, aos Cavalheiros que se sentem do outro lado da Camara — se já se esqueceram dos principios que tantas vezes proclamaram e defenderam? Se estes principios seriam só verdadeiros quando elles foram defendidos naquelles logares em outra época, ou se são ainda verdadeiros hoje.... Se a verdade muda com os tempos e com a posição delles.... Se o que hoje é verdade, é ámanhã falso, e o que hoje é falso é ámanhã verdade?...