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26 DE NOVEMBRO DE 1968 1853

constitucionais cujo alto sentido se não recusava afirmavam a reconstrução de um Estado autoritário, nacional e corporativo, inspirado em sábio, prudente empirismo organizador, mas tudo se considerava frágil barreira a ceder quando o seu inspirador tombasse. E o caos voltaria.
Afinal, tão sombrios presságios desmentimo-los, instintivamente, todos nós, porque a todos Salazar em quarenta finos de extraordinário magistério soubera dai nova alma, novos fundamentos ao nosso patriotismo, uma fé ardente nos destinos imortais da Pátria, que queremos continuar sempre engrandecida! Os tempos de apagada e vil tristeza não voltariam mais! Este foi, permita-se-me a palavra, entre tantos, a último, o supremo milagre de Salazar!
Assim, quando um dia o Venerando Chefe do Estado, com a voz embargada pela mais nobre emoção, teve de dizei aos Portugueses que a vida pública de Salazar findara, todos, unidos, a seu lado, o acompanharam, plenamente identificados com as suas tão impressionantes palavras. E, ao ouvirem que, através do mais escrupuloso exercício das suas altíssimas funções, com impecável, elevadíssimo sentido das suas responsabilidades, designara Marcelo Caetano para novo Presidente do Conselho de Ministras, todos, todos, dos mais variados sectores da opinião pública, em impressionante unanimidade, reconheceram no novo chefe o chefe indiscutido, o primeiro entre os primeiros para retomar o facho sagrado da Pátria! E à dor, pelo afastamento de Salazar, uniu-se a esperança.
Na verdade, reuniam-se em Marcelo Caetano um conjunto tal de eminentes qualidades que o apontavam de larga data como sucessor designado de Salazar - desde a nobreza, a discrição da sua vida particular, as animações públicas dos seus peregrinos dotes intelectuais, como professor eminente, como jurisconsulto, como historiador, como político. Neste último aspecto, ocupar a postos da mais alta responsabilidade, cujo exercício garantia íntima comunhão espiritual com Salazar, sempre com o seu esforço servindo distintìssimamente a Nação.
A hora era, pois, de esperança .. Mas logo esta se tronou indiscutível certeza, perante as primeiras palavras dirigidas a todos os portugueses, neste mesmo Palácio de S. Bento, pelo chefe recém-investido em tão alta função. Essa alocução, para sempre memorável, impressionou profundamente a Nação, pela serena objectividade com que focou o que é basilar e pela firmeza com que se propõe defendê-lo. Colocando-se rigorosamente dentro do quadro constitucional, a todos afirmou que iria continuar, em respeito pleno pelas linhas de rumo anteriores, uma obra que nos seus fundamentos ideológicos, como nas suas realizações essenciais, não podia ser contestada «Pensei - disse - no povo português que, bem o tem demonstrado, pela sua exemplar conduta cívica nesta ocasião, anseia antes de tudo por que se mantenha a independência nacional, a integridade do território, a ordem que permita o trabalho e facilite a aceleração do progresso material e moral. Pensei particularmente -continuou - na necessidade de não descurar um &ó momento a defesa das províncias ultramarinas, is quais me ligam tantos e tão afectuosos laços e cujas populações tenho presentes no coração. Pensei nas forças armadas, que vigiam em todo o vasto território português, e nalgumas partes dele se batem, lutando contra um inimigo insidioso, em legítima defesa da vida, da segurança e do labor de quantos aí se acolhem à sombra da nossa bandeira. Pensei na juventude, a quem as gerações mas velhas têm de ajudar a preparar-se para vencer as árduas dificuldades de um futuro cheio de interrogações ... »
Palavras lapidares foram estas! Mas bem consciente das realidades, logo adiante acentuou que, se é sua preocupação assegurar a continuidade, «não apenas na ordem administrativa, como no plano político», essa continuidade «implica uma ideia de movimento, de sequência e de adaptação. A constância das grandes linhas da política portuguesa, e das normas constitucionais do Estado, não impedirá, pois, o Governo de proceder, sempre que seja oportuno, as reformas necessárias».
Especialmente grata a esta Câmara, em que se encontram organicamente representadas todas as actividades da Nação, a partir de um conceito de função social, terá sido sem dúvida a primeira grande audiência pouco depois concedida pelo Chefe do Governo precisamente aos presidentes de todas as corporações, em demonstração iniludível da alta relevância da função que estas exercem «como aparelho vital da Nação» E, logo adiante, a concluir, sublinhou que «o Governo, fiel à Construção Política, não pode deixar de ser fiel aos ideais corporativos». Já em acto posterior, com notabilíssima clareza, o Chefe do Governo apresentou à Nação, em síntese flagrante, mas bem explícita, o alcance imenso da revolução corporativa, revolução permanente, a abarcar o País inteiro, porque nunca os seus objectivos se poderão considerar atingidos, por sempre mais e mais ambiciosos. A tudo com efeito domina, nas sociedades contemporâneas, a ânsia pela realização de uma grande promessa de reforma social.
Mas, Sr. Presidente, é tempo de findar.
O Sr. Presidente do Conselho a todos pediu, na sua primeira alocução, um «crédito aberto ao Governo, dando-lhe tempo para estudar problemas, examinar situações, escoar soluções». Com confiança total, até com ridente entusiasmo, aqui estou, e certamente toda a Câmara, deferindo este pedido formulado com o mais alto sentido das responsabilidades. A revolução continua, continuará sempre, com Marcelo Caetano hoje a sua frente, talhando o caminho da justiça social, através do progressivo enriquecimento material, espiritual e moral de todos os portugueses e, por sua via, de Portugal!
Tenho dito

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Vasco Lopes Alves: - Sr. Presidente, Srs. Procuradores. Peço, antes de mais, para apresentar a V. Exa. Sr. Presidente, os meus mais respeitosos cumprimentos com sinceros protestos de muita admiração pela forma impecável como vem conduzindo, há longos anos, os difíceis trabalhos desta Câmara.
E cumpre-me também agradecer-lhe, penhoradamente, ter-me concedido o uso da palavra, para poder referir-me, na presente sessão, a uma ocorrência que tanto tem preocupado todos os portugueses e cuja evolução tão ansiosamente tem sido acompanhada pelo País inteiro - a doença do Sr. Presidente Salazar.
Seja-me ainda permitido afirmar neste momento a todos os Srs. Procuradores, que muito desejo poder interpretar, no apontamento que a seguir deixo expresso, os comovidos sentimentos de dedicação e as manifestações persistentes de esperança que em todos os sectores se têm revelado, inequivocamente, na grave emergência que a este respeito temos atravessado.
O acidente que inesperadamente atingiu o Sr. Doutor Oliveira Salazar surgiu também como um golpe profundo na vida emocional de todos nós, sem que tenha havido um só sector de opinião, mesmo para além daqueles que pessoal ou politicamente lhe tributavam dedicação maior