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1852 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 111

nalmente ao lado e ao dispor de V. Ex.ª, daqui para o futuro assim continuaremos, até porque as responsabilidades de V. Ex.ª e as nossas são agora muito maiores.
E eu felicito-me por termos V. Ex.ª a presidir a esta Câmara e faço votos a Deus para que seja por muitos anos, pois a eficiência da Câmara Corporativa traduz bem as qualidades de inteligência, de carácter e de nobreza de V. Ex.ª e são para nós a garantia de que não deixará de contribuir para que Portugal seja cada vez maior e melhor.

Vozes: - Muito bem, minto bem!

O Sr. Manuel de Azevedo e Vasconcellos: - Sr residente. As horas graves, a um tempo de dor e de esperança, que a Nação tem vivido desde que a doença, impiedosa, prostrou Sal azar, muitos, com brilho e elevação a que não aspiro, antes de mim as comentaram. Porquê, pois, dizer ainda nesta Câmara outras
palavras que nada fundamentalmente conterão de novo?!
A personalidade já histórica de Salazar tem sido exaltada, desde há muito, pelos mais altos espíritos de Portugal, como ante a sua figura gigantesca além-fronteiras expoentes máximos do pensamento o da acção sempre reconheceram a sua grandeza.
Agora, porém, ergue a sua voz tão descolorida um conterrâneo anónimo de Salazar, um beirão, também, que o conheceu e admirou desde que teve a honra de ouvir, atentíssimo, as suas lições magistrais logo no primeiro ano em que regeu cadeiras na veneranda Universidade de Coimbra. Mas, sobretudo, é um homem da terra, e um lavrador de Portugal, que aqui quer hoje curvar-se emocionalmente ante a sua portentosa personalidade. Da ruralidade portuguesa veio também Salazar. No espírito de muitos que me ouvem porventura estará ainda presente a recordação de uma homenagem que dos quatro cantos de Portugal um dia lhe foi prestada - e tão profundamente e comoveu, pelo seu alto simbolismo.
Traziam-lhe, a velha moda, um singelo, singelíssimo, presente - terra, terra portuguesa, terra de todas as aldeias de Portugal, que com tão maravilhosa abnegação, em total sacrifício, com amor sem limites, durante quarenta anos como ninguém, serviu. A minha voz quer ser nesta sala n ressonância da terra humilde, da terra dos séculos, da história que se perde na bruma do passado e com a qual em plena comunhão sempre viveu Salazar. Mas a terra bendita de Portugal é o chão sagrado que pisamos, de que somos constituídos e a que inelutavelmente regressaremos. Somos todos nós seus filhos, na sucessão das gerações, e, tendo-a no sangue, com ela e por ela fizemos uma pátria gloriosa, que se projectou em todos os continentes, que abraçou o Mundo, levando a toda a parte uma mensagem cristianíssima de amor, que constitui nossa suprema honra e que nenhuns outros puderam ainda superar.
Esta pátria, tão rica de história, encontrou-a, porém, Salazar em profunda depressão quando o Exército, intérprete dos mais profundos anseios da grei, lhe impôs o pesado fardo do poder. Doutrinas perniciosas haviam criado um ambiente de instabilidade, que trouxe a Portugal, gradativamente, a ruína material e o aviltamento moral As qualidades malas dos homens que tão alto haviam subido o tão significativamente se haviam projectado no Mundo eram sacrificadas a ideologias malsãs, que tudo já começavam subverter.
Foi neste ambiente que Salazar surgiu e desde a primeira hora se impôs, no respeito da Nação, pela sinceridade das suas palavras, que, ainda escondendo, tudo prometiam.
Começou então, em esforço discreto, mas perseverantíssimo, a acção gloriosa de Salazar. A perturbação, à indisciplina dos espíritos, lentamente se impuseram conceitos de autodisciplina a possibilitarem novos surtos de acção. Primeiro, foi a regularização das contas públicas, a defesa da moeda, o crédito restaurado. E sobre estes seguros alicerces se levou em seguida a cabo a renovação da Nação, por um esforço ingente de reconstrução material, pela própria revalorização humana.
Em todos os sectores a visão claríssima de Salazar se fez sentir. Obras públicas com que na minha mocidade mal ousávamos sonhar tornaram-se a pouco e pouco realidade espectacular. Fontes novas de actividade começaram surgindo por toda a parte, porque o crédito e a poupança renovada, e a confiança restabelecida, e as directrizes que se apontavam, constituíam bases que nos permitiam avançar de novo, com vista a um progresso nunca antes entre nós conhecido. Cuidou-se a par, afincadamente, da valorização humana, extinguiu-se nas novas gerações o analfabetismo, difundiu-se o ensino em todos os seus aspectos, fomentou-se a mais alta cultura, defendeu-se a saúde, iniciou-se uma corajosa política da habitação, promoveu-se a cobertura social, pela previdência, de já nestas camadas de população, asseguraram-se condições de acção eficiente à Igreja Católica, nossa mãe, através normalização, por via concordatária, de quanto restava da obra nefanda do jacobinismo de 1911 - difundiu-se, em sumárias palavras, dentro de um sentido mas nobre da vida, maior bem-estar, pela lápida criação e satisfação de crescentes anseios generalizados a todos os portugueses. Num puderam obstar a tal, embota por vezes impusessem afrouxamentos na acção, crises muito graves, como a guerra civil da vizinha Espanha, em que Salazar contribuiu poder ocamente para afastar de nós a ameaça comunista, a rondar já as nossas fronteiras, como o não inutilizou a segunda guerra mundial, sacrifício, expiação imensa, de que Salazar soube defender-nos com a mais alta dignidade. E quando infames conluios externos atentaram nas nossas províncias ultramarinas contra a integridade da Pátria, a voz serena, mas firmíssima, de Salazar vimos acorrer de todos os contos, em batalhões cerrados, a gente moça de Portugal, para assegurar, com indómita bravura, a perenidade da nossa historia!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Glória, glória imensa a Salazar, que vai ter, por tão altos serviços, lugar eterno entre os grandes de Portugal!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas um dia, já lá vão dois meses, a doença abateu de súbito Salazar. A Nação, surpreendida, despertou em dor perante tão grande desgraça. Todas as cabeças se em varam respeitosas, e em quantos é bem vivo o sentido da Pátria a comoção, avassaladora, dominou-os impressionantemente. Então se mediu bem o prestígio imenso deste homem de génio, deste patriota sem mácula que a Portugal tudo deu - mas a quem Portugal está rendendo honras que a ninguém mais, de memória de homem, prestou!
Possa Deus ouvir as preces de todos nós e na luta impressionante que trava com a morte assegurar-lhe ainda uma vez a vitória. Hoje, Salazar é já só um tenuíssimo fio de espírito, mas esse mesmo, no fundo das, nossas almas, actua ainda, avivando mais e mais a chama do nosso patriotismo.
Numa hora tão grave, a Nação inteira reagiu maravilhosamente. Murmurava-se, inconsideradamente, mais ou menos por toda a parte, que a Revolução Nacional fora obra de um homem e a este não sobre viveria. Textos