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10 DE FEVEREIRO DE 1961 433

complacente para com qualquer aventureiro só pelo facto de se dizer cavaleiro de qualquer liberdade ou de qualquer democracia?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Seria ingenuidade demasiada, para ser tomada .a sério, admiti-lo. Não. Todos nós sabemos bem, e sem possibilidade de controvérsia, que qualquer apoio, ou mesmo a simples complacência internacional, ainda, poderia ser obtido por um aventureiro a troco da cedência de uma posição estratégica ou da transigência em matéria ultramarina, nunca em nenhum outro caso.

A suspeição seria pelo menos tão forte que a qualquer patriota digno não seria nem legítimo aceitá-la, nem sequer apreciá-la. Os tempos das guerras santas já lá vão. Nem os Árabes parecem já capazes de a fazer, nem os Russos se atrevem a proclamá-la, embora a pratiquem.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - Há conivências que são mais do que suspeitas, que em tempos como os que vivemos só podem merecer um nome - traição ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... traição dos que as buscam ou aceitam, traição dos que lhes emprestam solidariedade, ainda que seja apenas por ódio ou por paixão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: de tudo isto hei-de concluir que a campanha contra o País tem uma raiz única e bem definida - a defesa intransigente do ultramar. De tudo isto hei-de concluir procurar-se dentro e fora do País desvirtuar o objectivo e a razão de ser da campanha com uma finalidade evidente - dividir os Portugueses, com o fim claro e nítido de favorecer a subida ao Poder de governantes mais «compreensivos» ou menos intransigentes no que respeita à defesa da integridade da Pátria ou, pelo menos, fazer com que as energias necessárias ao progresso do País e à defesa do ultramar se consumam em lutas fratricidas que nos enfraqueçam e tornem em presa fácil de um capitalismo e de uma política internacionais tão ávidos como despropositados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não pode permitir-se por mor de questões do regime político ou de modo de governar que deixemos entrar na fortaleza, em que temos podido resistir, enquanto os outros baquearam, o cavalo de Tróia do dissídio e da divisão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E mister que o País compreenda com toda a violência que comporta. É necessário que não nos prestemos, em qualquer caso ou por qualquer forma, a deixar corroer a nossa unidade, que antes é preciso reforçar todos os dias e por todos os meios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: as intenções confessas dos assaltantes do Santa Maria e os acontecimentos de Luanda são bem a medida de que a traição à Pátria pode andar paredes meias com os ódios pessoais ou as ambições frustradas.

Nem podemos iludir-nos nem adormecer. Há factos que são traição à Pátria, mas há também solidariedades que comprometem. Impõe-se denunciar uns e outras - não permitir que por qualquer deles se adulterem os factos, confundam os Portugueses ou tornem instrumento de conveniências alheias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: vem tudo isto por causa do infeliz comunicado de três democratas, que, começando por ser descorteses e deselegantes, pela forma como procederam, pela unilateralidade - e quiçá antecipação aos factos - com que o elaboraram, acabam por se solidarizar com os assaltantes do Santa Maria; sem terem uma palavra que mostre compreensão do momento que o País vive, e cuido ser dos mais difíceis da sua história, marque, par qualquer forma, firmeza aia defesa intransigente do ultramar, apoio nesse ponto, e só nesse, à política do Governo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Prestaram, porém, um serviço - foram claros para o País -, e o julgamento a que devem sujeitar-se toma-se extremamente simples, embora tenha de ser tão severo como consideram ser apanágio da sua crítica.

Compreender-se-ia que tivessem neste momento condenado a atitude dos aventureiros, a quem não custa mercadejar a Pátria, significado apoio à atitude firme e intransigente do Governo, embora sem abdicar das suas concepções ou pontos de vista partidários.

Teriam merecido a simpatia do País e criado até ao Governo a obrigação de, pela sua parte, tomar as possíveis disposições para que uma mais ampla colaboração dos Portugueses, que se tem como fundamental à defesa da Pátria, pudesse realizar-se.

E nem se diga que podem justificar-se com motivos de queixa pessoal ou em discordâncias que sobrelevem o dever primeiro dos Portugueses nesta hora.

De maneia-a nenhuma. Queixas todos as temos, em maior ou menor grau. Eu também tenho as minhas. Discordâncias todos as têm, e, por temperamento e natureza, todos somos levados a dar-lhes excessiva relevância. Por mini não tenho deixado de as levantar perante o País e sem reticências quando as condições da nossa vida o consentem.

Compreenderia mesmo que se insistisse pela necessidade de procurar certas reformas ou de rever certos procedimentos. Pois não tenho eu próprio lutado por que cessem certas prepotências oligárquicas, se pratique deliberadamente uma política vincadamente social e se acabe com certos sectarismos despropositados?

O que eu não compreendo - e cuido que estou em boa companhia - é que se condicione o apoio, e até a cooperação à defesa da integridade do País, a questões de facção, de grupo ou de sectarismo. Isso não, isso nunca!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A imprensa portuguesa não se dispensou de tomar posição - honra lhe seja! ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... apontando ao País o caminho que importa que cada um e todos percorramos de mãos dadas, conscientes da força da nossa razão e também da força da nossa unidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!