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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Marquez d'Avila e de Bolama): — Eu julgo dever dar uma explicação á camara sobre um incidente que se deu hontem, quando v. ex.ª interrompeu a sessão, porque vi que se interpretaram mal as palavras que eu pronunciei.

Eu disse as seguintes palavras «não espero que haja na camara quem defenda a communa.»

Muitas vozes: — É verdade, foi o que disse.

Outras vozes: — Não foi.

O Orador: — Eu assevero que disse hontem na camara, antes da interrupção da sessão «não espero que haja na camara quem defenda a communa». É evidente que esta phrase em logar de ter referencia a algum membro da camara, era a demonstração de que eu não acreditava que houvesse na camara quem defendesse a communa.

Insistiu-se, e infelizmente ainda se insiste agora, em que eu disse o contrario. Aqui estão as notas tachygraphicas sem a menor correcção, e a tachygraphia diz o seguinte: «Não espero que haja na camara quem tenha a coragem de defender a communa.»

(Ápartes de differentes srs. deputados.)

Eu não respondo a estas interrupções, mas v. ex.ª comprehende que ellas não podem agradar-me.

Supponhamos mesmo que eu tinha dito «não esperava» (muitos apoiados).

O sr. Barros e Cunha: — Apoiado, apoiado, muito bem.

O Orador: — Mas não disse. Aqui está um jornal que é insuspeito, porque sempre me aggride violentamente: é o Jornal do commercio. É que diz o extracto da sessão de hontem publicado n'este jornal a este respeito? Diz: «o orador disse que não estava em discussão a communa, mas que era licito alludir a ella, e não espera que haja na camara quem tenha a coragem de defender a communa».

Não comprehendo como os illustres deputados querem substituir por força a sua auctoridade á auctoridade da tachygraphia e á auctoridade insuspeita d'este jornal, que, torno a dizer, não póde ser taxado de parcialidade a meu favor.

Aqui está, pois, repito, o que se lê no Jornal do commercio.

O sr. Luiz de Campos: — Não me guio pelo jornal.

O Orador (largando o Jornal do commercio e pegando nas notas tachygraphicas): — Pois então aqui estão as notas tachygraphicas, que dizem precisamente o mesmo (leu).

A camara ouviu o que escreveu a tachygraphia e o que escreveu o Jornal do commercio, que me tem combatido sempre.

O sr. Luiz de Campos: — Essas notas não são exactas.

O Orador: — Não são exactas?

O sr. Luiz de Campos: — Não são.

O Orador: — O paiz apreciará (apoiados). Hontem requeriam-se as notas tachygraphicas para provar que eu tinha corrigido um discurso meu, e eu podia pedir, e não pedi, as de todos os que corrigem os seus discursos e usam d'essa faculdade em larga escala; hoje as notas tachygraphicas já não servem para provar cousa nenhuma! (Apoiados.) Qual é então o testemunho que se póde invocar? Repito, hontem pediam-se as notas tachygraphicas do meu discurso, para provar que eu tinha emendado esse discurso, logo as notas tachygraphicas faziam auctoridade; hoje as notas tachygraphicas não fazem auctoridade nenhuma! (Apoiados.) Aqui só faz auctoridade quem guerreia, e guerreia violentamente governo! (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Eu estou ainda respondendo ao sr. visconde de Moreira de Rey, e felizmente parece-me que não tenho já muito que occupar-me do discurso de s. ex.ª a meu respeito.

O sr. Telles de Vasconcellos, na resposta que deu ás arguições que lhe foram feitas pelo illustre deputado por Aveiro, referiu-se a alguns actos da dictadura no tempo em que este illustre deputado era ministro, e o sr. visconde de Moreira de Rey julgou que o meio de responder cabalmente a estes argumentos era assegurar que eu tinha sido um dos maiores sustentaculos da dictadura.

S. ex.ª equivocou-se. Eu confesso que sou amigo do sr. duque de Saldanha, e que desejava ajudar o nobre marechal a saír airosamente das difficuldades que o cercavam; mas defender a dictadura nunca o fiz, nem a aconselhei, nem em qualquer occasião que tivesse pretexto para o fazer o fiz (apoiados); a minha opinião é contraria á dictadura, nunca deixei de o manifestar (apoiados).

Desejava fazer esta rectificação para que se não entendesse que eu defendi ou aconselhei a dictadura ao sr. duque de Saldanha. Até mesmo n'esse tempo as minhas relações com os ministros eram fraquissimas; não ha um só, comprehendendo o nobre presidente do conselho de ministros d'essa epocha, que possa gabar-se de que subi as suas escadas para lhe pedir, alguma cousa...

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Em casa do sr. Dias Ferreira o vi eu mais de uma vez.

O Orador: — Viu-me mais de uma vez em casa do sr. Dias Ferreira?

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Vi.

O Orador: — Está enganado completamente. Se me viu em casa do sr. Dias Ferreira mais de uma vez foi n'outro tempo, e nunca para lhe pedir alguma cousa como ministro. Está perfeitamente enganado.

Entrarei, e já não é cedo, na questão da eleição de Arganil.

O sr. visconde de Moreira de Rey accusou-me acerbamente de eu não ter tomado a palavra para me defender das accusações que me tinham sido feitas a este respeito; mas v. ex.ª e a camara sabem, que n'um discurso que durou, ou occupou, quatro sessões, foi um dos cavalheiros, que não sei se está presente, que é membro d'esta casa, altamente aggredido accusando o de ter enganado o governo com informações falsas e calumniosas. São as expressões que foram empregadas.

O sr. visconde de Moreira de Rey disse muitas vezes que o paiz estava horrorisado com estes crimes e com estas informações falsas e calumniosas. Os illustres deputados, que tinham assim insultado o governador civil de Coimbra, não podem deixar de reconhecer que elle tinha, mais do que ninguem, necessidade de responder a estas accusações.

Estou traduzindo as arguições que foram feitas, e traduzindo as nos termos em que s. ex.ª as proferiu, para mostrar a importancia que tinham essas arguições.

O illustre deputado pela Guarda tinha por consequencia necessidade de responder a censuras que lhe eram pessoaes, e eu não havia de privar o homem, que me tinha feito a honra de aceitar de mim um cargo de confiança, da possibilidade de se defender. Entendi, por consequencia, que o illustre deputado ex-governador civil de Coimbra devia ter logo a palavra, e reservei-me para a tomar depois d'elle. E o que estou fazendo. E tanto eu tinha interesse em tomar a palavra, que pedi hontem a v. ex.ª que me permittisse entrar n'este debate, porque uma certa discussão sobre assumpto muito differente que aqui se levantou podia dar em resultado que se não entrasse na segunda parte da ordem do dia. Tal era o medo que eu tinha de entrar n'este debate!

O illustre deputado acrescentou que — os crimes praticados na eleição de Arganil tinham ainda contra o governo a circumstancia aggravante de serem praticados com premeditação.

E quaes foram as provas que apresentou d'esta grave accusação? Primeiramente, que eu sabia que o administrador do concelho de Arganil era fundador de um jornal O Trovão da Beira, e que não o tinha demittido por isso; em segundo logar, que eu sabia que o administrador do concelho tinha declarado que estava resolvido a recorrer á força, e que em logar de o ter eu demittido por isso, tinha posto á sua disposição uma grande força para elle levar por diante a sua ameaça.