O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

6 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

têem intervenção nas altas questões do mundo politico que se suscitam, e é claro que as pequenas nações não podem influir tão notavelmente na politica externa geral, mas nem por isso deixam de experimentar e soffrer graves difficuldades, porque têem de tratar com nações que são mais poderosas.

É por isso que eu disse, e repito, que em allianças deve haver toda a reserva, observar-se muito attentamente a situação, o estado geral da Europa, e as circumstancias em que se acha o paiz e a nação com quem se trata o pacto, na certeza de que o maior serviço que podemos prestar ao nosso paiz é collocal-o em posição de elle poder viver em paz ao lado dos outros paizes, sem offensa dos seus direitos.

Com respeito ainda á execução do tratado com a Inglaterra, tenho a satisfação de communicar á camara que o governo inglez manifestou as mesmas disposições em que se encontra o governo portuguez, declarando-se prompto a nomear um commissario estranho aos recentes conflictos africanos, e tendo já annunciado que para as commissões mixtas enviaria officiaes de engenheria militar inglezes. Estes factos fazem presuppor que felizmente se ultimará tudo sem difficuldades.

Sr. presidente, eu não desejo deixar de responder a uma parte do discurso do digno par o sr. Mártens Ferrão, em que s. exa. se referiu á alienação de parte das nossas colonias.

Devo declarar solemnemente perante a camara e o paiz, que o governo de Sua Magestade não tem idéa de alienar nem um palmo de territorio portuguez, (Muitos apoiados.) e não julga isso por fórma alguma necessario, nem para conjurar a crise financeira nem para assegurar os nossos dominios.

O meio de conjurar a crise financeira e de assegurar o nosso dominio ultramarino, o unico e o verdadeiro é fecundar é trabalho nacional, pondo de parte todas as paixões politicas, todas as rivalidades, todos os azedumes dos partidos e trabalhar em commum no desenvolvimento do paiz. (Apoiados.}

As medidas que se afiguram ao governo sufficientes para debellar a questão financeira estão em caminho umas, as outras apparecerão depois com o desenvolvimento das forças economicas do paiz.

Nós, para conjurarmos a crise financeira, não precisâmos, alienar as nossas colonias; o que precisâmos é fecundai-as, fazendo com que ellas, tendo sido até aqui um foco de despezas e conflictos, se transformem em fonte de receita, e podem-se transformar empregando-se para tal os meios necessarios.

Sr. presidente, não quero protelar esta discussão, parece-me que já disse o sufficiente ácerca da opinião do governo na questão de politica externa, desvanecendo qualquer suspeita relativa á venda de colonias, e podendo affirmar que o governo conta com os elementos que felizmente existem no paiz poder vencer as difficuldades do presente e assegurar o futuro da nação.

(S. exa. não reviu este discurso.)

O sr. Antonio Candido: - Sr. presidente, pedi hontem a palavra, e cabe-me hoje, depois do grave e erudito discurso do digno par, e meu respeitavel amigo, o sr. Mártens Ferrão, e da resposta igualmente patriotica e elevada que lhe deu o nobre ministro dos negocios estrangeiros. N'estas condições sei bem que faço mau serviço á camara, desviando-lhe a attenção dos importantes assumptos que estes dois eminentes homens de estado versaram; mas não tenho hoje, infelizmente, a liberdade, que tanto amo, de ficar silencioso, e nem sequer a de escolher a direcção que hei de dar ao meu discurso...

O que posso é ser muito breve; e serei.

Pedi hontem a palavra quando o digno par, sr. bispo de Bethsaida, recordando um discurso meu pronunciado na outra casa do parlamento em resposta, ao sr. Latino Coelho, pretendeu, despiedosamente, pôr no mais antipathico relevo a minha doutrina conservadora, na qual viu erros graves, e talvez nefandas intenções, a apontar e a combater. Denunciou-me como desaffecto á liberdade, que s. exa. adora acima de tudo, como ignorante das correntes moraes e politicas em que vae o fim d'este seculo, e como ferrenho partidario de opiniões que a sciencia não auctorisa e que o sentimento geral reprova como obsoletas e como perigosas! Recitando as minhas palavras, compoz artificioisamente a voz para as insinuar como da peior especie; e, se não chorou sobre ellas, foi porque a indignação lhe seccou inteiramente a fonte das suas lagrimas! (Riso.)

Declarando-se meu adversario reptou-me para uma discussão publica, fundamental. Não venho disposto a um longo combate, mas não o recuso inteiramente. E antes de me defender, o que farei no menor espaço de tempo, quero. não direi inclinar a minha espada diante do digno par, porque, na posição de s. exa. e na minha, esta figura de rhetorica seria absolutamente impropria; não direi tambem beijar-lhe o annel, porque as suas sagradas indulgencias se negam hoje a quem não é revoltoso ou revolucionario em Portugal: mas protestar a minha profunda admiração pelo seu talento litterario, e declarar que a affectuosa estima, que lhe dedico desde muito, resistirá seguramente aos aggravos que quiz fazer-me...

Na camara dos senhores deputados, e na sessão a que o digno par se referiu, sustentei que o poder politico estava hoje, nos povos cultos, desarmado de todas as tyrannias que o infamaram n'outros tempos; (Apoiados.) defendi a necessidade de proteger a ordem, mais ameaçada em toda a parte do que a liberdade, e tão precisa como ella aos progressos da civilisação; (Apoiados.) citei o exemplo da França republicana, que afasta cada vez mais, como a um perigo certo, o partido radical; e disse tambem que o liberalismo extremo não era professado actualmente pelos homens de mais assignalado renome na sciencia da politica, e que, ao contrario se pensava hoje que, adquirida e indestructivelmente radicada a liberdade necessaria ao desenvolvimento humano, toda a attenção devia recair principalmente sobre as outras condições essenciaes do progressivo desenvolvimento dos individuos e dos povos, (Apoiados.)

Conservar as liberdades existentes, aperfeiçoando-as ainda no que for possivel, e resolver os mil problemas que a revolução preteriu ou que o tempo creou seguidamente - problemas de ordem moral, de economia politica, de administração interna, de regimen colonial - isto, como synthese de um plano politico, é perfeitamente apresentavel n'um parlamento liberal e não indigno do ministro de uma monarchia representativa. (Apoiados.)

Póde-se divergir d'estas idéas; mas accusal-as como contrarias ao bem publico ou insinuar que não são generosas no seu intuito e no seu alcance, é certamente erro de critica; da parte do digno par não pôde, não deve ser excesso de má vontade...

Para exemplificar os meus principies politicos, o digno par fez me a honra de me comparar ao marquez de Thomar. Igualou-me a elle na doutrina reaccionaria e no sentimento social estreitissimo, descrevendo-me muito inferior (e n'isso fez bem, foi justo) á mascula rijeza do seu pulso, á inabalavel firmeza da sua acção, á profunda fé que elle tinha, nem podia deixar da ter, no seu plano e na sua vontade.

Venero a memoria do marquez de Thomar. Foi um homem forte, intelligente e honesto. Os que mais valentemente o combateram nos dias da sua poderosa influencia, até esses lhe cercaram a velhice de attenções e de respeitos, que não se liberalisam nunca a quem não teve um grande valor de qualquer especie; mas, se fosse contem-