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Discurso, que pelo motivo indicado a pag. 159, col. 1.ª, nota 2.ª, não foi ahi mencionado, e devia ter logar onde se designa o titulo do Orador.

O Sr. C. do Tojal — Sr. Presidente, este objecto é muito grave, e V. Em.ª ha de perdoar, que eu occupe a Camara com elle pela terceira vez. Já disse que não foi uma transacção minha, mas sim do Governo com aquelle individuo, e o que se assegurou não é correcto.

Aquelle individuo, logo que pronunciou (e essa justiça lhe é devida), que não recebia dinheiro pela sua correspondencia com o Times, pois creio mesmo que elle é incorruptivel; passado tempo dirigiu-se a mim dizendo, que o Governo podia fazer-lhe um serviço, se mandasse comprar 10:000 £ dos fundos portuguezes, que então estavam baixos; eu propuz isto aos meus collegas, e só uma ignorancia perfeita do modo como se fazem taes transacções, poderá classificar de odiosa a maneira, porque teve logar aquella operação.

Sr. Presidente, a Agencia adiantou um só real, porque os fundos foram comprados por um corrector que adiantou o dinheiro, recebeu a corretagem, e se lhe pagaram os juros, que nessa occasião eram a 4 ou 5 por cento, ao mesmo tempo que os dividendos eram regularmente recebidos, e produziam de 7 a 8 por cento em relação ao seu custo, quando se compraram esses fundos. A Agencia pois não tinha a responder, senão pelos prejuizos dessas 10:000 £ assim compradas por um terceiro, e não pelo custo ou adiantamento que resultou dessa transacção. É necessario tambem dizer, que, logo que chegou a conta da Agencia, se lhe deu noticia da compra e custo dos fundos, mandando cópia da mesma conta com um officio, e por consequencia ella não podia ignorar por quem se realisára esta transacção, que tinha sido effectuada pelo Governo, e não por mim como particular.

Subiram os fundos a 60, e por consequencia tendo sido compradas 10:000 £ a 46, segundo tenho idéa, tinha um beneficio de 14 por cento, nos fundos já comprados, transacções estas que se fazem todos os dias em Londres pelos corretores: elles é que adiantam os capitães necessarios, a juro modico, para ganharem a sua corretagem, e conservam na sua mão os fundos, exigindo um deposito de 10 por cento acima do preço do mercado, para responder pela oscilação dos preços. Quando estas 10:000 £ já tinham este beneficio, veio elle pedir novamente que se lhe comprassem mais 10:000 £: eu o propuz aos meus Collegas, os quaes concordaram nisso, e assim se verificou ao preço de 60, conforme tenho idéa; subiram os fundos de 60 a 70; aconselhei-lhe que fechasse a sua conta, e desligasse o lucro que tinha, a que elle respondeu, que não queria, porque desejava identificar-se com os interesses nacionaes de Portugal; e não quiz metter na algibeira um bom par de libras em seu beneficio, sem desfalcar ou prejudicar ao Governo, que nada tinha adiantado para tal transacção.

Veio depois a revolução, ainda elle podia ter realisado o custo; mas esperançado na melhora não quiz: depois do primeiro effeito da revolução, tornaram os fundos outra vez a subir, e chegaram a quasi 50; e se não é a circumstancia das duas decimas que se lançaram, os fundos iam outra vez talvez a 60. Por tanto já se vê que aquelle individuo podia ter realisado grandes beneficios da Praça, sem que o Governo tivesse adiantado um só shilling, ou fazer desfalque algum ao Paiz. Dizendo eu muitas vezes em Londres a diversos capitalistas, que não via razão, para que a Administração do Sr. Duque de Palmella, que nos tinha succedido, não podesse governar Portugal e sustentar o credito como nós, e que o rendimento da Junta não dependia do Governo ou do Thesouro, mas de uma dotação especialissima, e que a Junta recebia directamente das suas fontes, todavia nenhuma influencia nos fundos produziram estas considerações; mas veio a intempestiva medida das duas decimas e acabou com a confiança publica. Alli diziam todos a uma voz, que o Governo não podia pagar mais os dividendos: diziam mais, que quem fez lançar por um livre arbitrio duas decimas, o que importa uma espoliação de que resultariam consequencias fataes, podia lançar tres, e mesmo nada pagar, pois quem póde pagar, 1/5 querendo, póde pagar 5; e não reconheciam no Governo Portuguez direito algum de lhes impor contribuição alguma (apoiados). Por consequencia, repito, da parte da Administração, a que pertenci, não houve de maneira alguma dissipação dos fundos publicos nesta transacção, o que determinou foi, que a Agencia sem adiantar um só real, encarregasse, a qualquer corretor da compra daquelles fundos (apoiados). O mais que se seguiu, foi resultado de circumstancias alheias ao Governo, e tenho dito quanto basta para demonstrar, que se não podem fazer imputações algumas contra elle, por ter distrahido fundos alguns publicos por similhante transacção, como se tem querido sustentar.