494 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 157
cam essa qualidade, seja incluída a subvenção para estudos ou preparação profissional, e assim a, justifica:
Há que considerar que a prática do desporto é, de um modo geral, de curta duração, pelas exigências e contingências do seu exercício e desgaste dela resultante.
Por outro lado, a própria glória desportiva e o ruído que hoje se faz a. roda das figuras do desporto são propensos a fazer esquecer aos praticantes as dificuldades que virão certamente a encontrar quando chegar o dia em que já não possam servir com mérito ou, pelo menos, com interesse para os seus organismos desportivos.
Põe-se então para muitos com agudeza o problema de procurar uma profissão, para que não estão de modo algum preparados. Assim, parece à Câmara que haverá conveniência em facilitar a todos os praticantes do desporto uma preparação profissional em estabelecimentos oficiais que lhes assegure o futuro quando o desporto lho negar.
Ora parece, que tais palavras se aplicam apenas aos atletas profissionais, pois esses é que fazem do desporto profissão, esses é que, chegado o dia de não poderem já prestar o seu concurso aos clubes de profissionais, terão de procurar noutra ocupação o sustento próprio e o dos seus. E não custaria aceitar que as pequenas compensações materiais a conceder aos subsidiados fossem preferentemente do mesmo género, pois o subsidiado é afinal um profissional em formação. Aliás, a proposta governamental o confirma, ao prever que essas compensações venham a ter carácter de regularidade e permanência.
O jogador amador é o praticante que, apenas por prazer ou por cuidado no cultivo do corpo, se dedica ao desporto, supondo-se que noutra parte ganha o seu pão quotidiano. Ele não precisa, pois, de se preparar para outra profissão quando praticante, visto ser praticante já com profissão ou para ela orientado.
Este problema ganhou relevo especial desde que o Governo se disse disposto a reconhecer a profissão de desportistas. O novo profissional passará a estar integrado no nosso esquema corporativo, com todas as obrigações e todos os direitos que lhe são próprios. Qualquer acto em que se vislumbre possibilidades de fuga a essas obrigações ou a esses direitos devo ser acautelado.
A alteração proposta pela Câmara Corporativa, no sentido de facilitar a todos os praticantes do desporto uma preparação profissional em estabelecimentos oficiais que lhes assegure o futuro quando o desporto lho negar, mas que nas bases é apenas feita em relação aos amadores, é susceptível de muitos, desvios, em prejuízo dos profissionais (que, recebendo subvenção para estudos, poderão chamar-se amadores). A própria Câmara Corporativa o reconhece ao escrever:
É evidente que esta facilidade que a Câmara preconiza não poderá ser licença, pois se reconhece a possibilidade de abusos e deturpações daquele objectivo.
Há que ter o máximo cuidado na regulamentação desta faculdade, fixando por forma precisa e rígida as condições da sua aplicação, designadamente no que se refere a matrículas, aproveitamento escolar, montante máximo das subvenções e seu registo e tudo o mais que possa eliminar ou, pelo menos, reduzir ao mínimo possível os perigos de desvio de aplicação a que acima se alude.
Sr. Presidente: são judiciosas as considerações que a Câmara Corporativa vai fazendo ao correr da proposta governamental, inclusive; a sugestão de ser suprimida, por redundância, a base VIII, mas ao chegar à base X, transformada por si em base IX, a Câmara põe talvez as duas mais delicadas questões do futebol nacional e até mundial: a presença de jogadores estrangeiros e as transferencias de jogadores.
Sobre a primeira diz a Câmara que, discordando em princípio do contrato de estrangeiros, lhe parece ser de toda a conveniência e urgência a sua regulamentação. Ora, em princípio, não posso concordar com a importação de profissionais de outros países, os quais não têm, aliás, contribuído para notório desenvolvimento do desporto nacional, pois, se são verdadeiros profissionais, não são, porém, na sua maioria, executantes com quem se possa, tecnicamente aprender alguma coisa.
Todos os anos entram em actividade desportiva, através dos centros da Mocidade Portuguesa, muitos milhares de rapazes; todos os anos, através das associações desportivas, disputam torneios muitos milhares de populares; espalhados por todos esses inúmeros clubes da província há centenas do jovens habilidosos, conhecidos só no seu meio. Porque se recorro então a atletas estrangeiros para o preenchimento de certos lugares? Porque aos clubes é mais barato importar do que fazer? Porque aos treinadores é mais cómodo mandar vir do que trabalhar?
De qualquer forma, veda-se aos jogadores nacionais a ascensão a lugares naturalmente cobiçados, tira-se aos clubes a característica de nacionais, criam-se problemas à formação da equipa representativa da Nação, o no seio desta, pelo nosso espirito brincalhão, podem produzir-se desagradáveis incidentes. Não aconteceu já há dias ter uma equipa consumida apenas por jogadores nacionais e que ia iniciar um prédio com outra em iguais circunstâncias entrado em campo com uma bandeira nacional desfraldada? Não vi eu já ser empunhada por um adepto, em pleno campo adversário, uma bandeira nossa como sinal do portuguesismo do seu clube? Não ouvi eu já uma massa coral clamar em plena rua por Portugal ao vitoriar o clube da sua predilecção? A opinião geral é a de que os jogadores estrangeiros não fazem falta entre nós.
Já outro tanto não se dirá dos treinadores, mas a autorização para a sua actividade no País só deveria ser concedida a técnicos de reconhecida aptidão. Já muito que, por graça, venho a dizer que aquilo de que certas equipas precisam não é de treinadores, mas de professores de psicologia. Estamos a chegar lá. já se falando agora em «chicotadas psicológicas». Ora não é qualquer que sabe usar devidamente esse chicote de imagem. Para o assunto chamo a atenção do Governo.
A outra questão levantada pela Câmara Corporativa é a da transferencia dos jogadores, posta assim em acrescento: «Na regulamentação das transferências não será restringida aos praticantes amadores a faculdade de no fim de cada época desportiva escolherem o organismo que desejem representar». Ora, aplicando-se novamente aqui o critério de se evitar quanto possível os subterfúgios, melhor será substituir por outras as palavras «restringida» e «organismo». Se o que se deseja é que, só os amadores possam livremente, dada a própria essência do amadorismo, mudar de clube, há que, encontrar o termo adequado para exprimir esse ponto de vista, aliás judicioso.
E, porém, nessa faculdade de livre transferência dos amadores que o problema se torna delicado.
Apesar do recurso nos profissionais estrangeiros, que. em minha opinião, deveria ser proibido, como já afirmei; apesar das «escolas de jogadores», que, em meu