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10 DE ABRIL DE 1935 947

alicerces bem firmes que o sentimento das proporções e do equilíbrio dão a tudo que dêles se serve.

Razões de preponderância económica e demográfica

Os elementos estatísticos abaixo designados mostrarão à saciedade a preponderância dos valores agrícola-pecuários em relação à nossa balança comercial (vide quadros II, III, IV, V, VI e VII).

Os nossos valores de outras actividades, como, por exemplo, a pesca de todas as espécies, incluindo a sardinha, atum e bacalhau, dão no ano de 1933 um total de 217:437.782$.

A extracção de minérios no nosso País no mesmo ano, incluindo os carvões, antracite, hulha e lignite, soma 24:098.708$50.

Estas importâncias são, como vemos, relativamente insignificantes, comparadas a quaisquer das produções agrícolas citadas.

Segundo notas de estatística, trabalha na agricultura 47 por cento da população portuguesa, razão poderosa para que o Estado volva de preferência as suas atenções, quer sob o ponto de vista económico, quer social, para os campos, para o meio rural, visto interessar a quási 50 por cento da população.

Queremos nós dizer, com as considerações expostas neste número, que o Estado só atenderá à agricultura? Evidentemente que não. As indústrias e o comércio necessitam igualmente as atenções e se há problemas industriais que mais urgentemente solicitam estudo, por interessarem a economia e a defesa nacionais, para êles de momento lhe daremos a preferência.

Muito deve a agricultura nacional à actual situação política. Não será nunca demais acentuar o incremento dado à cultura do trigo e a protecção e amparo despendidos com a fixação de um preço conveniente a estimular as iniciativas, os ensinamentos técnicos e o poder de aquisição conferido à Federação Nacional dos Produtores do Trigo, que, não sendo o suficiente, representa contudo um grande esfôrço.

A comparação da situação actual com a perseguição que em outros tempos a produção dêste cereal sofreu, com vexames de toda a ordem e obrigações de venda a preços deficitários, faz-nos pensar também o que seria hoje o mercado dos trigos sem o auxílio financeiro que sob todas as formas o Estado lhe indica.

O desenvolvimento pecuário, que já hoje representa um valor de produção superior à soma do trigo e outros cereais, não foi obtido, primeiro por falta de uma nítida compreensão das possibilidades nacionais, depois - por que não dizê-lo? - pela ausência de um impulso criador, propagandeando junto dos agricultores a forma de obtenção de alimentos para os gados e a da selecção metódica e persistentemente orientada, segundo plano preconcebido, bem como a realização de permutas dos nossos produtos com os artigos importados, obtendo a colocação dos excedentes do nosso consumo, permanece na fase embrionária, primitiva da economia, obedecendo tudo ao palpite, pelo que não existe possibilidade de desenvolvimento metódico e firme em meio, por natureza aventureiro, tam falho de preparação e tam circunscrito às suas possibilidades (vide quadro VIII).

O acréscimo populacional deverá pesar dentro de curto prazo de tempo na economia do País, a não surgirem novas origens de absorpção de braços, e as obras de hidráulica agrícola poderão concorrer grandemente para isso.

Em todo o caso, a pista das grandes linhas do fomento agrícola parece ter sido encontrada, mas a sua imperiosa realização sofre das hesitações próprias de quem viveu bastos anos afastado das realidades da vida, entregue à farfalhenta eloquência, alheios ao mundo que nos rodeava e de que agora vamos acordando num despertar tam cheio de promessas.

4. - Muito naturalmente, o estudo complexo e variado dos diferentes problemas económicos, a criteriosa intervenção do Estado, a realização de inquéritos necessários para a organização dos planos secundários, o combate às causas de crise, quer de origem externa, quer interna, a regularização das produções, etc., são tarefa grandiosa que obrigará ao concurso de especialistas, de um agrupamento de indivíduos que pela sua competência estejam indicados a constituir qualquer organismo, cuja criação o Govêrno julgar conveniente. Êle ajuizará dessa necessidade e fica pela base II devidamente autorizado.

Causas internas:

5. - A base in fala-nos na luta contra causas internas e externas da crise; a observação dos factos económicos conduz-nos à conclusão de que ainda estamos trabalhando sem o precioso conhecimento das nossas possibilidades, sem a criteriosa valorização da nossa posição deficitária, a ela correspondendo um alargamento de produção, mais adequada às nossas circunstâncias de meio, de clima, de situação geográfica, etc., e a que a inferior remuneração da mão de obra viria dar maiores possibilidades na luta económica internacional.

Poderemos conduzir, assim, alguns sectores da nossa actividade para um caminho de quantidade, na concorrência de preços, sem excluir o aperfeiçoamento da qualidade, tanto quanto nos fôsse possível?

Causas externas:

As causas externas de uma superprodução vieram necessariamente afectar a nossa economia e a braços se vê neste momento a Nação com uma série de problemas, representando uns uma autêntica sobreprodução, representando outros talvez o resultado de uma falta de tratamento feito a tempo, sem dúvida explicável por tantas preocupações governativas de manutenção da ordem e de consolidação de uma situação financeira, tam heróica e persistentemente obtida.

Produção:

Na mesma base III se encontra o estudo das condições de produção, o que comporta um trabalho exaustivo que nos leve ao conhecimento do custo das produções nos diferentes climas de Portugal, das possibilidades de um aumento de rendimento, por um aperfeiçoamento da técnica ou de melhoria das condições de trabalho e de meio.

A organização da produção, para a constituição da sociedade corporativa e defesa da mesma, comporta uma acção social concomitante, exercida através dos organismos da produção, e uma outra de defesa da economia corporativa, pela expulsão de elementos de reconhecida acção perniciosa ou contrária ao objectivo em vista - a criação de um espírito de colaboração entre a produção e o consumo.

E facto não estarmos hoje vivendo em Estado cuja acção económica se limita a uma actividade burocrática estéril ou absorvente, como sucedia em épocas não distantes; é facto não vivermos em Estado cujos poderes públicos se embrenhem, com especulação, numa política unilateral - quási sempre a do consumo -, afogando uma das partes, mas a verdade é que não existe ainda solidariedade entre os interêsses do produtor e consumidor.