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mo, que o illustre deputado, o sr. F. Antonio José d'Avila, tendo, quando ministro, imposto uma decima no juro da divida interna, é como não houvesse feito o mesmo, em relação á divida externa, ficou por esse facto inhibido, para todo o sempre, de elevar aqui a sua voz auctorisada a favor dos principios de igualdade, em materia similhante. S. ex.ª respondeu já triumphantemente á similhante observação, mostrando que nenhuma paridade se dava entre um e outro caso. Mas demos, sr. presidente, que assim fosse, demos que o nobre deputado, quando ministro, houvesse praticado, a similhante respeito, um acto de grandissima injustiça, d'ahi se poderia derivar, porventura, o corollario, de que a cor branca se tingiria de negro, desde que s. ex.ª lhe reconhecesse a pureza? Poisa rasão perde acaso os seus fóros, quando é invocada por quem uma, ou mesmo muitas vezes a houvesse postergado? As boas arções sr. presidente, são pôr certo modelos digneis de imitação: mas os maus exemplos podem acaso auctorisar factos, que a rasão condemna. (Apoiados — Vozes: — Muito bem.) É boa a medida que se propõe? Approvemo-la, mas se é má, se reprovada pelos principios, converter-se-ha porventura em obra santa e justa; pelo facto de se recordar aos que a combatem os seus actos passados. (Vozes: — E Verdade.) Pelo contrario, sr. presidente, parece-me que a recordação de antigos erros, parece-me que a recordação de medidas inconvenientes e injustas dos tempos passados, só nos deve servir para nos pôr de sobre aviso, a fim de fugirmos do contagio dos maus exemplos que esses erros nos deixaram. (Apoiados:) Foram injustos os que nos procederam? Mais um motivo para sermos justos. (Vozes: — Muito bem.) É assim que iremos melhorando todos os dias a administração publica do paiz, e arraiganda n'esta terra em bases solidas e perduráveis os verdadeiros principios de moralidade, dó justiça, de liberdade, consignados na carta constitucional da monarchia. (Votes: — Muito bem, muito bem.)

Creio haver dito quanto é bastante para motivar o meu voto em relação á generalidade do projecto 11.º 12-A, e vou concluir n'esta parte declarando que votaria pelo mesmo projecto, se as concessões do accordo de Londres se fizessem extensivas aos credores da divida interna; mas como vejo que se não adopta esta resolução, declaro desde já que hei de rejeitar o mesmo projecto, porque não quero concorrer com o meu voto para que Se estabeleça uma selecção que tenho por muito odiosa a favor do estrangeiro, em menoscabo de direitos perfeitamente iguaes dos credores da divida publica interna. (Vozes: — Muito bem, muito bem.)

Tratarei agora, sr. presidente, do projecto de lei n.º 12-B. Todos os meus illustres collegas, que sustentam o mesmo projecto, abundam em considerações geraes, que podem ler unia applicação mais ou menos proxima, mais ou menos remota, a todos os paizes do mundo que não possuam os melhoramentos materiaes de que carecemos. São considerações geraes que ninguem ignora, e que, quando mesmo podessem ser ignoradas, bastaria um rapido estudo do movimento immenso da civilisação europea, pára ficarem ao alcance de todos. Quem ignora, sr. presidente, quem póde desconhecer que a similhante respeito nos achâmos em grandissimo atrazo, em relação ás outras nações da Europa e á America do Norte? Oxalá, sr. presidente, que assim não fosse! Mas infelizmente, é com magoa o digo, mas infelizmente é mister confessa-lo. Quem duvida, sr. presidente, que a este respeito para nos aproximarmos d'essas nações tão adiantadas (mas pouco a pouco e prudentemente) convém que demos todo o impulso compativel com Os nossos recursos, aos melhoramentos materiaes d'esta terra? E porventura alguem affirmou o contrario n'esta camara? Quem desconhece, Sr. presidente, quem póde desconhecer que foram as vias ferreas a mais feliz descoberta para remover os inconvenientes das distancias, para estabelecer rapidas communicações, para aproximar a maior producção dos grandes focos de consummo, para crear novos interesses e novos generos de industria pára facilitar as permutações levando a toda á parte a abundancia, para robustecer todas as fontes da riqueza publica; pára dar grande desenvolvimento ao commercio, para imprimir emfim, em todo o corpo social uma nova vida, cheia de energia; de actividade, de vigor e de força? (Apoiados.) Quem desconhece, quem póde desconhecer os grandes, os prodigiosos resultados, obtidos já por essas nações que tão adiante de nós se acham na carreira da civilisação, pela applicação dó vapor aos carris de ferro?

