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Sessão de 2 de Março de 1921 5

É por isso que eu, recordando êsses momentos que são solenes para a minha vida de português, choro e lamento a perda dêsses homens.

Três republicanos históricos, três republicanos dos mais honestos, três republicanos dos mais combativos da República, três republicanos que estavam sempre decididos a morrer pela Pátria e a sacrificar-se pelo bom nome e salvação da República.

Morreram vítimas da desorientação causada por alguns Govêrnos que a República tem tido e pela pouca justiça que tem sido feita aos republicanos de 5 de Outubro de 1910.

Os seus assassinos foram armados e levados ao crime não pela revolução de 19 de Outubro, mas pelos erros do passado.

Apesar de terem sido êsses três republicanos os que mais defenderam as instituições, foram precisamente os que caíram assassinados, devido, como já disse, aos erros cometidos pela República.

É triste, é doloroso!

Não quero terminar sem dizer palavras de homenagem à memória de Pedro Bôto Machado, outro republicano histórico, e meu conterrâneo. Fui eu que tive a honra de o vir substituir nesta Câmara.

Foi mais um republicano histórico que desapareceu e que muito sofreu pelas injustiças praticadas pela República.

O Sr. Artur Costa: - Sr. Presidente: as minhas primeiras palavras são de saudação para V. Exa. e para toda à Câmara.

Sr. Presidente: muito poucos serão os Senadores aqui presentes que fizeram parte desta Câmara após a implantação da República, e aos quais eu e Pedro Bôto Machado tivéssemos sido companheiros.

É especialmente a Bôto Machado que eu quero referir-me, sem deixar de me associar aos votos de sentimento e palavras de saudade pela memória dos parlamentares falecidos no interregno legislativa.

Mas, se realmente já não estão nesta Câmara muitos dos parlamentares que foram companheiros do Bôto Machado, Os novos que aqui se encontram tiveram dêle conhecimento pessoal ou por tradição.

Desnecessárias, por isso, seriam as minhas palavras para fazer um rápido esboço da vida dêsse republicano, mas eu não ficaria bem com a minha consciência se as não proferisse, pela circunstância especial do ter sido seu amigo pessoal e íntimo, seu conterrâneo e companheiro dêle no Parlamento, desde a Assemblea Nacional Constituinte até 5 de Dezembro de 1917, em que fomos expulsos dêste edifício pela negregada e nefanda seita dezembrista.

Bôto Machado era um republicano de princípios, de convicções e de honestidade.

Na madrugada de 31 de Janeiro bateu-se nas ruas do Pôrto como sargento de infantaria n.° 18, pelos seus ideais.

Condenado pelos tribunais em quatro anos de degredo, foi cumpri-los à África.

Nessa época não houve ninguém dos monárquicos que se levantasse a favor duma amnistia, tendo sido bem mais felizes, agora, os monárquicos, que tiveram entre os republicanos espíritos generosos, que eu não censuro, que têm pugnado por êles.

Depois de ter cumprida a pena, regressou à Europa e foi trabalhar para a sua terra natal, a vila de Gouveia.

Bôto Machado, que em Gouveia podia gozar tranquilamente a vida, continuou persistentemente a trabalhar pela República, na esperança do estabelecimento das novas instituições.

Distribuía pelos pobres os seus rendimentos ocultamente, porque não era de exibicionismos.

Êle foi o homem que mais bem dispensou às classes proletárias.

Construiu a suas expensas uma casa para a associação e escola dos operários; estabeleceu, antes de ser lei, o regime das oito horas de trabalho.

Todos em Gouveia reconheciam a sinceridade de Bôto Machado nos seus actos e por isso lhe tributavam um grande respeito.

Proclamada a República, cuja notícia recebeu com grande alvoroço, veio ocupar uma cadeira desta Câmara. Muitos se devem lembrar da sua correcção e como êle se dedicava carinhosamente a todos os assuntos que tratava, e o seu respeito pela lei e a consideração que tinha por todos os seus colegas.