O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

11 DE DEZEMBRO DE 1963 2685

aqueçam os primeiros, por traduzirem o interesse nacional, e me desgostem as segundas, por reflectirem quão arreigados estão ainda, nalguns espíritos, egoísticos e mesquinhos interesses, serviram-me uns e outras para poder dizer com Campoamor nos momentos de remausosa meditação: «todo és segúu el color del cristal con que se mira».
Fazendo o ponto na trajectória que me propus seguir, em cuja limpidez, e atendendo aos altos interesses nacionais, não seria lícito esperar, como no Eça, o manto diáfano, ainda que sobre a nudez forte da verdade, tenho para mim e à luz do interesse geral, do tal cristal através do qual devem olhar-se todos os problemas, que estou na linha mais útil ao País e a única que suponho de acordo com os princípios da Revolução Nacional, que eu pretendo revigorada na sua pureza e dinamizada na acção.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Penso que, se não estivermos atentos ao curso das solicitações políticas, económicas e sociais do tempo presente, e em especial se não formos prontos nas suas soluções, corremos o risco de invalidarmos, ou pelo menos diminuirmos, nos anos mais próximos o valor do trabalho sério e perseverante em que há tantos anos andamos empenhados!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Julgo que, longe de se reputar como menos ortodoxa uma atitude crítica construtiva e estimulante, ainda que doa, deverá antes considerar-se sadia, indefectível e eloquente manifestação de confiança no presente e fé no porvir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estou convencido de que é precisamente por uma geração que tome como lema a integridade da unidade nacional, a defesa intransigente da família, mas que não abdique de desassombrada e construtivamente criticar, apontando os melhores rumos, que Portugal se há-de continuar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, meus senhores, neste aspecto há que operarem-se algumas transformações na mentalidade de muitos dirigentes, para que jamais seja possível o clima que leva a admitir, como no caso das conservas, que o melhor é não mexer nos assuntos para que não venham ao conhecimento geral! ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E ainda para que, sobre muitos aspectos, por falta do sentido da oportunidade, não seja possível aos nossos opositores apresentarem-se como pioneiros desta ou daquela actividade, cultural, física, económica ou política, quando a maior parte das vezes já as preconizávamos e tínhamos sobre elas ideias bem definidas e assentes.
Temos obrigação de marchar na vanguarda e, consequentemente, de não precisar de que nos empurrem!
Quem dirige só pode ter como objectivo o interesse geral, pois nada poderá jactar-se de âmbito nacional se não interessar fundamentalmente a grei.
Consequentemente, os dirigentes terão de ser escolhidos de entre os melhores, sem dúvida, mas aqueles que tenham dado provas de amor à Pátria e independência perante a trama dos interesses inconfessáveis de indivíduos, organizações e combinações que cheiram, quantas vezes e apesar de todos os disfarces, a demoplutocracia desenfreada!

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Não devemos deixar desvirtuar a função eminentemente social do capital e da terra, que, embora bens absolutamente legítimos, só serão benquistos na medida em que se afirmarem factores de desenvolvimento e progresso, e não elementos de subversão a que a acumulação desmedida e inútil ou o não aproveitamento integral os pode levar.
Daí estarmos inteiramente de acordo com os planos de fomento agrícola e com os propósitos do Governo de uma tributação progressiva em função do rendimento de cada um, cada vez mais regularizadora do ambiente nacional, e ainda advogar medidas que obriguem o capital a ter de empregar-se cada vez mais na obra de valorização que é preciso fazer em todo o País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, por exemplo, porque se não há-de deixar construir estradas, pontes, etc., a empresas particulares, mediante concurso público, cobrando estas, para se ressarcirem do capital investido e juros, uma portagem razoável por períodos bem definidos?
Porque só ao Estado é permitido tal processo e às câmaras municipais não?
Não se libertaria a Administração de enormíssimos encargos, que votaria a outros empreendimentos sem que parassem estas e outras obras de fomento tão necessárias ao País?
O que o Estado não puder fazer deve deixá-lo fazer à iniciativa particular, sem perda de tempo.
Aqui fica o alvitre.
Numa ligeiríssima apreciação da fenomenologia nacional, a nota que mais me tem ferido a sensibilidade não é a falta de liberdade de que alguns tão injustamente nos acusam - eu próprio tenho sido livre para dizer o que a minha consciência me tem ditado -, mas a falta de audiência, nalgumas instâncias superiores, dos nossos, por vezes, mais que justificados reparos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Audiência que pode não significar satisfação, mas, pelo menos, a explicação dos problemas porventura mal equacionados.
Será de boa política que alguns dirigentes, a propósito de problemas candentes e perante a expectativa geral do País, façam apenas afirmações vagas, imprecisas e aleatórias, deixando imediatamente a impressão, segundo cada caso, de que ... também não resolvem o problema?!
Quando realmente se pretende resolver um assunto e aquietar o País a esse respeito, porque não se afirma categoricamente, como, aliás, nalguns casos se tem feito: o assunto vai imediatamente ser estudado, devendo conhecer-se o resultado em tal data?
Pois não é assim que se faz para os inquéritos? É preciso esclarecer os governantes de que os inquéritos sobre as conservas, sobre o caso da índia, como sobre o Cais do Sodré tiveram uma sadia repercussão em todo o País. e posso afirmar, tanto quanto me foi possível contactar com a opinião pública, que esta considera a responsabilização a única maneira de conduzir a administração pública.

Vozes: - Muito bem, muito bem!