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27 DE JANEIRO DE 1960 301

sua consideração. Inútil acrescentar quanto o gesto do Sr. Embaixador do Brasil nos sensibiliza, pelo que representa de empenho em estreitar ainda mais a intimidade das duas Nações irmãs.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Jorge Ferreira.

O Sr. Jorge Ferreira: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Já tempos já, isto vem da altura em que foram aumentados os vencimentos dos funcionários públicos, há, portanto, alguns meses, que venho a pensar na conveniência ou não conveniência na oportunidade de roubar mais alguns momentos, certos no entanto, como sempre e tenho feito, aos trabalhos desta Assembleia, trazendo aqui um podido que me fui feito em nome de numeroso grupo de modestos funcionários, que são os cantoneiros portugueses.
O problema foi-me posto nos seguintes termos: «Sr. Doutor, fomos agora aumentados e pode dizer-se, com verdade, que foi coisa que se visse, mas, Sr. Doutor, quase preferíamos que nos fossem dadas as oito horas de trabalho de que nos tivessem aumentado! É que assim, como estamos, praticamente não podemos tratar de nada da vida da nossa casa. Se o Sr. Doutor pudesse lá na Assembleia fazer alguma coisa por nós».
Prometi fazer o que me fosse possível, e desde assa altura venho a pensar numa pequena intervenção nesta Câmara no sentido de poder demonstrar a razão que assiste a estes funcionários, e da qual, desde logo, fiquei plenamente convencido.
Também nasci no ambiente da vida rural, e por isso o sinto e compreendo em toda a sua extensão.
O cantoneiro é um homem da terra, a ela está ligado por sentimentos profundos que se prendem com a própria existência. Para ele há o encanto de a preparar, de nela lançar a semente, de a ver nascer, de a ver desenvolver, e ele deseja e ele quer que ela nasça e se desenvolva em toda a sua pujança, para isso lhe dá o seu suor, o seu descanso, quantas noites perdidas para lhe mitigar a sede, e mata, e chega mesmo n matar, se tanto for necessário, para que não morra a sua seara! Quantos e quantos não tem tido como leito de morte a vala da água, que é artéria e é sangue do vale?! É este encanto que pode levar a tudo isto, e que até pode fazê-lo empobrecer alegremente, que levou o cantoneiro da minha terra a fazer-me a seu pedido.
Aqui o deixo, como se meu próprio fosso, multiplicado ainda pelo número dos cantoneiros de Portugal.
Mas, vamos lá, associado a este problema sentimental de amor pela terra está também o papel que ao cantoneiro cabe como chefe do família. Que assistência podem estes homens dar à sua família se saem de casa no nascer do sul e a cia voltam ao pôr do sol, com certeza quando seus filhos se não levantaram ainda, pela manhã, quando ele sai ou já se deitaram à noite quando ele volta? O cantoneiro quase poderá chamar-se, nestas condições, o homem das trevas!». Não, isto assim não está bem.
Mas há mais razões ainda que abonam a justiça desta reivindicação e, portanto, da minha intervenção: o cantoneiro vive triste e eu compreendo também, como médico, a razão da sua tristeza. É que o cantoneiro, apesar da sua boçalidade, sente uma interior insatisfação, que não sabe precisamente, definir, mas que pràticamente podemos enquadrar no foro das doenças nervosas. O cantoneiro, embora superficialmente, vai desenhando o quadro da «claustrofobia», doença a que já nos habituámos, com certa frequência, a observar nas classes mais elevadas da população. É que o cantoneiro vive, na verdade, uma existência confinada no espaço e no tempo! No espaço, entre duas bermas de um troço de uma estrada; no tempo, entre o nascer e o pôr do sol.
Vida monótona sem dúvida, sem outro interesse que não seja, afinal, o de ganhar o pão nosso de cada dia. Isto mesmo explica outra razão que quero apontar para defesa do meu ponto do vista: estou também firmemente convencido de que o cantoneiro, sendo satisfeita esta sua. que considero justíssima, aspiração, mais trabalhará nessas oito horas, porque ó fará com mais satisfação, do que nas dez ou doze que muito contra sua vontade o obrigam a viver naquele espaço limitado de cantão que lhe pertence. E até sob o aspecto económico este facto é digno de ser notado. A riqueza nacional também em alguns milhares de contos será beneficiada, se se considerar o trabalho que estes homens poderão efectuar, com mais prazer e cheios do interesse, nas horas que lhe sobram do seu trabalho oficial.
Finalmente, a deliberação do Governo há pouco tomada de criar entre nós para o funcionalismo público a semana inglesa mais força e mais razão veio dar à oportunidade desta minha intervenção, o mesmo é dizer, mais força e mais razão veio dar ao anseio dos nossos cantoneiros.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É baseado tudo isto nas razões de ordem espiritual e material que referi, sucedendo até que sob este último aspecto para o Governo não adviriam dificuldades de orçamento, que eu me permito solicitar, através desta Câmara, a atenção de S. Exa. o Sr. Ministro das Obras Públicas, convencido de que S. Exa. não deixará de merecer de todos nós uma vez mais os agradecimentos e os louvores que de há muito nos vimos habituando a tributar-lhe por todas as medidas e obras que o País lhe deve e os tempos perpetuarão.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Santos Júnior: - Sr. Presidente: ainda há pouco, no decorrer de considerações feitas nesta Assembleia, tive ocasião de sublinhar, em breve apontamento, que ao analisar-se o quadro demonstrativo do desequilíbrio existente entre as várias regiões do País se verifica que o distrito da Guarda é, sem dúvida, um dos mais necessitados, pois, na verdade, dispõe somente, numa grande parte da sua extensão, dos precários rendimentos obtidos através de uma difícil actividade agrícola, que só num ou noutro concelho dá escassos lucros compensadores.
Esta pobreza é contrabalançada, em certa medida, pela existência de outras actividades produtivas com maior poder de lucro, entre as quais se destaca a indústria de lanifícios, que tem um núcleo importante no concelho de Gouveia e conta com unidades do considerado valor nos concelhos de Seia, Manteigas e Guarda. Este conjunto de actividade industrial constitui uma apreciável fonte de rendimento, que torna menos pobres os concelhos onde actua, contribuindo para um melhor nível de vida das populações, fixando lá no áspero clima da serra muitos daqueles que se não contentam com o diminuto salário que o amanho da terra lhes pode proporcionar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!