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tavel. (Riso) Eu acceito a sua auctoridade em peso como a acceito em palavra.

Sr. presidente, o que ha de fazer o illustre deputado? O illustre deputado tem uma pretenção, que, se da minha parte coubesse satisfaze-la, satisfazia-a de muito boa vontade; elle quer ser impeccavel; (Apoiados) e quer que as leis que foram assignadas por s. ex.ª sejam irrevogaveis. (Apoiados) O illustre deputado fez uma lei de moeda; emittiu uma moeda em conformidade dessa lei; as condições com que devia regular essa moeda foram perfeitissimas, e o facto bem o provou, porque as moedas, sendo para circular, em virtude da lei feita pelo illustre deputado, apenas saíram da casa da moeda foram immediatamente caír nos jasigos dos capitalistas; lá estão, e a circulação não as viu, nem será facil vélas. Mas apezar disto que quer o illustre deputado? Quer que a lei, que fazemos agora, tenha as honras da moeda que ella não leve, nem póde ter.

Sr. presidente, disse o illustre deputado — para que se hão de cunhar moedas de ouro de 10$000 réis? Não ha precisão de as cunhar, porque havendo moedas de ouro de 5$000 réis, quem quizer fazer 10$000 réis, faz 10$000 réis juntando duas moedas de 5$000 réis! Então neste caso escusa de haver o tostão, porque quem quizer fazer o tostão falo juntando dois meios tostões, e assim por diante. Que modo este de argumentar! E é o illustre deputado o sr. Avila que apresenta taes argumentos!...

Pois para que se dividem as moedas? É para proporcionar ás diversas ordens de transacções, que mais ou menos se podem verificar, os meios de mais facilmente poderem ser satisfeitas, e para os seus valores se poderem facilmente transportar.

Por que é que convém no nosso paiz a moeda de 10$000 réis em ouro? E porque nos falta o ponto capital, a circulação de confiança, a circulação dos bilhetes dos bancos.

Sr. presidente, nós precisâmos de moeda grande, porque a moeda que ha na maior parte, onde se fazem as grandes transacções, a moeda de confiança, que são os bilhetes dos bancos, não a temos nós na circulação; não ha essa especie de moeda entre nós; portanto precisâmos de moeda grande e em maior numero, que represente grandes valores, para que possa facilitar a contagem. Portanto eu voto para que se conserve a moeda dos 10$000 réis.

Quanto ás tabellas, realmente é uma coisa que não tem nome! Primeiramente, o governo tinha infringido as leis, porque tinha transportado para a moeda o systema metrico-decimal, que estava decretado, mas que ainda não estava em execução no paiz; crime atroz, crime horrendo, coisa nunca vista! Depois desappareceram todas estas considerações, e quiz-se que estas denominações e comparações viessem na lei, isto é, que se fizesse uma lei com uma taboada. Ora a fallar a verdade não ha nada mais ridiculo; é uma exigencia altamente ridicula, e creio que eu tambem estou, sem querer, caindo no mesmo ridiculo, fallando nisto. Agora quer-se que essa taboada vá no reverso da lei. Ora eu creio que as leis não tão, das coisas escriptas, aquellas que mais interessa ao maior numero de pessoas lêl-as, e além disto, logo que se estabelecer e pozer em vigor no paiz o systema metrico-decimal, ha de esse systema introduzir-se em todas, as taboadas, e ensinar-se em todas as escólas,

Mas na lei? Eu não sei como os nossos maiores não metteram a taboada em todas as leis. Eu estudei taboada, mas estudei-a n'um livro, n'uma coisa escripta, nunca nas leis; e Será a primeira vez que tal veja.

O illustre deputado ameaçou-nos com infinitas substituições e additamentos, porque elle intende que a commissão, a maioria da camara, e o governo, devem tomar como um triunfo, como um padrão de gloria, todos os traços, ainda os menos perceptiveis, que existem nas suas meias corôas, e introduzi-los na lei; não as suas idéas, não os seus discursos, porque esses são os mais incompetentes e contradictorios que tem apparecido, mas as suas moedas!

O illustre deputado, quando apresentou a sua medida, estava boiando e barafustando no meio de ouro, e entao veio pedir á camara que todas as moedas se cunhassem em ouro. E por esta occasião peço licença á camara, para lhe contar uma historia que me occorreu; é uma historia da mythologia. Parecerá isto ridiculo, mas eu prometto conta-la de pressa, e não entreter por muito tempo a camara.

Todos sabem que Midas pediu, não sei a que deus, que lhe désse a faculdade de poder tornarem ouro tudo aquillo em que tocasse; foi attendido no seu pedido, e quando chegou a occasião de jantar, achou ouro em logar da comida. Ficou tão atrapalhado, como aquelles que hoje se atrapalham com as Californias; com a differença, que Midas tinha mais alguma desculpa, porque tinha a California em si mesmo. Ficou atrapalhado, e em vez de fazer como faria outro a quem não mettesse medo a California, indo pedir a alguem que lhe désse de jantar, não, senhor, foi logo pedir ao deus que lhe tirasse aquella California, porque não sahia o que tinha pedido. Foi tambem attendido, mettendo-se em um rio, que attrahiu a virtude que elle tinha. Para castigo da sua imprudencia, ficou com as orelhas muito compridas e muito felpudas de um animal, cujo nome aqui se não póde pronunciar....

(O sr. Avila: — Ficou com orelhas de burro?) Isto é uma historia da mythologia.

Sr. presidente, eu não posso continuar neste debate; nem posso, perdôe-se-me a frase, debicar contra os illustres deputados, que estão amedrontados desta grande inundação de ouro, nem entrar nos detalhes em que entravam, porque não ha nada mais ridiculo do que tudo isto; porque todas as considerações e calculos, que se tem feito a este respeito, são méras considerações e calculos de escólas, só proprios para as aulas; porque o ouro, ainda que multiplique e triplique, ha de ser absolutamente o unico metal de moeda, e porque nenhuma consideração filosófica, nenhum calculo, nenhuma sciencia torcida e contra factos, poderá jámais porventura estabelecer um systema monetario diverso daquelle, que, segundo todas as considerações, ha de ser o systema monetario permanente, e que de certo não ha de ser substituido por outro algum metal. Não posso continuar porque o illustre deputado já nos disse, que os pobres economistas, á vista da inundação do ouro, tinham tido um desmentido formal e solemne ás suas doctrinas; e que o ouro era já hoje uma mercadoria como todas as outras mercadorias. E que dúvida? Este panno que eu trago, é uma mercadoria, mas serve para me cobrir; os alimentos de que me sustento, são mercadorias, mas servem para me sustentar; o ouro é