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SESSÃO N.º 38 DE 30 DE MARÇO DE 1898 747

O que é certo é que não temos um passeio á beira mar, e, o que é peior, nem sequer um caes de desembarque. (Apoiados.)

Quando fui ministro mandei facilitar aos navios estrangeiros o desembarque no arsenal da marinha, e esse uso ficou. Nem sei como não foi annullado.

Já lembrei no meu amigo conselheiro Luciano Cordeiro, para attenuar difficuldades, que se aproveitassem, para desembarque, os caes da alfandega, a ponte dos vapores do caminho de ferro do sul e sueste, a ponte do arsenal e, por um contrato feito com a empreza dos vapores do carreira de Cacilhas, a ponte respectiva, pelo menos para o pessoal dos navios de guerra que nos visitem, pois que se poderá encontrar pessoal de marinho que, se não está em hostilidade aberta, está em hostilidade latente. (Apoiados.)

Ainda a proposito do centenario chamarei a attenção da camara para um caso curioso.

Antes do mais nada direi que fui dos que me enthusiasmei pelas festas a fazer pelo centenario do descobrimento do caminho maritimo para a India.

Depois do sr. Mendes Guerreiro lançar na sociedade de geographia essa idéa, suggestionado pelo meu velho amigo o conselheiro Luciano Cordeiro, convidei o governo a tomar em consideração o élan que se manifestava pela festa do centenario.

São decorridos já bastantes annos, pois que isto se passou em 1889, e as circumstancias mudaram completamente; de maneira que os festas do centenario, que deviam ser um Te Deum pelas glorias do pousado no descoberta e conquista do vasto dominio colonial, podem vir a representar os exequias coloniaes, se não os do proprio paiz. E não se me leve a mal eu ter este modo de ver; vejo tudo tão embrulhado, tão desorientado, que é possivel que eu proprio esteja soffrendo da influencia das condições de momento.

Assim, vejo os cartazes annunciando as festanças do centenario em letras portuguezas, no que diz respeito aos divertimentos, mas tendo em letra de ha quatro seculos, dizem, a palavra Portugal, que os encima; e se eu, que não sou dos mais analphabetos, tenho difficuldade em ler taes letras, o resto do publico não terá mais facilidade.

Os cartazes enviados para o estrangeiro, informaram-me já aqui na camara, vão encimados pelo letreiro em francez: Au pays du soleil.

Paiz do sol parece ser o Japão, que se intitula o paiz do sol nascente; porá nós o titulo está incompleto; deve ser: Au poys du aoleil couchant; (Riso.) tonto mais que vamos no occaso a respeito de tudo. (Apoiados.)

Mas é de outro alcance o assumpto para que chamo a attenção da camara, e refere-se elle ás ameaços de alteração á ordem publica, velha lendo por tal maneiro explorada, que eu até já sou dado como capitão de revolta no Porto. Isto deve ser filho do orientação, que um jornal classifica, e muito bem.

Diz a Voz Publica:

«O governo, por intermedio de agentes em demasia conhecidos, tem feito espalhar boatos terroristas com o fim de allegar serviços prestados ao Rei. O que para com o Rei faz o governo, fazem para com este varios souteneurs dos cofres publicos.

«Industria rendosa, velha chantage, cheia de alçapões aliás grosseiramente disfarçados.

«Outro dia, por exemplo, os navios de guerra estiveram de prevenção.

«Por que? Não se ignora absolutamente.

«O governo, desorientado com o protesto do opinião quer, por seu turno, desorientar o publico...»

Mas, o que é curioso é que, ao passo que este jorna diz que a policia secreta, organisada com vadios de todas as categorias, que pela intriga procuram ganhar dinheiro importancia e collocação, inventam pavorosas, de accordo ou sem accordo com o governo, os jornaes republicanos dizem então cousas extraordinarias, que eu vou ler, sem com isso querer significar que lhe dou fóros de verdade.

Falla o Paiz ou antes o ousado republicano o sr. João Chagas :

«O partido progressista conspirou contra as instituições. Independentemente do que disse e do que escreveu, tramou. Quiz mudar de regimen, quiz fundar a republica. Teve essa pretensão. Dos seus homens, alguns dos mais cotados pela sua posição social, tomaram iniciativas de caracter francamente revolucionario.»

Ora, eu posso referir-me a este caso com tonto mais desprendimento, quando acabei de referir que a mim me accusam de estar mettido no movimento.

Com a maxima franqueza e lealdade digo, não me repugna o systema do governo republicano por alguns principios que esse systema consigna, mas entendo tambem que similhante systema só póde ser adoptado por um paiz regularmente preparado e instruido e disposto para esse fim, o que não está o nosso, que nem sequer comprehende o systema constitucional; mais ainda, no momento actual, uma modificação de regimen, afigura-se-me que teria taes perigos que as vantagens, possiveis ou hypotheticas que d'ella podessem resultar, não seriam compensadas pelos desastres que fatalmente haviam de succeder.

Não é só no Porto ande se fez uma certa bulha com esta questão da alteração da ordem. O Popular, na mesma columna em que relaciona os individuos que serão nomeados pares do reino, logo a seguir, e sob o tiutulu Prevenções diz:

«Continuam as prevenções a bordo dos navios de guerra.

«Ficam de noite a bordo, alem do official de serviço, o immediato e o official de retem.

«O que está de serviço faz quarto até á meia noite e o de retem até ao toque da alvorada.

«O cruzador Adamastor tem n'estes ultimas noites lançado um projector electrico sobre o pontão da polvora, que está isolado no rio, em frente do Terreiro do Paço, parece que para fiscalisar se alguma embarcação atraca ao pontão referido.»

Isto de ficar um official de retem a bordo é cousa que deveria ser normal, regular, tanto mais quando o estado maior tenha cinco a seis officiaes subalternos para serviço de dia ao navio, pois teriam tres a quatro dias de folga.

(Continua lendo.)

Quanto ao trabalho do holophote não póde haver duvida, e creio que não funccionou um só, mas os dois, e chamo-lhe holophote para me servir do nome adoptado no Brazil guando foi da revolta naval do Rio de Janeiro. Ali estabeleceram-n'o no alto denominado da Gloria, uma especie do alto de Santa Catharina de lá, para inspeccionar o porto; aqui dá-se exactamente o contrario, o holophote do mar é que vigia a terra, pois não raro succedia que ao saír-se de S. Carlos se vissem feixes de luz por sobre as nossas cabeças. Eram os holophotes do Adamastor, da popa e da proa, em operações directas, cruzando-se em abraço, de um lado para outro, operações que se estendiam á fachada dos casas nas encostas das collinas da cidade e alem d'aquellas ás trapeiros e beiraes dos telhados que sobresáem, pondo em sobresalto e a descoberto as colligações dos gatos n'aquellas paragens. (Rito.) A final não se tratava de prevenções nem de descobrir pavorosas e colligações e a provo é, que depois que se fez a nomeação dos pares, nunca mais trabalharam os holophotes, que batiam com os seus fachos electricos nos fachadas das casas do alto de Santa, Catharina, residencia do sr. ministro da negocios estrangeiros, figura dominante na politica da actual situação, e no palacio da rua dos Navegantes, residencia do sr. presidente do conselho, deixando em descanso não só os pobres que vivem nas trapeiras, mas os gatos que nos seus passeios pelos telhados n'aquellas horas mortas se entretêm nos seus devaneios. (Riso.)