4 DE MARÇO DE 1959 257
O Sr. Júlio Evangelista: - Sr. Presidente: num tempo tão assaltado pelo confusionismo, tão perdido em desorientações, tão embaraçado na inversão de valores, é coisa maravilhosa e reconfortante ver o acerto e a verdade, assistir a um natural e perfeito desenvolvimento ético. Por isso, nestes tempos modernos, que são um tempo injusto, grande louvor e agradecimento temos de prestar à justiça; por isso, crescente honraria se proclame àqueles homens que se excepcionalizam e timbram pela afirmação da sua nobre qualidade humana. Estão neste caso aqueles governantes que, cientes da alta dignidade da sua função, não voltam atrás com a palavra dada.
O Sr. Ministro das Obras Públicas foi, em fins de Outubro, a Valença do Minho, que o recebeu com manifestações inesquecíveis de aplauso a Salazar e ao Governo.
Percorreu atentamente aquela terra, observou cuidadosamente aquele povo, concluiu inteligentemente sobre a importância e. as necessidades inadiáveis daquelas paragens. Ouviu, com interesse, as explicações e as aspirações que os meios locais lhe apresentaram, pois à missão de um governante pertence informar-se, do próprio povo e das próprias localidades, por si ou pelos «ouvidos do rei» aqueles «ouvidos do rei» que já na velha França transmitiam ao Poder as ansiedades e os problemas dos povos.
O Sr. Engenheiro Arantes e Oliveira assistiu a um fenómeno vivo, concreto, integrou-se, ali, no espírito tradicional e verdadeiro, mercê da síntese de povo e terra, e assim se lhe evidenciou, mais facilmente, a realidade local e sua importância, sua harmonização, na realidade e no progresso nacionais. Para além de simples esquemas, abstractas doutrinas, secos relatórios, rígidos algarismos, maquinais burocracias, o Sr. Ministro quis .entrar numa das manifestações vivas do corpo da Pátria. E palpitante, e juvenil, e antiga, apareceu-lhe aquela «pátria pequena»- oh! pequenas pátrias, garantia da Pátria!
Então, ele palpitou connosco na mesma pulsação entusiástica, e sentiu connosco as necessidades da terra. Com meridiana clareza se lhe revelou a vantagem geral de certos melhoramentos naquela importante porta de entrada e saída para os estrangeiros que vêm. ao nosso pais, aquela verdadeira sala de visitas que Portugal oferece às centenas de milhares de turistas que anualmente . passam pela fronteira de Valença. Em boa consciência, então, o Ministro pôde prometer.
Há quem prometa deixando-se arrastar por entusiasmos momentâneos, seduzido por um encanto ou uma conversa de ocasião; ou prometa simplesmente para atrair aplausos e livrar-se de impertinências, para obter vantagens imediatas ou afastar um obstáculo que se lhe depara; e há quem prometa de boa fé e decidido a cumprir, mas depois se deixe vencer pela rotina, pela burocracia, pela distância, pelas dificuldades posteriores. O Sr. Ministro das Obras Públicas prometeu e cumpriu. E não se limitou a uma realização a longo prazo: avançou à rápida execução do que prometera. Fez justiça! Valença vai ter o que devia ter, para bem dela e do turismo nacional.
A pousada de Fronteira -de magnifico traçado - será, dentro em breve, uma realidade. Note-se que a onda arquitectónica dominante oscila, abstractamente, entre a oca repetição de velhos estilos e um igualitário, artificial modernismo. Geralmente sem alma, sem vida, não se tem sempre buscado realizar uma arquitectura dos nossos dias - sem dúvida -, mas também da nossa terra, uma arquitectura que saiba contar com uma tradição portuguesa e regional, com a história, a paisagem e também o nosso tempo. Aproveite-se, pois, a oportunidade para dar .vivo louvor a quem soube especialmente determinar que o edifício da pousada se .integrasse, arquitectònicamente, na tradição e no ambiente da própria terra. Não será preciso ser adivinho para se perceber - quanto a este aspecto, nesta como nas restantes pousadas projectadas- a sábia influência do Sr. Presidente do Conselho, conhecido o particular interesse com que S. Ex.ª acompanhou de perto e aprovou o respectivo plano de construções.
A nova estação fronteiriça de Valença, ampla e moderna, correspondendo às exigências do crescente movimento de fronteira, também está em vias de construção. Outros importantes melhoramentos se avizinham. E, entretanto, uma comissão de técnicos e de estetas vai trabalhando afanosamente num plano que visa não só a valorização turística e urbanística da fortaleza, como a reintegração do velho burgo na sua feição histórica.
Por este acto de justiça daqui dirijo um «muito agradecido» ao Governo!
O Governo concebe, trabalha, realiza, mas é preciso que os povos mantenham vivo o sentimento de confiança nele. Por isso a viagem do Sr. Ministro das Obras Públicas ao meu distrito, em Outubro do ano findo, pelo rasto de convívio e confiança que levantou naquelas populações e pela rápida execução de aspirações instantes, valeu bem mais, seguramente bem mais, do que cem discursos de propaganda!
No final de uma das peças de Ugo Betti - o grande dramaturgo italiano-, certa personagem declara: «Na verdade, este mundo é uma residência para reis e devemos vivê-la como tais!»
A nossa tareia, realmente, é cuidarmos de elevar a nossa existência à dignidade que nos realiza, é procurarmos obedecer à «raça real» que há em todos nós.
Uma velha mulher do povo exclamava, com os olhos inundados de esperança, dias antes da visita ministerial ao meu distrito: «Diz que vêm aí umas pessoas que valem coma reis!»
E o certo é que a palavra dessas pessoas não voltou atrás, foi lealmente cumprida. Por isso mesmo, bem haja o Sr. Ministro! Homens assim aumentam, pela justiça, a confiança dos povos e a beleza do Mundo e atraem-nos com eles à altitude que a nós próprios nos devemos.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Alberto de Araújo: -Sr. Presidente: teve o País e teve a Câmara conhecimento, através dos jornais, do relatório da comissão encarregada de estudar as causas do desaparecimento, em pleno Atlântico, no dia 9 de Novembro último, do hidroavião Porto Santo, da carreira Lisboa-Funchal.
As circunstâncias em que se deu o acidente, em pleno alto mar, de não ter sido presenciado por ninguém e de não terem sido recebidos de bordo quaisquer informes esclarecedores, a não ser uma lacónica comunicação de situação de emergência, o ainda, o 'facto de não terem sido recolhidos quaisquer destroços do hidroavião sinistrado, tornavam, evidentemente, difícil a determinação das causas do trágico acontecimento que enlutou a aviação, a Madeira, o Pais inteiro.
A comissão de inquérito procurou,- efectivamente, fazer trabalho útil, como o demonstra a grande massa de elementos e .de factos que reuniu e dos quais foi dado conhecimento ao Pais através da nota fornecida à imprensa, no último sábado, pelo Ministério das Comunicações.
Todavia, pelas circunstancias em que se deu o acidente, não conseguiu chegar a resultados concretos, formulando a conclusão de que, entre todas as causas, que o podiam ter originado, a hipótese mais verosímil é, talvez, a paragem dos dois motores.