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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS 547

e o interesse dos compradores, que não são geralmente os mais habilitados para conhecer o toque de uma peça de oiro ou prata.

Tanto esta ultima representação, como a primeira das companhias de seguros, peço que sejam enviadas á commissão de fazenda, e a outra que se lhe dê o conveniente destino.

O sr. Fialho Machado: - Ainda mais uma vez, sr. presidente, me vejo forçado a chamar a attenção da camara e do governo para a minha questão favorita, para a minha questão predilecta, aquella que tanto tenho tomado a peito esclarecer, e que hoje me parece será promptamente resolvida; é ácerca das sydicancias que vou fazer algumas considerações, e oxalá que seja a ultima vez que tenha de me occupar d'este assumpto, pois que se isso acontecer é signal que adquiri o convencimento de que esta camara depois das minhas reiteradas instancias lhe deu emfim a importancia que merece.

Vejo com admiração, sr. presidente, que só por annunciar que vou fallar ácerca das syndicancias, despertei o sorriso de alguns dos meus illustres collegas, sorrisos que não me demovem de continuar no meu proposito, e que talvez denunciam que s. exa. discordam da opinião por mim tantas vezes emittida, de que é esta a questão que com mais cuidado e pressa devera ser tratada pelo parlamento portuguez. Serei muito breve, e tenham paciencia os illustres deputados, dignem-se prestar-me alguma attenção, desculpem-me mesmo esta minha insistencia, porque estou certo que quando terminar hão de reconhecei: que o caso não é para rir, e ficarão convencidos que o assumpto merece ser tratado com toda a seriedade.

Estou resolvido a não fallar mais n'esta questão, emquanto não poder vir aqui com todo o desassombro e franqueza dizer ao meu paiz quaes as irregularidades e faltas que se têem commettido na administração dos negocios publicos, e o que de abusivo se tem praticado nos differentes ramos de serviço; entendo que é esta a minha obrigação desde que acceitei o honroso mas difficil encargo que a camara me confiou, nomeando-me membro de commissão parlamentar de syndicancias, e que diligenciarei cumprir o melhor que podér e souber. (Apoiados.)

E não faria hoje uma excepção, a não serem erradas apreciações que do meu procedimento se têem feito.

O assumpto que tenho em vista ferir bem, e que se liga intimamente com a questão dos inqueritos, reputo-o de tal importancia, que seria prejudicialissimo não o esclarecer de momento. (Apoiados.)

Creio que v. exa. e toda a camara têem conhecimento que nalguns jornaes da capital se tem ultimamente diligenciado insinuar a idéa, de que o não estarem ainda publicados todos os relatorios das syndicancias, é devido a haver alguem que, pela posição elevada em que se acha collocado, tem tido meios de o impedir; dando assim logar a que o publico possa suspeitar que o grande desfalque que consta ter-se encontrado no ministerio da guerra tem como causal a saída de avultadas quantias dos cofres d'aquelle ministerio com destino á casa real.

Desde que na imprensa se diz isto, desde que ali se espalhou este boato que tanto póde prejudicar o caracter do primeiro magistrado do paiz, que eu não tenho motivos para deixar de reputar honestissimo, (Apoiados.) entendo que não é indiscrição, e antes o considero de grande conveniencia e até muito urgente, vir no seio da representação nacional pedir ao governo explicações terminantes, claras e positivas sobre este assumpto, que toda a camara, sem distincção de partidos, não póde deixar de concordar que é muito grave, e que deve ter prompta resolução. (Apoiados.)

Julgo que todos os que têem assento n'esta casa se devem empenhar em que estas duvidas se esclareçam, e de, que não estou em erro acaba a camara de me dar a demonstração com os seus applausos; (Apoiados.) mas eu tinha obrigação de ser o primeiro a provocar o governo a, dar explicações categoricas, por isso que alguem houve que interpretando falsamente algumas palavras por mim aqui pronunciadas na sessão de 4 do corrente, e dando-lhe uma significação differente da que estava no meu animo, torcendo emfim o sentido d'ellas a seu bello prazer, ou para sua conveniencia, quiz fazer ver que eu era dos que desconfiavam que dos dinheiros publicos grandes sommas tinham sido gastas em proveito exclusivo do augusto chefe, do estado.

Não é proprio do meu caracter, nem está na minha indole adular ou lisonjear seja quem for, disto podem dar testemunho todos os que de perto me conhecem; (Apoiados.) mas o que nunca fiz, o que espero nunca farei, é fazer insinuações vis, ou accusar sem ter para isso provas seguras e irrecusaveis. (Apoiados.)

Não consentirei, portanto, que adulterem o sentido das minhas palavras; só eu sou competente para explicar o pensamento que as dictou; é o que vou fazer. (Apoiados.)

Eu disse na sessão de 4 do corrente, que em vista da morosidade com que se têem feito os inqueritos, me ía convencendo que nenhum resultado d'elles se tiraria, e mesmo se me afigurava que havia um poder para mim desconhecido, que obstava a que este assumpto se esclarecesse completamente.

N'estas minhas palavras vagas quizeram ver uma allusão ao chefe do estado, e como isto não estava na minha, mente, porque nenhuns dados tenho para suppor que seja El-Rei quem impede o andamento dos trabalhos dos inqueritos, não posso deixar de dizer qual é o poder a que me quiz referir, e que segundo a minha opinião tem dado causa a elles não estarem ainda concluidos.

Esse poder é o poder burocratico, é o poder que resulta da colligação dos muitos funccionarios publicos, que abusivamente se têem aproveitado dos dinheiros publicos, e a quem interessa e muito que este estado de desordem continue, não só com o fim de se lhes não poder exigir a responsabilidade pelos erros passados, mas tambem com a mira de os continuarem a praticar no futuro em proveito seu.

Todos elles, e creio que são muitos, tendo, como necessariamente hão de ter, grandes e valiosas protecções, unidos estreitamente no interesse commum, têem empregado todos os esforços para que se não liquidem estas responsabilidades, que são grandes, que são muito importantes. (Apoiados.)

É a este poder que me referi e a nenhum outro, creio que só aos que estão criminosos interessa que se continuem a occultar as graves irregularidades praticadas nas repartições publicas. (Apoiados.)

Não daria estas explicações, se só de mim se tratasse; vejo com indifferença qualquer apreciação que se faça na imprensa a respeito do meu procedimento politico, não me incommodo por me chamarem anthropophago, sans culotte ou conservador, fico sendo o que sou, quer me appellidem republicano ou monarchico; mas desde o momento em que intencionalmente alteram o sentido das minhas palavras, resultando d'ahi prejuizo de terceiro, e de terceiro que eu não posso deixar de respeitar, porque respeito as instituições por que actualmente o meu paiz se rege, entendo ter obrigação de explicar claramente o meu pensamento para que não fique duvida, e se saiba a quem me quiz dirigir. (Apoiados.)

Dito isto, e como vejo presente o exmo. presidente do conselho de ministros, espero que s. exa. se dignará dar-me as explicações que pedi, satisfazendo assim aos meus desejos e aos de toda a camara.

Espero a resposta do sr. presidente do conselho, e peço a v. exa. me reserve a palavra para quando s. exa. terminar.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Anselmo Braamcamp): - Não tive occasião de ouvir o dis-

Sessão de 15 de fevereiro de 1881. 29