1170 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 96
(...) que naturalmente se devem adaptai às necessidades de um aproveitamento múltiplo da infra-estrutura a criar
Do mesmo modo se entende, que seria proveitoso aprofundar os estudos referidos, tendo em vista a complementaridade de investimentos e de decisões de política económica e social que, em conjunto, se destinem a desencadear o desenvolvimento da região. Na verdade, o plano geral em estudo enquadra-se em dinâmica mais vasta, do que a considerada, dinâmica que deverá ser estimulada harmònicamente para que resultem transformações e inovações mais profundas ou generalizadas do que as previstas quase exclusivamente para o sector agrícola.
Embora o estudo económico que figura no plano, sendo incompleto, se possa também considerar como prudente e suficiente, encerra o defeito de não ter tentado como já, se referiu, a exploração da efeitos apontados como possíveis na economia regional. Esta observação da Câmara Corporativa baseia-se no princípio de que uma sã política de desenvolvimento económico e de progresso social, baseada num judicioso emprego de recursos disponíveis e orientada por necessidades reais a preencher, se não conforma com qualquer justificação económica de um investimento procura a forma de conceber, ao longo do espaço económico e do tempo e em todos os compartimentos da orgânica social, um planeamento de iniciativas e de actividades que proporcione as garantias da máxima reprodutividade em termos de desenvolvimento económico e de progresso social.
Na verdade, não pode deixar de se ter em conta que o problema do Mondego, por ser antigo, representa hoje certamente custos enormes nas contabilidades regional e nacional As tentativas de resolução, insuficientes ou incompletas, como a do P.ª Estêvão Cabral, em 1781, mantidas depois com permanente dispêndio, esforço- e ineficácia, os projectos, de execução sempre adiada, como os de Adolfo Loureiro, em 1873, e o da Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, em 1940, tudo significa, anualmente, o avolumar de custos materiais e humanos agravados pelos prejuízos causados pelas inundações prejuízos físicos directos, perdas de colheitas e de salários, subsídios de emergência ou de compensação por agravamento dos custos, interrupção de serviços públicos e de transportes, prejuízos nas relações comerciais, despesas anormais, etc , além do custo da insegurança, ou do efeito inibidor da presença de riscos reais, presença que limita a iniciativa e entrava a inovação no domínio das actividades económicas e da vida social.
Não resta dúvida de que seria de boa economia enfrentar, com urgência, o problema do Mondego.
12. O estudo económico da transformação a obter nos terrenos dominados pela rega baseia-se, no plano em análise, no confronto de resultados de um antes com um depois da obra, ou um depois do seu normal aproveitamento. Não há nada a observar quanto ao método, uma vez que se pretende extrair do confronto do quadro da actualidade com o modelo previsto apenas a base de um cálculo financeiro que justifique, em termos financeiros, o investimento.
Deve notar-se, entretanto, que não só o inquérito que permitiu definir o quadro de actualidade como também. a construção do modelo de previsão representam um esforço de análise e de síntese, dispendioso e utilíssimo, que bem poderia ter sido simultaneamente orientado no sentido ao planeamento ou da programação das fundamentais transformações visadas.
Descortinam-se no quadro, da actualidade obtido por inquéritos os baixos níveis de produtividade, da agricultura, resultantes não só da falta de domínio das cheiras como também das deficiências do regrado, situação que explica de certo modo a sobrevivência de métodos tradicionais de produção, baseados em técnicas, equipamentos e estruturas de há séculos, mantidas sem melhoramentos significativos.
Desta realidade evidente resultou, logicamente a adopção do conceito muito generalizado de que, uma vez dominadas as cheias e bem abastecidas as antigas condutas, bem como os novos canais de rega, todos, os problemas ficaram resolvidos.
Não se poderá contestar o rigor do conceito, mas interessa saber, para salvaguarda do êxito do plano, a forma como se deve operar a vasta e profunda transformação que neste processo se encontra implícita
Em, 2.ª fase o plano prevê um depois, que se baseia, sem dúvida, em criteriosa avaliação das potencialidades da viabilidade das técnicas e das culturas, quantificando apenas, na síntese elaborada, os caudais de rega. Assim, de acordo com o conceito generalizado, tudo passa a ser função da presença ou das doses adicionais do factor água, relegando-se para um brotar espontâneo outros factores também limitativos que ficaram por medir ou talvez por ponderar, admitidos como produto de uma hipotética «assistência técnica» agronómica não planeada nem programada, isto é, tam bem não quantificada.
De acordo com esta óptica, parece evidente a adesão do plano ao critério generalizado de que a defesa contra as cheias e a rega actuaram nos campos torturados pela inundação ou pela seca como uma espécie de novo e potentíssimo adubo capaz de, por si só, garantir a génese dos novos rendimentos e com eles o bem-estar dos agricultores. Esta posição, já assumida em outros planos de obras de fomento hidroagrícola explica, em grande parte, muitas das dificuldades já registadas.
A. construção de barragens, de canais de lega e de valas de enxugo tem como único e exclusivo efeito, nas áreas dominadas, a supressão do carácter limitativo do factor água. Claro que o nível de disponibilidade do factor água limitava naturalmente os níveis de utilização de outros factores, condicionando a intensidade do. sistema produtivo Ora, a solução do problema da água obriga a rever simultaneamente os níveis de emprego de outros factores, sem o que não pode obter-se o efeito multiplicador do empreendimento que permite a solução do problema da carência de água
No planeamento da criação de novos regadios ou da transformação de regadios deficientes dispõe-se hoje de técnicas operacionais, rigorosas e expeditas, baseadas em «funções de produção», que permitem quantificar os factores em obediência a situações de equilíbrio do sistema de produção.
O problema do Mondego oferece condições típicas para aplicação dessas técnicas, porque, concretamente, a defesa contra as cheias e a rega, pelo acréscimo de factores que representam, alteram a eficácia de outros factores também dominantes que, situados depois em carência, oferecem penosos estrangulamentos a implantação de novo sistema produtivo. Em rápida síntese pode ter-se como certo que a «variedade» cultivada que, em prodígios de adaptação, resistiu a cheia ou à secura se apresenta incapaz de dar resposta. As novas condições e tem de ser substituída, com maior segurança e com mais abundantes caudais, haverá que modificar as técnicas de fertilização, recorrer a, novas plantas e animais - controlar as doenças, as pragas e as ervas infestantes. O óptimo, do uso da água de ser conhecido e a dimensão, organização e gestão empresa, terão de adaptar-se ao novo condiciona