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486 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tra o direito internacional e contra os principios da humanidade.

Mas supponhamos que, apesar dos nossos esforços, elles cá vinham, o que imporiam? Aquillo que nós espontaneamente vamos offerecer!

Pois isso não acontecerá, sr. presidente, e fico confiado do que não acontecerá, porque estou certo de que o sr. presidente do conselho, chefe de um partido e do governo, quererá na historia ser invocado com saudade e não como o responsavel de um grande desastre nacional. (Apoiados.}

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

(O orador foi muito cumprimentado.}

O sr. Frederico Laranjo: - Requeiro a v. exa. consulte a camara se julga a materia sufficientemente discutida.

Consultada a camara, resolveu affirmativamente.

O sr. Avellar Machado: - Mando para a mesa um requerimento para que sobre o artigo 4.° recáia votação nominal.

Leu-se na mesa.

Consultada a camara, resolveu negativamente.

Foi approvado o artigo e regeitada a moção de ordem do sr. Conde de Burnay e em seguida entrou em discussão o artigo 5.º

O sr. Teixeira de Vasconcellos: - Começa manifestando á camara a sua estranheza pela fórma como foi acolhido o brilhantissimo discurso do sr. Teixeira de Sousa, a que não respondeu ninguem por parte dos illustres membros da maioria discurso, em que o sr. ministro da fazenda foi aggredido, não por uma fórma incorrecta, mas com argumentos e com factos, que não podem ficar sem resposta.

Bem sabe que a discussão já vae longa, mas sabe tambem que, ha muitos annos, no parlamento portuguez se não apresenta um documento tão grave como é que está sujeito ao debate.

A discussão do artigo 5.° é curiosa. Por elle permitte-se o governo fazer aos mandatarios do povo o favor de dar-lhes conta dos actos que praticar na realisação do contrato, derivado da votação do projecto.

O espirito liberal do gabinete não poderá ir mais longe!

Quando o paiz reclamava que o esclarecessem sobre as bases fundamentaes do projecto, o governo respondia-lhe com o silencio completo.

A pergunta insistente que se tem feito por parte da opposição, sobre se o paiz póde contar com recursos para satisfazer os encargos que lhe traz o projecto, o governo respondeu que as negociações pendentes o inhibiam de responder a essa pergunta! D'este modo ficou-se na desagradavel espectativa de ser o novo convenio o instrumento financeiro que ha de trazer dias amarguradissimos de dor e afflicção para aquelles que ainda prezam o futuro do seu paiz.

Causou-lhe dolorosa impressão a sessão de hoje, em que lhe pareceu estar o paiz posto em leilão, quando ouviu dizer que os credores não viriam intervir na administração publica, porque tinhamos as colonias com que podiamos pagar os nossos compromissos!

Depois de muitas outras considerações, em referencia ao emprestimo que se projecta, o orador conclue, pondo em relevo quanto ha de phantastico na idéa de ser possivel reconstituir-se em tres annos a nossa situação, por fórma a adquirirmos os recursos que não temos podido alcançar em cincoenta annos.

(O discurso será publicado na integra, se s. exa. o restituir.)

O sr. Antonio Cabral: - Por pouco tempo occuparei a attenção da camara; a hora vae adiantada, a sessão está prorogada, e afigura-se-me que o assumpto se acha inteiramente discutido.

Sr. presidente, deve causar estranheza a minha ousadia em tomar parte no importante assumpto que se discute; mas se a minha palavra desluzida e frouxa e a minha argumentação, desvaliosa não trazem nova luz á questão que se ventila, têem, pelo menos para mina, a vantagem de me deixar tranquillo commigo mesmo, justificando plenamente o meu voto e cumprindo o meu dever de representante da nação.

O momento e para mim solemne, sr. presidente. Vejo-me aqui pobre de recursos, inexperiente nos debates parlamentares, em frente de um auditorio de elevada inteligencia, de variadissimos conhecimento», e tendo de intervir n'uma questão de alta magnitude e de entrar n'um debate que não é absolutamente da minha, especialidade. Já v. exa. vê que a empreza é temeraria.

Mas, sr. presidente, eu conto com a delicada attenção da camara e com a gentil benevolencia de todos os que me escutam.

Sinto o dever de fallar, de manisfestar a minha opinião, de justificar o meu voto.

Sou novo na politica, sr. presidente, mas trago para ella todo o meu sangue, todos os meus nervos, toda a minha actividade e todos os meus bons desejos de bem servir o meu partido e o meu paiz.

Estou convencido, sr. presidente, que já nossa patria não está ainda inteiramente perdida e que têm elementos para poder recuperar forças e cobrar alentos; para proseguir na esteira gloriosa e brilhantissima iniciada pelos nossos avós. Para isso, é necessario que entremos em vida nova, que sigâmos caminho novo e que abandonemos de vez o velho systema de confiar demasiadamente no dia de amanhã!...

O projecto que agora se discute não resolve, bem sei, toda a questão fazendaria, todo o problema financeiro, mas, pelo menos, tem a altissima vantagem de pôs deixar n'uma situação muito mais desafogada, dando logar a que se restabeleça a confiança em nós e alargando-nos e aplanando-nos a estrada para podermos seguir uma vida nova e um novo rumo. E tanto isto assim é, que a necessidade imperiosa e impreterivel de se fazer a conversão da nossa divida externa, foi reconhecida por todos os partidos, e reconheceu-a inclusivamente o illustre deputado o sr. Dantas Baracho, na sua moção de ordem, quando iniciou a discussão d'este importantissimo projecto.

Se assim é, se todos reconhecem essa necessidade, se todos vêem que o problema fazendario é o que mais nos preoccupa e assoberba, qual a razão por que se não hão de accordar todos os partidos para resolver esse gravissimo problema?

Promettiam-nos os illustres deputados d'aquelle lado da camara a sua collaboração na questão financeira e no projecto da conversão; mas em que consistiu, a collaboração promettida? Consistiu apenas em o sr. Dantas Baracho mandar para a mesa a moção que toda a camara conhece. Mas se essa moção fosse approvada, não se podia de fórma alguma negociar com os credores externos, porque, dependendo o accordo e a conversão da futura; approvação do parlamento, os nossos credores com certeza não quereriam entrar em negociações com o governo, pelo receio de que depois o parlamento viesse revogar aquillo que no accordo se combinasse. Portanto, essa moção foi rejeitada e muitissimo bem rejeitada, nem podia ter sido approvada de modo algum por esta camara, por conter doutrina altamente prejudicial.

Disse-se, por parte da opposição, que não podiam os deputados regeneradores mandar para a mesa emendas ao projecto, porque o governo já estava tratando sobre as bases do projecto que se discute, e podia o accordo com os nossos credores estar já fechado.

Se se está ainda tratando, como a opposição confessa, é evidente que o accordo não está fechado, e por isso podiam e deviam os illustres deputados opposicionistas, não concordando com o projecto, fazer-lhe quaesquer emendas