Mas, porventura, alguem sustentou aqui o contrario d'isso? Alguem combateu estas idéas? Porventura alguem disse n'esta camara: «As estradas de ferro não prestam para nada; não servem para nada, são a cousa mais inutil que até agora se tem descoberto, não as queremos, não nos convém, não precisâmos d'ellas absolutamente, » para nos argumentarem como em resposta, com as grandes vantagens que d'ellas procedem. (Vozes: — E verdade, muito bem,) A este respeito hão ha, não póde haver, Senão um só pensamento, fim; desejo unico no paiz, dentro e fóra d'ests camara — Ver a nação melhorada em todos os ramos, vê-la dotada dos melhoramentos materiaes de que carece; ver esta nação a par das nações mais civilisadas. (Apoiados.)

Este desejo está nos corações de todos os portuguezes; no que divergimos dos illustres deputados, que sustentam o projecto, é ha conveniencia de similhante medida, ena sua opportunidade, porque a temos por muito inconveniente, e mais que milito inopportuna: eis-aqui a unica differença, (Apoiados.) De que serve, pois, apresentarem-se essas considerações geraes, de Uma maneira tão vaga? O que convinha para a discussão era produzirem-se argumentos, que nos podessem convencer da excellencia da mesma medida; o que até agora Se não fez. e nem ao mentis ainda se apresentou rasão alguma, applicavel a especialidade das circumstancias, em que nos achâmos, quando aliás as nossas actuaes circumstancias são a verdadeira base sobre que deve versar toda esta discussão. (Vozes: — É verdade.) Segundo a minha curta intelligencia, a questão trazida ao seu verdadeiro terreno, é a seguinte: está ou não o paiz actualmente em circumstancias bem deploraveis, e taes que só uma grande, imperiosa, e impreterivel necessidade, que absolutamente se não possa adiar, é que poderia auctorisar o grande e penoso sacrificio de mais 500:000$000 réis annuaes que se lhe pretende impor? Dá-se effectivamente, na actualidade, essa grande, imperiosa e impreterivel necessidade que absolutamente se não possa adiar, sendo por conseguinte indispensavel exigir-se, desde já, ao paiz esse grande e penoso sacrificio? Eis-aqui, creio eu, a questão trazida ao seu verdadeiro terreno; é para aqui, é para esta especialidade que devem convergir todos esses argumentos, todas essas considerações geraes; pelo menos, sr. presidente, eu assim o entendo, e é debaixo d'este ponto de vista que Vou entrar na questão. (Vozes: — Muito bem.)

De que serve apresentarmos ao paiz o espectaculo magnifico dás maravilhas da civilisação, Obtidas por meio de caminhos de ferro? De que serve dissermos ao paiz: « Dar-vos-hemos bellas estradas, que vos farão extremamente feliz, comtanto que para esse fim Sacrifiqueis desde já uma parte das vossas sobras?» Se a estas promessas lisongeiras, responde a voz do povo, lúgubre e definhada: « Zombaes acaso da nossa miseria? Não vedes que actualmente não temos sobras? Não vedes que actualmente até nos fallecem os meios necessarios á vida »? (Apoiados— Vozes: — Muito bem.) Sr. presidente, entre os grandes males que affligem o paiz, o maior por certo é a divida publica, que onera o thesouro da nação; divida immensa, que sobe já a mais de 90 000:000$ réis; e que ainda hoje, apesar das reducções ordenadas pelo decreto de 18 de dezembro de 1852, absorve annualmente em pagamento de juros a valiosissima verba de 2.829:922$041 réis; isto é, mais da quarta parte da receita geral do estado; dada mesmo a hypothese, que nunca se póde verificar, de podér ser integralmente arrecadada.

Aggravar portanto este grande mal, exacerba-lo desde já em escala elevadissima; augmentando essa enorme divida