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SESSÃO DE 27 DE JANEIRO DE 1885 271

do progressista depois das explicações que o novo governo deu á camara, entendeu que era dever seu tambem, não só dever pessoal, mas dever official, explicar, em termos muito concisos, mas muito claros, quaes os motivos determinantes da queda do partido progressista; e em resumo foram aquelles que já tive a honra de apresentar á camara.

Estas explicações são offciaes e authenticas; estão exaradas nos registos parlamentares, e constam, se a memória me não falha, da sessão de 26 de marco de 1861.

Desde o momento, pois, que o primeiro ministro, o presidente do conselho, julga que não pude com dignidade própria, e com proveito para a causa publica, vencer as dificuldades de momento, se não recompondo o ministério; e desde o momento que esse alvitre é rejeitado pelo monarcha; parece evidente que não póde haver duvidas, porque o caminho a seguir está traçado: é depositar nas mãos do chefe do estado as pastas.

Qualquer outro procedimento, alem de pouco constitucional, seria indigno, porque seria viver á custa de artificios e dissimulações improprias de um governo serio e que representava um partido serio!

Podem discutir-se os motivos, mais ou menos ponderosos, que teve o monarcha para negar a recomposição pedida, mas isso não altera a questão, nem por isso fica menos evidente que o governo progressista caiu - porque a corôa lhe tirou a sua confiança.

Confesso á camara que sinto alguma hesitação em expor alguns factos, que reputo de summa gravidade, de importância capital n'este assumpto; e porque elles são de máxima gravidado, corre-me por isso stricto o dever de expor e referir todas as circumstancias, ainda que pareçam minudencias impertinentes, que determinaram e determinam a minha convicção, que fundamentam os meus juizos n'este ponto.

A moção que passou á historia, e que já tem produzido, talvez, muitas ruinas e desastres, o que não ha de parar ahi nos seus effeitos destruidores, (Apoiados.) foi votada na camara dos dignos pares em 21 de março, no anno da graça de 1881, como se exprimia um dos actuaes ministros.

O partido progressista, como e sabido e já expuz. estava verdadeiramente cercado de dificuldades, porque, às manifestações patrioticas da rua, acrescia a correspondencia, o auxilio e protecção que a camara dos dignos pares dava a essas manifestações. (Apoiados.)

Ensaiaram-se, pois, os meios, que estou longe de condemnar, porque até os reputo constitucionaes.

É evidente que me refiro aos meetings da capital, e para os quaes o partido regenerador e o partido republicano se ligaram, sem hesitações o sem escrupulos.

Fizeram-se, pois, alguns meetinga mas os auctores e cooperadores d'estas manifestações ruidosas, entenderam que as manifestações da capital não eram suficientes para derribar o governo, e resolveram pedir auxilio às provincias do norte.

Seguiram-se no Porto os mesmos processos politicos da capital.

Houve meetings; promoveram-nos os amigos da situação progressista; e promoveram-nos os empenhados em derribal-a.

Nada mais correcto, e nada menos censuravel.

O governo progressista, porém, teimava em não cair, e os agitadores do Porto entenderam que deviam empregar o ultimo esforço, e por isso annunciaram se bem recordo, para 20 de março (1881) meetings temerosos, manifestações verdadeiramente ameaçadoras e imponentes, as quaes simultaneamente se faziam no Porto, Braga e outras terras importantes do norte.

Estas manifestações annunciadas com tanto estrondo e que seriam o golpe decisivo no governo progressista, não se fizeram no dia annunciado, o logo começou a ser publico porque, dizia-se sem reserva, que taes manifestações já se não faziam.

O facto é que essas manifestações se não realisaram.

Desde já devo prevenir a camara, que é possível haver alguma inexactidão, quanto á data dos factos, mas isso em nada altera a essência das cousas, ou póde influir nas consequencias a que desejo chegar.

Annunciados como estavam esses meetingsessas manifestações populares de tanta força para ficar surprehendido pula sua não realisação.

Esta negação traduz-se n'uma affirmação, e convem que tudo se explique.

Os promotores dessas manifestações populares deixaram de continuar na cruzada contra o governo, e abstinham-se da lucta por não acharem cooperadores, por serem abandonado a do povo, que diziam servir, e assim revigorisavam a situação, que pretendiam derribar?

Não e crível, nem verosimil, esta hypothese.

lias se esta hypothese não parece acceitavel, o forçoso descobrir a causa, ou as causas d'este notabilissimo phenomeno politico.

Vejamos se as posso revelar á camara.

Sabe-se qual foi a attitude que tomou a camara dos dignos pares.

O sr. marquez de Ficalho, caracter respeitabilisaimo o a cujas intenções eu presto toda a homenagem, no momento de angustiada dor, elle, que nunca nos lances mais afflictos da sua vida deixou de os encarar de rosto sereno, disse áquella camara, e por consequencia ao paiz, que a situação era tão grave que elle estava cheio de pavor.

A situação do paiz, no parecer do sr. marquez de Ficalho, ao caracter do qual presto inteiro respeito, e do cujas boas e honradas intenções não posso duvidar, era verdadeiramente assustadora: e aquelle nobre titular, que ainda nos trances mais afflictivos e perigosos nunca sentira contrahir-se-lhe um musculo do rosto sereno, disso e proclamou em pleno parlamento que em verdade tinha medo, o não sei se muito medo.

Estas palavras proferidas por um conselheiro doestado, membro da camara dos dignos pares, alto dignitário da coroa, e com residencia mais ou menos permanente no paço de El-Rei, não podiam deixar de ouvir-se, sem que isso causasse a muita gente algumas apprehensões...

Na sessão de 21 de março do 1881 apresentou-se a celebre moção da gravidade das circumstancias, e convém ter sempre presente ao espirito, para apreciação d'este facto político, que as manifestações cessaram, como por encanto, anteriormente a este dia, não obstante serem annunciadas e de antemão apregoadas como as mais imponentes e decisivas.

Porque?

Os jornaes de então, e mais tarde alguns ministeriaes, sendo um d'elles o Jornal da manhã, segundo creio, o se estiver enganado farei qualquer rectificação, disseram que da capital, n'aquelle tempo, tinham ido às províncias do norte emissários do partido regenerador e que esses emissários furam pactuar com alguns dos auctores d'essas manifestações populares paz e quietação, promettendo-lhes que o governo progressista seria demittido na semana
immediata,; que o sr. Fontes não presidiria á nova situação, mas que seria presidida pelo sr. Antonio Rodrigues Sampaio.

Sou naturalmente bisonho, não tenho ares de cortezão ainda- com os meus maiores amigos, e por isso não tive a curiosidade do perguntar aos ministros demissionários, se efectivamente elles tinham ou não sido informados particular ou oficialmente de que as manifestações patrioticas não se tinham realisado no Porto em virtude dos motivos que já expuz.

Não tenho a menor duvida de que essa communicação particular ou official se fez com a devida antecipação a alguns ou algum dos ministros, mas se então não os con-