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250 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 67

memória do Dr. Antunes Guimarães a homenagem mais sentida.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. França Vigon: - Sr. Presidente: não sei se chegarei ao fim das palavras que quero dizer hoje sem que a emoção, uma profunda emoção que me domina há algumas horas, me corte a apagada voz ou a transtorne ainda mais.
Morreu Antunes Guimarães, e eu não sei exprimir melhor os meus sentimentos deste momento senão dizendo que o perdemos sofrendo uma grande perda.
Vejo-o aí, nessa tribuna, Sr. Presidente: estou a vê-lo aqui, no seu último lugar, e parece-me ouvi-lo ainda na placidez dos seus discursos, na sequência persistente duma acção parlamentar que nunca esmoreceu, a propor-nos os problemas do seu grande burgo - que eram verdadeiros problemas da Nação -, a trazer-nos a fala da lavoura do Norte - a sua lavoura - e a ilustrar o estudo dos mais importantes assuntos da economia nacional com o seu inexcedível bom senso e a utilidade da sua longa experiência de homem público.
Nenhum parlamentar teve mais intervenções nesta Assembleia - creio -, e todos sabemos como era notável o seu efeito e que extraordinário valor assumiam no exercício da maior função desta Câmara: a fiscalização política da administração pública. Poucos Deputados poderão orgulhar-se de serem tão lidos, tão bem recebidas as suas intervenções parlamentares no exercício dessa alta missão.
Muitas vezes eu discordava das opiniões de Antunes Guimarães. Ele era o político conservador, com a mentalidade formada numa época em que a minha mocidade, a mocidade de muitos de nós, havia reagido, sofrera e lutara - às vezes turbulentamente, pelo menos irreverentemente. Mas não me custa confessar que por vezes o tempo veio mostrar-me a razão de algumas dessas arreigadas opiniões conservadoras o demonstrar a sem-razão de algumas das insatisfações dos novos.
Sempre me enterneci e cada vez guardei pela figura moral de Antunes Guimarães mais respeito ainda, mais veneração, ao vê-lo combater pela missão e superior natureza da Família ou quando o via proclamar com patriotismo intransigente os altos destinos da Nação Portuguesa. E não esqueço esse grande sentimento de que deu tão elevadas provas e o dominou ainda na hora da morte: a sua enorme, a sua total dedicação aos nossos dois grandes Chefes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não mais ouviremos dizer, como ele tanto gostava, aquando passei pelo Governo». Não mais ouviremos dizer «quando hoje, no rápido, vinha de longada, do Porto para Lisboa...».
Era assim que dava a si próprio a modesta satisfação de recordar a sua esforçada acção no Governo e era assim que designava modestamente também os momentos de meditação sobro os problemas que aqui tratava.
Dá-me intenso, embora doloroso, prazer espiritual repetir-lhe essas frases predilectas dos seus discursos na Assembleia e lembrá-las com o coração saudoso e grato, completando-as talvez assim: quando passou pelo Governo, quando viajou no seu rápido do Norte, em todo o tempo de trabalho nesta Assembleia, no convívio político, na intimidade, no decorrer da sua vida pública e privada, Antunes Guimarães foi juntando dia a dia uma grande multidão de amigos que hoje sentem ter perdido um dos seus melhores.
Burgo do Porto! Há menos um homem-bom na tua história!
Srs. Deputados! Do fundo dos nossos corações e no seio das nossas famílias elevemos a Deus uma veemente prece pela alma do nosso companheiro!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Sr. Presidente: entendo não dever deixar de dizer uma palavra que tem a intenção de traduzir não só o meu pensamento e o meu sentimento, mas o pensamento e o sentimento da Câmara, a propósito do triste acontecimento que foi a morte do nosso camarada Dr. Antunes Guimarães.
Não encontro - a emoção não me deixa que encontre - outras palavras além das que já foram ditas por V. Ex.ª e pelos oradores que me precederam. Não importa, porém, que de alguma maneira as repita.
Fui companheiro nesta Assembleia, desde a primeira legislatura, do Dr. Antunes Guimarães. Posso, como outros, depor sobre o que foi a sua actividade aqui; posso, como outros, marcar o traço que mais fortemente me impressionou ou os traços quo mais fortemente me impressionaram na actividade desse homem.
Digo o primeiro; era por temperamento, e talvez por um acto deliberado de vontade, o tipo do político. Não era, nem foi nunca, o aspecto propriamente técnico dos problemas que aqui se discutiram que o impressionou, e, não obstante, marcou uma posição na Câmara, como marcou uma posição no País.
Num tempo em que todos se deslumbram pelas formas de tecnicismo, ele manteve-se sempre como um político, como homem que olha, antes de tudo, não para as soluções técnicas que os problemas comportam, mas, antes de tudo, para as soluções politicamente mais convenientes.
Isto, Sr. Presidente, tem uma grande importância, segundo creio, numa hora em que o técnico procura abafar o político, em que chegam os homens públicos a envergonhar-se de afirmar-se políticos.
Porque assim era, ele olhou, antes de tudo, para o conspecto das necessidades do País e não se descobrirá qualquer aspecto dessas necessidades do que ele não tenha trazido o eco a esta Assembleia.
Por isso mesmo ele nos dava muitas vezes a impressão de que, ao desenvolver o seu pensamento nesta Assembleia, se interessava, porventura, menos em ser ouvido aqui do que em ser ouvido pelo Governo e pelo público. Por isso mesmo ele tinha, como parlamentar, uma projecção pública que eu suponho não magoar ninguém afirmando que mais nenhum outro a teve igual.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O político - o político convencido de que o interesse nacional teria de ser a conclusão dos interesses regionais - havia de olhar para o interesse nacional, não como alguma coisa do abstracto, não como alguma coisa que não é uma resultante de outros interesses, mas como uma resultante dos interesses regionais que podem ser divergentes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E, por isso, ele marcava sempre, em busca certamente do interesse nacional, aquilo que lhe parecia ser o interesse da sua região, o interesse - para repetir a palavra já dita por V. Ex.ª -, o interesse nortenho.
Porque ele entendesse que os interesses da sua região deviam prevalecer sobre os interesses do País? De ma-