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SESSÃO N.° 44 DE 10 DE AGOSTO DE 1911 5

Acho bem, mas espero que tudo se passe com serenidade e sem ferir demasiadamente a nota politica, sem ferir qualquer paixão levada ao extremo que perturbe, sem ferir a nota da intransigencia que irrita, sem ferir a nota pessoal que magoa, mas tambem sem uma subalternidade ou humilhação, qualquer cousa em summa que degrade.

Sr. Presidente: o assunto que se discute apaixona aquelles que teem inclinações e dedicações pessoaes, e que, provavelmente, em sua consciencia, já escolheram os seus homens; mas, elle deve apaixonar, primeiro que tudo e antes de tudo, aquelles que defenderem principios.

É porem necessario, Sr. Presidente, que essa paixão não seja tanta que prorogue sessões como já teem havido. Dias que teem sido para mim, dias de verdadeiro desconsolo! Dias em que tenho sentido, de meu sentimento a vincar-me na alma a desesperança, e a perturbar-me o espirito por ver desfeito o sonho acariciador, que eu sonhava, de assistir ao resurgimento da nossa patria pela Republica.

Grande sussurro.

O Sr. Gastão Rodrigues: - Ainda não houve cá d'isso.

O Orador: - Não houve? E a sessão de 24 á noite?

Se eu pudesse personificar a patria, dir-lhe-ia que ella tinha sido ferida nas suas affeições mais intimas e nas suas aspirações mais generosas! Nas affeições da verdade, da justiça e da razão, trilogo de condições necessarias e indispensaveis para reconstruir uma patria como é necessario reconstruir-se á moderna, para fazer uma sociedade como é necessario fazer-se util; e para mostrar um povo como é necessario mostra-lo aos olhos do mundo, honesto e honrado, com seu destino e o seu fim.

Não houve? É a sessão de 24 á noite?

Se eu pudesse personificar a patria dir-lhe-ia que ella tinha sido ferida nessa sessão de tal maneira que para lhe dar uma agonia lenta, para ser mais martyrizante, lhe ficará aberta uma chaga sangrenta deixando escoar gotas sem fim a cair-lhe em cima da dignidade.

Eu sei, Sr. Presidente, sei pelo que tenho visto, sei pelo que tenho ouvido, sei que na Assemblia Constituinte se revela um espirito de independencia e liberdade de tal maneira que consola e que encanta.

Ha aqui vivacidade! Ha aqui energia! Mas, Sr. Presidente, quisera eu que esse espirito não se revellasse tão audacioso e tão irritante, tão revoltoso e tão extravagante que um espirito de rebeldia ou de indisciplina dando ás cousas mais graves o aspecto das cousas mais tristes, e ás cousas mais serias a aparencia das coisas ridiculas.

Sr. Presidente: eu não quero, portanto, eu não tenho o direito de querer; tenho apenas a obrigação de pedir e, de manifestar um desejo.

E é por isso que eu peço e desejo que a Assembleia não veja nas minhas palavras o mais ligeiro sinal de censura, o mais insignificante vestigio de uma insinuação que não faço e que sou incapaz de fazer.

Quero que vejam nas minhas palavras simplesmente aquillo que quero dizer, e aquillo que ellas significam tanto é o cunho de einceridade que lhes imprimo, inferior talvez á minha á minha propria sinceridade.

E faço-o porque sinto que nos espreitam de casa e de fora, os amigos e os inimigos. (Apoiados).

Os de casa, porventura, para nos aconselhar e orientar, se andarmos por caminho errado; os de fora para nos observar, tentando, talvez, desviar-nos da ampla estrada por onde os homens honrados, os homens de bem, se podem encontrar sempre, de cabeça erguida, deante de outros homens de bem.

Os amigos espreitam-nos, no justificado anceio de nos abraçar, chorando talvez a satisfação de consolidada a Republica poderem dormir o somno tranquillo da morte á sombra da bandeira da Republica, feita de sangue e de esperanças, da bandeira da liberdade, que uma revolução triunfante içou victoriosa do topo da Avenida.

Por estas razões, Sr. Presidente, é necessario que partamos, todos, desde V. Exa., que julgo ser o mais velha, até o mais novo dos Deputados d'esta Camara, que partamos todos accordes, revestindo-nos da maxima energia e da maxima grandeza moral, porque a resultante, a somma d'essas grandezas, dará, sem mais, a grandeza moral da Republica.

Porque é preciso que a obra da Republica, não só pareça, mas pareça e seja uma obra de moralidade.

Sr. Presidente: ha dias, um Ministro, encontrando me na sala dos Passos Perdidos, dizia-me que eu tendo renunciado ao meu logar, me tinha, a mim mesmo, votado ao ostracismo.

Não lhe respondi para não lhe dizer que consinto, que admitto e que acceito que se votem ao ostracismo os homens que se julgarem inuteis.

Não lhe respondi para não lhe dizer que consinto que, não havendo possivel regeneração, se votem ao ostracismo os homens que forem perturbadores e dissolventes.

Não lhe respondi, porque teria de lhe dizer que não, que não quero, que, não admitto, e que não pode consentir-se, que, um Ministro, o Governo ou a Assembleia Nacional votem ao ostracismo a moralidade republicana.

É a minha proposta de additamento resolve a nossa moral, sem ferir os nossos principios, e sem calcar o nosso passado, porque não será prudente, nem de boa moral que qualquer Ministro apresente a sua candidatura á eleição presidencial da Republica, se á data da sua eleição não tiver sanccionados, pelo poder legislativo, todos os actos que praticou como Ministro.

Eu bem sei, Sr. Presidente, que nesta hora a nossa patria caminha para regularizar a sua vida economica, a sua vida politica, e infeliz seria ella se voltassem dias de ditadura, porque julgo que neste país não poderá haver mais ditaduras.

Mas é possivel que, sem haver as ditaduras francas de outro tempo, as que se faziam para subornar, para encobrir toda a especie de falcatruas, e preparar toda a especie de violencias, é possivel, repito que, sem tornar a haver neste país ditaduras, revelando audacia e despotismo, por serem inadmissiveis, possa haver muitos actos de favoritismo, possa haver muitos actos a condemnar.

Os homens, sejam elles quaes forem, estão sujeitos, um, dia, uma vez, a praticar actos condemnaveis.

É da condição humana errar, e se ha delictos de entendimento que se perdoam, ha tambem delictos de vontade que se castigam.

Delictos de vontade perversa, desde o soborno, até a mais completa perversão moral.

Sr. Presidente: eu não quero, de modo nenhum, personificar, como o Sr. Dr. Alexandre Braga. Eu não me dirijo aos Ministros que estão; mas a todos os Ministros, de todos os tempos; não me dirijo a ninguem, exactamente porque me dirijo a toda a gente.

E quem diz, que não tenhamos, nós, ou atrás de nós os que vierem, quem diz que não tenham actos que censurar ou que discutir? (Apoiados).

Estas coisas, que á Assembleia Legislativa podem parecer minimas, pequenas coisas a levar em conta, comparando-as com a grande coisa de eleger um Presidente de Republica, podem vir a ser enormemente perturbadoras da vida interna e externa, da vida tranquilla do país.

Triste de um país em que, para se eleger o seu primeiro magistrado, o seu Presidente, não houvesse onde escolher senão entre os sete ministros que se assentam nas cadeiras do poder.