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Pura se avaliar o estado desgraçado, em que está a nossa instrucção primaria, basta ler a estatistica das escolas; basta ver que ha 1:300 escolas de instrucção primaria. Mas ha aqui um facto, que, na minha opinião, revela a viciosa organisação da instrucção publica; este numero de escolas que existe, não só está em desproporção com o numero de freguesias, mas ha uma desproporção flagrante entre o numero de mestres, e o numero de mestras: note-se bem esta questão, que é importante em instrucção publica. (Apoiados)

Na minha opinião o que revela o adiantamento da instrucção primaria em qualquer paiz, é a maior igualdade que se dá entre as creanças dos dois sexos que frequentam as escólas. (Apoiados) Neste sentido eu dou parabens ao sr. ministro do reino, de ter apresentado na sessão passada um projecto de lei sobre instrucção publica, que me parece que tinha em vista preencher esta missão. E sabido que todos que tem escripto sobre instrucção publica, reconhecem que quando as mães de familia sabem lêr, os filhos tambem sabem; (Vozes: — É verdade — apoiados) e note-se ainda mais, que a difficuldade no nosso paiz não é só ler mestres, é fazer com que os discipulos frequentem as aulas, e pelas estatisticas apresentadas pelo ministerio do reino, com consternação vi, que nestes ultimos annos de que se faz cargo o relatorio do ministerio do reino, os alumnos tinham diminuido em vez de augmentar; revelação profunda de um estado desgraçado de instrucção publica!...

O sr. presidente: — Eu creio, senhores, que o que deve continuar a discutir-se é a materia, e não a moção de ordem, porque é a materia que se tem discutido. (Apoiados)

O orador: — Eu sinto que v. ex.ª só tão tarde me tenha advertido, porque eu não queria abusar. Concluo já, dizendo que não posso deixar de approvar a moção que tende a que se apresentem na camara trabalhos, não só sobre a instrucção superior, mas tambem sobre a instrucção primaria, e eu que sou sempre deputado governamental, embora não seja sempre deputado ministerial, desejaria que na proposta do meu amigo se inserissem as palavras — de accordo com o governo. (Apoiados)

O sr. presidente: — Não posso deixar de observar á camara, que se por ventura tivesse continuado a discussão da materia, seguramente se leriam votado alguns artigos. (Apoiados) Entrámos numa questão de ordem, para que o projecto volte á commissão com as emendas, additamentos e substituições, e tem-se discutido a materia, pondo-se de parte a discussão da moção de ordem! Se isto assim continua, então pedirei á camara que continue a discutir a materia.

O sr. Cunha Sotto-Maior: — Sr. presidente, eu declaro francamente que sou pelo projecto, e que não partilho as opiniões que se tem expendido, e que são uma guerra encapotada á universidade de Coimbra. Este projecto é apresentado á camara, sendo ministro do reino o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, bem conhecido neste paiz pelo seu odio á universidade, e pela sua imaginaria utopia de uma cousa a que se chamou Instituto.

A verdade é esta; por consequencia o projecto não passa, mas eu apezar disso, voto pelo projecto. E não passa não, porque não seja justo, porque os illustres deputados que tem fallado, tem reconhecido a manifesta injustiça que ha eu relação aos lentes da universidade de Coimbra, e só cohonestam a sua desapprovação ao projecto, invocando que se deve fazer o mesmo a respeito dos professores de instrucção primaria e secundaria; mas esta razão, que ate certo ponto póde ser valiosa, não é bastante para que eu vote contra o projecto. E, sr. presidente, para se confundir tudo, ale o illustre deputado que acabou de fallar, o sr. Carlos Bento, chamou instrucção superior á instrucção industrial? Pois a instrucção industrial não será instrucção secundaria? E suppondo que colhem as observações feitas pelo illustre deputado, que se segue dahi? Segue-se que a maioria não deve apoiar o governo, porque o que se tem dicto para combater o projecto, é antes para combater o governo. Quem é que creou o instituto agricola? Foi a opposição? Foi a universidade de Coimbra? Não, foi o governo. Quem é que consignou no orçamento 100 contos de réis para guardas municipaes? Foi a opposição? Foi a universidade de Coimbra? Não, foi o governo que os nobres deputados apoiam; por consequencia combatendo o projecto com estas razões, combateram o governo, contra sua vontade é verdade, mas mostram que a força da razão é quasi como um instincto. Uma pessoa vai, sem querer, dizendo a verdade, e a verdade é que os illustres deputados apoiam um governo, que, na sua consciencia e na sua sciencia, intendem que é máo governo.

Mas, sr. presidente, é necessario que distingamos as cousas; que fallemos a verdade, e se não intendi a palavra congestão de doutores que sáem da universidade de Coimbra, e se não intendi a palavra, não intendo a idéa, e se acaso é verdade que sáem da universidade de Coimbra todos os annos 100 doutores, o que eu vejo é, que destes 100 doutores aquelles que conseguem algum emprego, abandonam a universidade. Quando pilham um emprego, não querem que ninguem mais pilhe; só tractam de si; é uma questão de egoismo pura e simplesmente; quando se arranjam, quando agarram uma conezia, está a patria salva! Esta é que é a verdade, por consequencia eu entro sempre com repugnancia nestas questões, porque parecia-me que a camara devia tractar com certa independencia e certa gravidade os assumptos publicos, e não rebaixar as questões de alto interesse para a sociedade ás proporções acanhadas e mesquinhas do interesse individual. Ha offensa, ha injustiça na situação em que se acham collocados Os lentes da universidade de Coimbra; vós o tendes confessado, e confessar a injustiça e querer ao mesmo tempo que ella se conserve, porque no projecto não vem contemplados os professores de instrucção primaria e secundaria, é grande absurdo!

Mas eu sei que o projecto não passa, e tambem não é nova para mim a desattenção com que os ministros tractam a camara. N'outro qualquer paiz, n'outra qualquer situação, o governo, tractando-se de uma questão de instrucção publica que é o primeiro direito do povo, ter-se-ia honrado em estar naquellas cadeiras, em emittir a sua opinião e esclarecer, o assumpto. Que faz o governo? Não está presente; hoje póde ser desculpavel a sua falla, porque é Quinta feira, é dia de despacho; mas o que se podia ter feito, era não dar este projecto para discussão hoje, porque o governo não podia estar presente. Mas a camara tracta assim como por demais estas questões; a camara ardia que é improprio da sua alta sabedo-