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1508 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 114

temente afirmando o seu profundo e sincero desejo de que, na paz todos possamos contribuir para um Portugal cada vez melhor, um Portugal que todos possam alcançar um nível de vida compatível com os direitos humanos que constituem o corolário de um cristianismo automáticamente vivido, sem deturpações e isento de intenções tantas vezes obscuras e demagógicas. Tal linha de pensamento e de actividade exigirá sacrifício e deste nos deu V. Ex.ª o primeiro exemplo ao aceitar o terceiro mandato para que foi eleito. Ocorre o início deste mandato no ano em que se celebra o IV centenário da publicação imortal poema em que Camões sonhe cantar as virtudes de uma raça que, enfrentando tantas vezes as maiores dificuldades e incompreensões, tem conseguido impor-se pelas qualidades que os séculos não diluíram e que os governantes de hoje não podem deixar adulterar.
As virtudes e militares do povo português, que V.Ex.ª tão dignadamente representa, têm de ser preservadas da nefasta influência de ataques frontais subtis que nos vêm do exterior e, por vezes, também do interior.
Numa das últimas estrofes de Os Lusíadas, o Poeta escreveu:

...................................................
A disciplina militar pretende
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando...

Não teria Camões total razão, pois há também que «sonhar, imaginar e estudar» e, neste momento, apenas procuramos acentuar que o desenvolvimento e o progresso de um povo não se aprende na fantasia», tornando-se necessário «ver, tratar e pelejar». Disto nos têm dado o mais extraordinário exemplo as forças armadas portuguesas e este admirável povo em cujo nome, como Deputado, nos cabe também a honra de saudar V.Ex.ª no dia histórico que hoje vivemos.
E que as nossas últimas palavras, nesta sessão de tão grande significado, correspondam a um voto sincero e vibrante. Na nova etapa da caminhada sem fim em que todos estamos empenhados - os portugueses do passado, do presente e do futuro - que Deus ilumine o espírito do mais alto magistrado da Nação, inspirando ao mesmo tempo aqueles que nos governam para que, com a boa vontade de todos, uma vez mais possamos marchar unidos, não apenas na defesa da Pátria comum, garantindo-lhe a necessária integridade, mas também na defesa do bem-estar de todos os que constituem esta gloriosa Nação e no cristianismo propósito de melhorar as suas condições de vida, alargando-lhe, tanto no campo de valores materiais, como no de valor espirituais, os mais rasgados horizontes.

No final do discurso, a assistência sublinhou as palavras do orador com prolongados aplausos.
Em seguida, o Sr. Presidente da Assembleia Nacional anunciou que, usando da palavra por direito próprio, S.Ex.ª o Presidente da República ia ler a sua mensagem às duas Câmaras. S.Ex.ª o Presidente da República, que, ao levantar-se, foi demoradamente ocasionando, leu então a sua mensagem, do seguinte teor:
Srs. Presidentes da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, Srs. deputados e Dignos procuradores:
Perante VV. Ex.ªs e de acordo com o preceituado no artigo 75.º da nossa Constituição Política, assumi há pouco e pela terceira vez consecutiva as altas funções de Presidente da república.
No momento solene da posse e usando a fórmula de compromisso que o mesmo artigo prescreve, jurei mais uma vez, manter e cumprir leal e fielmente a Constituição da República. As palavras do texto constitucional são intuitivas a aparentemente simples, mas, bem meditadas, representam um rosário, quase sem fim, de responsabilidades. E embora o sejam, também, para todos os portugueses, eles atingem, quanto ao Chefe do estado, e lógicamente, o máximo da sua intensidade, constituindo para ela preocupação permanente em todos os seus pensamentos, procedimentos e decisões.
O reconhecimento perfeito das responsabilidades e do seu constante incremento, derivado da já longa permanência na chefia do Estado, fez-me hesitar muito, muito mais ainda do que em 1965, no propósito de me candidatar a novo mandato presidencial, que se me afigurava pouco justificável, mas para que reserva sendo insistentemente impedi-lo por apelos de que a minha consciência nem sempre conseguia desprender-se com a indispensável tranquilidade. Não resultaram essas hesitações do aparecimento de quaisquer quebras de ânimo ou de súbito temor às responsabilidades, pois tais hesitações seriam irremediáveis. As suas causas derivavam do natural receio, bem compreensível, de ao cabo de tantos anos de exaustivos esforços e de idade, não conseguir desempenhar, por mais alguns ainda e com a eficiência plena que elas exigem, tão altas e difíceis funções. É certo existir em qualquer idade o risco da pessoa desaparecer da vida ou de se incapacitar nela, mas não deve esquecer-se que tal risco vai lógicamente crescendo ao longo dos anos que se vão vivendo.
Porém, e através de insistente argumentação, de que não consegui libertar-se convictamente, fizeram-me crer que o meu dever, no momento actual, era de continuar.
Por isso ainda me ... me candidatar e como fui eleito, continuo; e continuo porque a um português que sinta entranhadamente Portugal, não se afigura legítimo eximir-se o cumprimento do seu dever, enquanto o puder e sonhar cumprir.
A minha candidatura foi recebida com geral simpatia e com manifesto entusiasmo em todo o mundo português.
De uma e de outra deram pelo eco os órgãos de informação e o excepcional volume de correspondência recebida, tudo parecendo mostrar ser a renovação dos meus anteriores mandatos a solução mais adequada. E confirmando esse parecer, o colégio Eleitoral elegeu-me, por expressivo e consolador número de votos, para mais um ... na chefia do Estado, o que exprime, sem dúvida, a continuação da confiança que a Nação em mim tem depositado.
Desvanecidamente agradeço essa confiança, tão largamente manifestada, e procurarei continuar a merecê-la, servindo o País, como o tenho procurado fazer sempre, com toda a dedicação e entusiasmo que lhe são devidos.
É, aliás, uma obrigação e pelo seu cumprimento não há lugar, evidentemente, a qualquer gratidão. Mas é oportuno repetir o que afirmei na mensagem há sete anos dirigida à Nação, deste mesmo lugar. Em servir a Pátria não há sacrifícios que contem: mas só servindo-a exemplarmente se justificará continuar na chefia da nação.
Não penso que venham a ser fáceis os anos que se avizinham, pois se tal pensasse seria agora e apenas mais um simples espectador desta solene cerimónia. E não penso, nem é de pensar, porque a humanidade de está mostrando cada vez mais profundamente perturbada o porque a experiência trazida dos dois anteriores mandatos e o clima de incrível animadamente, que tão injustamente nos criaram e tão encarecidamente está sendo mantido, não permitem optimismos inconvenientes.