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382 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 87

comissão, então criada, da Comissão de Coordenação Económica o estudo da reorganização dos organismos de coordenação económica e corporativos dependentes do Ministério da Economia e, designadamente, o da sua harmonização com a competência das corporações. Nada poderia ser mais louvável do que o desejo de S. Ex.º de fazer estudar, pelos serviços da sua secretaria, esse problema, para assim ficar habilitado, do sen lado, a tratar oportunamente do assunto. Talvez tenha sido eu, aliás, a primeira pessoa a felicitá-lo por essa iniciativa e pela sua diligência, o que fiz numa entrevista dada ao Jornal do Comércio.
Mas, Sr. Presidente, o relatório do decreto-lei agora anunciado é animado por um espirito de tal forma conclusivo a respeito desse problema que dir-se-ia considerar S. Ex.ª já terminados os estudos a que essa subcomissão se deve ter dedicado no entretanto e, o que é mais, não lhe oferecer dúvidas que terá de ser adoptado o seu critério.
Ora, Sr. Presidente, não tenho também qualquer, dúvida em afirmar que, relativamente a problema tão vasto, de tão profunda projecção no. futuro do nosso sistema político-económico, verdadeiramente definidor desse sistema (ou corporativismo puro ou corporativismo de Estado, simples eufemismo de autêntico socialismo), a Nação só pode ter confiança e só deverá aceitar uma palavra .de ordem: a palavra de Salazar directamente proferida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Nação exige-lhe mesmo mais esse serviço, e a nenhum de nós é também licito deixar de acorrer-lhe com desinteressada colaboração - não para iluminarmos os caminhos da sua inteligência (o que seria estultícia e redundância), mas para o animarmos com o calor da nossa fé, afirmarmos as nossas opiniões, permitindo-lhe assim completa serenidade e perfeita objectividade na definição que lhe solicitamos e estamos prontos a acatar, como prontos estamos para os sacrifícios, e renúncias necessárias, em que Salazar tem sido o exemplo maior.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: permitam-me agora algumas palavras, talvez extemporâneas, mas que são do sonhador e idealista que teimo em ser.
Nós, Portugueses, temos uma política e temos uma doutrina. Delas fazem parte princípios essenciais que não podemos postergar. Nem ventos do Ocidente nem ventos do Oriente devem influenciar a nossa rota.
Temos certamente de estar atentos a tudo o que se passa no mundo, aos condicionalismos que a época indique. Mas que não percamos o sentido da raça, e para tal temos de procurar arrimo naquelas virtudes, naqueles sentimentos, naqueles conceitos, que nos fizeram grandes no passado, na originalidade que fez da pátria lusa, em dado momento, a maior, com sacrifício da nossa gente, do nosso sangue.
Foi o regresso, sem retrocesso, a tais princípios, às concepções da vida portuguesa - simplicidade, frugalidade, modéstia, espiritualidade e harmonia -, que permitiu a grande obra de renovação dos nossos tempos. Para tal. não foi preciso recorrer a figurinos estrangeiros, antes talvez foi necessário despi-los.

Vozes: - Muito bem !

O Orador:-Bastou a fé, o espirito de sacrifício, a simplicidade, talvez, em alguns casos, a desactualização face aos padrões modernos, de um grande homem de Estado que era português e só português queria ser e continuou a ser.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Nessas virtudes, no seu patriotismo inquebrantável, na firmeza das suas convicções religiosas, Salazar alicerçou a sua obra imensa, obra de real progresso, que, porém, não perdeu o sentido das proporções. Sem elas, de pouco teria servido mesmo o sen raro talento, a sua lúcida inteligência.
E em todo o nosso sistema se encontra a marca desses sentimentos. Grave sacrilégio produziríamos se tocássemos nos princípios essenciais de toda a nossa política, da política de Salazar, naquilo que constitui verdadeiramente a sua originalidade e a sua virtualidade.
Ora, deles constam, como postulados inatacáveis e inatingíveis, algumas noções que se aplicam ao caso que estamos abordando e têm de constituir barreira intransponível a todas quantas outras doutrinas, por mais generosas e cientificamente alicerçadas se apresentem.
Todos ansiamos pelo progresso material, por uma melhor vida para todos os portugueses, mas também todos nós o desejamos sem que tenhamos de viver sob o peso de uma técnica monstruosa, técnica de maquinismos, de números ou de leis económicas, sempre falíveis, porque humanas.
Fala-se muito, por exemplo, em reformas e novos conceitos da empresa: mas tudo isso está certo e é possível dentro dos nossos princípios. Por mim, aceito a evolução e admito a modificação no actual conceito da empresa: no sen espírito, mais do que na sua estrutura humana, na sua feição. E é precisamente no desenvolvimento da nossa doutrina, do nosso corporativismo, que encontro a possibilidade de a conseguirmos sem abalos nem sobressaltos.
Não se trata de baralhar posições entre classes ou de substituir umas a outras: trata-se de as manter, na diversidade das suas funções técnicas, na medida mesmo da sua representação social, mas de encurtar a diferença entre elas, sob o ponto de vista da situação social e económica.
Não nos deixemos iludir por palavrões aprendidos em doutrinas estranhas à nossa maneira de ser ou por aparências de êxito de novos sistemas ou de novos métodos que possivelmente se consumirão como fogos-fátuos.
Porque aos conceitos de vida lusíadas sempre se aliou a fé cristã, nós temos a consoladora certeza de nos encontrarmos também amparados pela doutrina da Igreja, essa suprema condutora de povos, essa colina santa baseada nas verdades eternas, nas realidades de sempre, na perenidade da sua doutrina divina, na sua prudência insuperável, no seu respeito pelo espirito e ha compreensão pela dignidade humana. A ela fomos sempre, a ela continuaremos a ir, buscar a nossa inspiração, a nossa força, o nosso espirito.
Haverá quem tenha já perdido a fé ou vendido a alma?
A descrença no nosso sistema, seja qual for o disfarce com que se apresente, seja qual for a suposta razão, mesmo de boa fé, em que se baseie, responderá pela afirmativa.
Por mim, continuarei com optimismo a dizer, como uma vez Salazar disse: sA hora é ainda e sempre nossa!».
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.