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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 277

Portugal e a Belgica. Os dignos pares que approvam esta proposta, tenham a bondade de levantar-se.

Foi approvada.

O sr. Conde de Rio Maior: - Tenho muito poucas palavras a dizer.

Folgo de ter provocado a prova de sympathia e consideração que a camara acaba de dar para com um dos maiores homens que existiram n'este paiz (Apoiados.), e que foi dos que mais relevantes serviços prestaram á causa da liberdade. (Apoiados.)

Compraz-me registar os sentimentos d'esta camara a tal respeito, devendo declarar por esta occasião que o sr. ministro das obras publicas, a quem fallei ha tempo sobre este assumpto, me prometteu tomal-o em consideração.

Outros assumptos do maior momento sobrevieram de certo, e fizeram com que s. exa. não tratasse d'aquelle a que me refiro. Chamando de novo a attenção do governo para elle, contava antecipadamente que havia de o encontrar nas mesmas disposições favoraveis que manifestou o sr. ministro das obras publicas.

Resta me, por ultimo, agradecer ao digno par o sr. marquez de Vallada e ao sr. presidente do conselho de ministros as expressões de sympathia e amisade, que é a unica maneira por que posso qualificar as que me dirigiram e empregaram com respeito á minha pessoa.

O sr. Marquez de Vallada: - Poucas palavras tenho tambem a proferir. Devo antes de tudo registar as declarações do illustre presidente do conselho de ministros, e manifestar-lho o meu agradecimento pelas expressões benevolas com que me honrou, relativamente á minha administração do districto de Braga, e á maneira por que me conduzi na questão das misericordias do mesmo districto. É para mim de muito peso a opinião de um cavalheiro tão illustrado e que reputo muito imparcial.

Devo tambem declarar que me foi muito agradavel ver a maneira por que s. exa. me respondeu com relação ás observações que fiz ácerca das offensas e insultos dirigidos a toda a familia real, insultos que se repetem quasi todos os dias, e que não têem comtudo chegado certamente ao conhecimento do sr. presidente do conselho, porque, preoccupado como s. exa. se acha com os negocios do estado, não tem tido tempo para ler os jornaes a que me referi, e que são de todos conhecidos. Não posso citar o que n'elles se diz, porque a isso se oppõe o respeito que devo a este logar, e a dignidade de meus collegas e da minha pessoa. Entretanto espero que o governo fará cohibir os abusos, e que o meu nobre amigo o illustre governador civil que tenho a satisfação do ver presente, pessoa vem quem muito confio, fará chegar ás mãos do governo as folhas a que alludo.

Concordo em que as perseguições, no sentido rigoroso que deve significar esta palavra, são inuteis; mas nós não estamos em tempo de perseguições, e só se pede justiça. E se vamos a chamar perseguição a tudo que é fazer justiça e cumprir as leis em vigor, então o melhor é fechar os tribunaes.

Olhemos para os exemplos que está dando a França republicana, que são bem notaveis; vejamos como ali, n'esse governo de republica, de que se mostram muito admiradores alguns progressistas do nosso paiz, se entende como a liberdade deve ser praticada, e notarei de passagem que ainda ha pouco foi punido um jornal, que lançára certo ridiculo sobre mr. Grévi, presidente da republica franceza.

De passagem direi tambem, a proposito de republica, que acredito haver n'esta terra quem deseje o advento da republica; eu, porém, declaro solemnemento que não tenho esse desejo, e hei de me oppor com toda a energia do meu espirito a toda e qualquer propaganda no sentido republicano.

Respeito muito alguns homens que pertencem ao partido republicano, e manifestam as suas opiniões claramente; mas eu, que sou monarchico e membro do uma camara conservadora o liberal ao mesmo tempo, não quero concorrer para que estes manejos tenham feliz exito; hei de oppor-me tenazmente a elles.

Podem dizer de mim quanto quizerem, que não tenho medo; hei de cumprir a minha missão, e não temo as injurias nem as ameaças.

A minha posição está definida; é hoje como era hontem, como ha de ser ámanhã. Podem os taes liberalistas insultar-me quanto quizerem, porque os desprezo soberanamente. Quanto a mim pouco se me dá do que disserem a meu respeito.

O sr. presidente do conselho, a cujo caracter presto verdadeira homenagem, disse que muitas vezes as perseguições não dão o resultado que se pretendo; mas ao mesmo tempo claramente declarou que veria se as informações que eu dei eram exactas, e que no caso de o serem, daria as ordens necessarias para que se cumprissem as leis; se no entanto reconhecesse que estas não eram efficazes, proporia quaesquer medidas tendentes a reprimir estes abusos.

Ora, eu devo dizer, que estas insolencias contra o Rei e familia real não são na maxima parte productos de imaginações exaltadas; são manejos ibericos. Eu, porém, que me tenho insurgido sempre contra os ibericos, contra os zorillistas e contra os seus delegados, que aqui existem ha muito tempo, digo-o francamente; hão se admirem, que, se tanto for necessario, serei mais claro e positivo, com relação a certas conspirações e a certos conspiradores ibericos, que pretendem desthronar o senhor D. Luiz, para o que carecem de o desconceituar na opinião publica, e com esse fim é que se empregam estes meios.

Eu tomo sempre a defeza dos bons principios, com verdadeira energia; direi por essa rasão que é necessario que o governo, que tem as suas auctoridades nas differentes provincias, as obrigue a cumprir o seu dever.

O sr. presidente do conselho sabe perfeitamente que estas minhas observações não são novas. S. exa. de certo se lembra de uma interpellação que eu dirigi já ha annos ao governo, relativamente a manejos ibericos, quando se sentava no throno de Hespanha a senhora D. Izabel II, sendo ministro o sr. Narvaez, e representante d'aquelle paiz em Lisboa o sr. Coelho.

Por essa occasião estes dois homens de estado, dirigiram-me os seus agradecimentos pelo modo por que eu tinha, n'esta tribuna, defendido a independencia das duas corôas, pois que os governos monarchicos de Hespanha não são os que conspiram contra a cassa independencia. Os que conspiram são os revolucionarios.

Nós devemos ter todas as attenções devidas com a vizinha Hespanha, e procurar obter relações amigaveis com aquelle paiz; mas nada de iberismos, por nenhum modo, em nenhum caso, nem com qualquer fórma de governo.

O meu receio, porém, não é dos monarchicos, é dos republicanos, e dos taes zorillistas. D'estes é que póde vir o mal.

Quando em 2 de abril de 1873, eu verifiquei outra interpellação sobre manejos ibericos o conspirações contra o nosso monarcha, assistiu todo o ministerio, exceptuando o sr. Barjona de Freitas, que não póde estar presente; mas sabendo s. exa. as palavras que eu tinha proferido, encontrando-me depois, dirigiu-me, os seus encomios. O sr. Antonio de Serpa e o sr. Sampaio, que tambem estavam presentes, devem lembrar-se bem de eu ter dito que os conspiradores republicanos de então se ligavam por vezes para seus fins com os conspiradores absolutistas no tempo em que os carlistas e communintas guerreavam e disputavam o governo d'aquelle paiz, e embora se ligassem quando soasse a hora do triumpho, então os triumphadores se desligariam dos seus companheiros da vespera.

Eu não abandono esta cruzada.

É preciso que não nos extasiemos diante dos factos, mas que lhes procuremos as causas.