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19 DE ABRIL DE 1951 883

virtudes cívicas, uma lhaneza sem desaire, uma bondade sem fraquezas, mas sem limites, um espírito de total imolação ao bem comum da Nação.
Ainda bem que assim é. A Assembleia Nacional, onde o venerando e saudoso Chefe da Nação tantas vezes compareceu e onde teve sempre o mais respeitoso e carinhoso acolhimento, inclina-se neste momento, cheia de pesar, neste momento de indizível amargura, ante a memória do Marechal António Oscar de Fragoso Carmona e crê poder bradar, pela minha voz, a todo o País e à posteridade: - Serviste bem! Que Deus receba o teu espírito gentil na sua eterna luz e que a terra da Pátria, que tanto amaste, receba amorável em seu seio os teus invólucros mortais! E que a lição alta, edificante, nobilíssima da tua vida esteja presente a todos os portugueses, para os levar ao holocausto das suas pequenas coisas, à unidade e grandeza de Portugal.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Cancela de Abreu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: - Sr. Presidente: com sinceríssima emoção associo-me ao pesar da Assembleia Nacional por motivo do falecimento do grande Chefe do Estado Sr. Marechal Carmona.
Faço-o em meu nome e julgando exprimir o sentimento de todos os portugueses, sem distinção.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É que, por sermos portugueses, não podemos deixar de prestar homenagem, homenagem sentidíssima, à memória de um homem excepcional, que durante vinte e três anos chefiou o Estado com valor, nobreza e lealdade inexcedíveis, e antes fora soldado da primeira linha nó bom combate pela salvação de Portugal e por um Portugal maior.
Salvou, porventura, a Revolução Nacional nos seus primeiros passos incertos e vacilantes e tornou possível que, no decurso de um quarto de século, Portugal enveredasse para melhores destinos e pudesse realizar uma obra de reconstrução nacional que só a estabilidade de comando e de governo podia consentir.
Aprumado, gentilíssimo, afável, irradiante de simpatia e de bondade, o Marechal Carmona foi também um espírito tolerante, clarividente e inacessível a sugestões que importassem interrupção ou o desvio da Nação nos destinos que a Providência lhe traçara.
Mas não é o momento; nem a mim compete traçar, mesmo em breves palavras, a notável biografia que para sempre assinalou o seu nome na história da nossa pátria secular.
Refiro só dois factos da sua vida exemplar. Dois factos episódicos, afinal.
Recordo que o encontrei repetidas vezes nos tribunais militares, como promotor de justiça ou vogal dos júris, sempre digno, compreensivo e tolerante; como o encontrei, nesta Câmara dos Deputados, Ministro independente num Governo conservador, sempre soldado gentil, firme e pundonoroso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já tive ocasião de narrá-lo aqui:
Increpado por um Deputado da oposição republicana acerca de certas visitas aos quartéis, justificou desassombradamente o seu procedimento e, como outro Deputado pretendesse insistir, Carmona, imperturbável, exclamou:
«Desejo proferir uma frase muito simples, que, estou certo, satisfará toda a Câmara. O Govêrno tem a força toda para garantir a ordem, soja em que circunstâncias for. E, se VV. Ex.ªs me dão licença, eu retiro-me, porque tenho muito que fazer».
E impecável, distinto na sua farda sem mancha, perante o silêncio, o respeito e a emoção de toda a Câmara, abandonou a sala a caminho dos quartéis.
Revelara-se o homem que já era e havia de ser depois.
Curvamo-nos respeitosa, grata e comovidamente perante a sua memória saudosa. Erguemos uma prece a Deus para que na Eternidade recompense do bem que fez na Terra este cidadão modelar.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Botelho Moniz: - Sr. Presidente: as grandes figuras dá História nem sempre são as mais espectaculares e as mais discutidas. Na verdade vêm a ser aquelas que, pela superioridade da sua simples influência, asseguram aos seus concidadãos mais largos períodos de paz, trabalho e progresso.
O promotor de justiça no julgamento de 18 de Abril de 1925 apagou-se para a vida e nasceu para a eternidade a 18 de Abril de 1951. Ao trazer aqui a lembrança daquele cargo, que foi afirmação de carácter forte, superior, inacessível às contingências da política, inacessível, na administração da justiça, às influências dos Governos, não quero pôr nas minhas palavras nem a nota de agradecimento de um dos réus que o promotor de justiça defendeu, nem a nota política de um partidário.
Achamo-nos perante a morte do Chefe da Nação; o Marechal Oscar Carmona não era chefe de partido: era o maior de todos os portugueses. E como tal viverá a sua memória dentro dos nossos corações. Tomemos como exemplo a sua vida, simples, bondosa e tolerante, única forma de continuarmos a obra daquele que acaba de morrer.
O Marechal Óscar Carmona era digno de ser o Chefe do Estado de Portugal. É preciso que amanhã os portugueses também se mostrem dignos da grande lição que ele nos legou. Nenhuma homenagem melhor podemos prestar-lhe que prosseguirmos a sua obra, mas prossegui-la como ele a realizou, isto é, sendo constantemente o traço de união entre todos os portugueses, em vez de chefe de facção. Esta unidade nacional é imperativo que a sua memória nos ordena. Ela será a nossa força se soubermos mante-la, se quisermos apagar as nossas paixões políticas para só pensarmos, como ele pensava, em Portugal.
Sr. Presidente: julgo que interpreto o espírito desta Assembleia afirmando que os nossos votos são para que a vida política futura em Portugal siga tão serenamente, tão dignamente, como sob a égide do Marechal Carmona.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Mário de Figueiredo: - Sr. Presidente: não é hoje o dia de traduzir por mais do que uma palavra de dor o sentimento pela morte do Chefe do Estado. A emoção não deixa.
Digo essa palavra. Sofre-se porque desapareceu o homem que durante cerca de vinte e cinco anos serviu no mais alto posto a Pátria e a serviu bem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Oportunamente à Assembleia será dado glorificar o seu nome, que já está glorificado nas nossas almas.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!