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428 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 198

O Orador: - Julgou que haviam sido tidos em devida conta os seus repetidos apelos à unidade de todos os portugueses, sob a bandeira da Pátria, que de todos é

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Julgou que recebia gente correcta. Mas ainda aqui o Sr. Presidente da República usou da nobreza que todos os portugueses lhe reconhecem, teve um procedimento irrepreensível, que nos leva a reafirmar-lhe o nosso extremo respeito. O Chefe do Estado ainda uma vez cumpriu o seu dever!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O denominador comum, hoje como ontem, é o interesse nacional: à volta dele, e contra o inimigo, qualquer que seja, temos de unir fileiras como um feixe indestrutível e como um luminoso raiar, do Sol! Ceda cada um de nós no seu partidarismo, que pouco sacrifica, e incorpore-se patriòticamente no movimente nacional exigido por esta hora! Quando a conjura internacional se dirige contra o nosso ultramar - é dever de todos os portugueses sacrificar ao patriotismo as suas predilecções ideológicas.

O Sr. André Navarro: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Neste sentido temos de bradar, como António Enes: «Fora a política!».

A história é construída em gerações solidárias, em comunidade de pessoas, ideais, vontades, para a acção criadora e dinâmica. A história é a marca do homem no Mundo, é o espírito harmonizando e libertando, é o esforço épico para sair do egoísmo e da fatalidade material. Na história se afirmam os povos e se distinguem, isto é, honram-se! Portugal, fonte de espírito, madre bendita onde os povos se prolongam, consciencializam ascendem na civilização e na cultura; Portugal, nação atlântica e anunciadora de universalismo; Portugal disciplinado e idealista, amante da justiça, cadinho secular onde as raças se caldeiam e fraternalmente comungam; Portugal, lírica epopeia a repercutir-se pelos continentes e pelas campinas celestes - ah! Que não podemos deixar de obedecer a este ancestral destino!

Para Portugal é a hora da vigília. Unidos em todas as latitudes, como ala escorreita e irresistível das antigas batalhas: um pensamento a mandar; órgãos a executar; e o corpo a obedecer! Na unidade reside o segrede da nossa vitória. É a hora da vigília!

Vigília de fé, e não de pessimismos, de esperança, e não de receios, ousada e viril, mas em todo o caso vigília! Quanto aos problemas que nos dividem, o nenhum é tão urgente nem tão exaltado quê não possa aceitar umas tréguas da Pátria, como dantes os campeões aceitavam tréguas de Deus!».

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador foi muito cumprimentado.

O S:. Alberto Cruz: - Sr. Presidente: como é meu hábito vou exprimir em poucas palavras o meu pensamento sobre recentes factos que são objecto de preocupação na hora presente.

Noticiam os jornais que três chefes ou pseudocheïes da oposição à actual situação política solicitaram uma audiência a S. Ex.ª o Presidente da República.

Julgava eu, ingenuamente, e como eu muitas pessoas, que essa entrevista tinha por finalidade manifestar ao venerando Chefe do Estado a repulsa dos oposicionistas que se dizem portugueses às declarações, feitas lá fora pelos que se arvoraram em chefes de bandos internacionais, que assaltaram um pacífico barco de passageiros que arvorava a bandeira de Portugal, que assassinaram e feriram alguns dos seus tripulantes, que mantiveram durante muitos dias homens, mulheres e crianças sobre a ameaça de morte por armas de fogo ou por afundamento do navio.

Nas suas declarações, feitas exclusivamente com fins de baixa propaganda política, também não se insurgiram contra os que em terras portuguesas de África, que viviam em paz e sossego, atacaram agentes da ordem e, mancomunados com mercenários estrangeiros, atentaram contra a nossa indiscutível soberania, servindo-se de todos os meios para a consecução dos seus torpes desígnios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É simplesmente revoltante que estes homens, aproveitando-se das dificuldades da hora presente e da ofensiva de todas as alfurjas mundiais contra o nosso país, queiram estabelecer a confusão nos espíritos e cavar fossos entre todos os que sentem na sua alma o amor a Portugal, a esta pátria que, no momento actual, assombra o Mundo com a sua atitude firme e decidida de defender todos os seus territórios de aquém e de além-mar, contra tudo e contra todos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não precisavam de vir a público com tal nota para ficarmos a saber o que já era do nosso inteiro conhecimento, isto é, que tais senhores se solidarizam inteiramente com todos os inimigos da Pátria, levados só pelo ódio aos que têm sacrificado a sua vida ao serviço da Nação, dando-lhe a prosperidade que todos conhecem, transformando totalmente a sua fisionomia, testemunhada por portugueses e estrangeiros, cujas afirmações são objecto diariamente de espontâneas declarações em todos os órgãos de informação nacionais e estrangeiros.

Ao que pode levar a cegueira das paixões políticas, ou, melhor, o ódio e a ambição do mando de tais senhores! ...

Depois do que escreveram, venham ainda dizer que em Portugal não há liberdade, apesar de lhes terem consentido fazer circular tão infeliz e antipatriótico documento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas descansem todos os portugueses dignos deste nome. O património nacional está confiado em boas mãos, e tanto a bordo do Santa Maria como em terras de Angola foi imediata a reacção, embora preciosas vidas humanas fossem sacrificadas em holocausto à integridade da Pátria.

Mas descansem todos os portugueses, que as forças directamente encarregadas da manutenção da ordem - o Exército, a Marinha e a Aviação, como demonstraram agora em Angola e o demonstrarão onde for preciso - são compostas só de portugueses, herdeiros de gloriosas tradições, que jamais consentirão, sem o devido e imediato castigo, sacrílegos atentados à integridade da Pátria e à bandeira que a simboliza, desfraldada em todas as terras que os nossos maiores legaram e fertilizaram com o seu suor e o seu sangue generoso.