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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

do trabalho que tem tido para a reconstituição das suas vinhas. A quantidade de vinho que importa é em grande parte para o consumo interno e não para exportação como geralmente se suppõe. Para provar esta affirmativa, basta dizer que a totalidade da exportação da França é hoje apenas do 1.500:000 hectolitros incluindo o Bordeanx, Chateau Laffite, Chateau Margeau, Champagnhe, etc., etc.

Para satisfazer as suas necessidades, vae buscar o vinho á Hespanha, á Italia e á Hungria de preferencia a vir buscal-o a Portugal não porque os nossos vinhos não sejam iguaes aos hespanhoes e aos italianos, felizmente os nossos vinhos são superiores em qualidade aos d'aquellas nações, mas porque não podem competir com elles pelo exagero da taxa que sobre elles pesa. O que ha, portanto, a fazer é um tratado de commercio com a França para que os nossos vinhos entrem ali pagando uma taxa, pelo menos, igual á que pagam os vinhos das outras procedencias; porque se assim continuâmos, nós vamos ter uma crise medonha, qual é acrise da abundancia.

Os nossos lavradores terão uma producção extraordinaria, mas não terão onde a collocar porque mesmo para a nossa Africa é difficil mandar vinho embora seja outra a causa da difficuldade. O transporto de uma pipa do vinho de Lisboa á Africa oriental custa 12$000 a 13$000 réis; assim comprehende v. exa. que com uma tal despeza o vinho sáe lá carissimo, tornando-se por isso da maior urgencia fazer um contrato com uma companhia do navegação, do modo que o transporte do vinho diminua o nos seja possivel procurar ali mercado para este producto.

Póde dizer-se que nós temos os nossos mercados quasi fechados; o Brazil não consome tanto vinho como se suppõe e ainda assim e o que nos está valendo. Supponho que o Brazil não importa mais de 1.000.000 de hectolitros de todas as proveniencias, ou sejam 200:000 pipas de 500 litros por anno.

O mercado allemão importa muito pouco vinho, pois está calculado, que de todas as proveniencias, não importa mais de meio milhão de hectolitros ou sejam 100.000 pipas de 500 litros.

Está succedendo uma cousa muito seria e que é necessario que o governo tome serias, energicas e promptas providencias. Alguns negociantes portuguezes estão exportando vinhos hespanhoes para o Brazil como se fossem vinhos de Portugal e em vasilhame com marcas portuguezas e com todos os requisitos para que todos no Brazil se convençam que o vinho é portuguez, e note v. exa., sr. presidente, que quem isto faz é portuguez, é um patriota; em geral estes patriotas em se tratando da algibeira fazem d'estas e de outras. Estou informado de que ha uma casa e eu cito o nome para que o paiz conheça bom quem são os patriotas, a casa Santos Lima, que não compra uma pinga de vinho em Portugal (Apoiados.) e exporta para o Brazil vinho hespanhol como se fosse vinho portuguez, em vasilhame adequado e com marca respectiva e em tal quantidade que chega por vezes a offerecer quantias avultadas ás companhias de navegação para irem buscar os vinhos aos portos de Hespanha onde ella os tem preparados e leval-os para o Rio de Janeiro e outros portos da America do sul. Esta casa foi estabelecer se em Hespanha, ali compra e prepara os vinhos e exporta como se fossem de procedencia portugueza.

Eu não sei se o governo póde intervir n'este assumpto, mas se póde, é necessario que tome energicas providencias para pôr termo a um tal estado de cousas, tanto mais que a cultura da vinha é hoje bastante despendiosa e não deve permittir-se uma falsificação com prejuizo de tanta gente e do paiz em proveito apenas de tão insignes patriotas.

A cultura da vinha, como disse, é hoje bastante despendiosa o se, o governo não prepara os meios de collocar o excesso da nossa producção, grandes desastres ameaçam o paiz.

Ainda este anno, na região mais productora do vinho, a região torreana, os salarios dos trabalhadores chegaram a 800 e 850 réis para cavar, empar e podar a vinha. Os sulfatos, o enxofre e as substancias cupricas para matar os inimigos da vinha custam muito caros por causa do cambio, e se a este estado de cousas vem juntar-se a impossibilidade de collocação dos vinhos será uma enorme desgraça para os que trabalhara tão afadigosamente para a reconstituição das suas vinhas que foram devastadas pelo phylloxera.

Toda a gente sabe que o principal e mais importante producto agricola de exportação é o vinho; se o governo não olhar com disvelo para este assumpto, determinará em breve uma crise gravissima.

Para v. exa. ver como se trabalha a este respeito em quasi todos os paizes vou citar como exemplo o que se tem feito em Hespanha.

A Hespanha depois que a França fez o tratado com a Italia, viu diminuir ali a importação dos seus vinhos, ao mesmo tempo que diminuiu tambem o consumo nas suas colonias, perdidas pela recente guerra com a America, porque tendo estabelecido ali um direito prohibitivo para a entrada dos vinhos das outras nações, quando estava do posso das referidas colonias, podia lá introduzir os seus vinhos sem soffrer concorrencia estrangeira; mas agora que ella já perdeu o seu imperio colonial existe ali uma pauta commum para todos os paizes e os vinhos hespanhoes entrando em concorrencia com o das outras procedencias, não têem o consumo exclusivo como tinham quando ellas lhe pertenciam.

Quando a Hespanha se viu collocada n'esta situação mandou agentes percorrer os portos americanos do sul com mostruarios dos seus vinhos, mandando fazer todos os meios de propaganda para os poderem lá introduzir.

Emquanto ella faz isso, nós não fazemos cousa nenhuma, dormimos descansadamente, e quem quizer que nos venha comprar cá a casa.

Ora eu entendo que é necessario estudar o modo de poder fazer um tratado de commercio com a França, para collocarmos ali os nossos vinhos em igualdade de circumstancias com os de outros paizes.

Bem sei que não é só dizel-o, a questão offerece grandissimas difficuldades, mas com cuidado e geito talvez possamos conseguil-o. Os negociantes francezes que tem vindo aqui, ao que me consta, têem tido conferencias com alguns membros da real associação de agricultura, declarando que preferiam os nossos vinhos aos de outras nações, se tivessemos uma pauta igual á que ellas tem; mas com a pauta em vigor não podem competir, pagando mais de 27$000 réis a pipa, alem do transporte.

Eu entendo que todos os assumptos que tem sido ou venham a ser tratados na actual sessão legislativa não ha nenhum tão capital e importante como este.

É preciso que o parlamento se não feche, sem que o governo fique habilitado a negociar um tratado de commercio com a França de modo a conseguir uma reducção nos direitos de importação dos nossos vinhos.

Sr. presidente, se é verdade, como não póde deixar de ser, o que diz o illustre ministro das obras publicas na sua circular aos syndicatos agricolas, de que temos um excedente de producção sobre o consumo dos nossos vinhos de 3.000:000 de hectolitros e se podesse haver collocação para todo este vinho seria uma grande quantidade de oiro que entrava no paiz, o que seria de extraordinarios effeitos para toda a economia interna e para os nossos cambios.

Assim se conseguirmos vender por meia libra em oiro cada hectolitro do vinho, o que não é nada exagerado, porque ao cambio actual dava 500 réis por almude, teriamos que os 3.000:000 de hectolitros que podemos exportar, produziriam £ 1.500.000 em oiro e comprehende-se bem que incalculaveis vantagens isto traria para todo o paiz.