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8 DE JANEIRO DE 1964 2815

por tal, já não carece de uma «carta» ou «lei» de direitos civis.
A nossa política ultramarina criou elites locais e a tal ponto que, numa reunião à margem das Nações Unidas, fez um representante africano espantar-se do grande número de licenciados de cor que o País preparara!
Mas, como tal número fosse um elemento positivo a favor da nossa política integracionista, logo o fez pressuroso aditar não ser conveniente referi-lo, já que o que interessava era obnubilar todos os aspectos positivos dessa mesma política.
Ora, todos estes factos revelam que a arquitectura sob que se ergueu a nossa comunidade é de tal sorte sólida, real, exprime a tal ponto uma vocação histórica, que fez ao Chefe do Governo afirmar que «uma sociedade multirracial não é uma construção jurídica ou regime convencional de minorias, mas, acima de tudo, uma forma de vida e um estado de alma que só podem equilibrada e pacificamente manter-se apoiados numa longa tradição».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «Uma forma de vida e um estado de alma» - estas as duas grandes constantes que, suportadas pela tradição, formam e informam o mundo português. Mundo onde a unidade nacional se casa perfeitamente com a descentralização administrativa que a reforma da lei orgânica, faculta; mundo que soberanamente se ajusta a uma progressiva participação do elemento humano nos diversos órgãos de administração local ou da política nacional.
E tudo isto, pois, que constitui a unidade da Nação.
Depois de estudar o .plano das nossas relações com os países africanos e a O. N. U., referiu os «extremos de paixão e extravio da razão humana» utilizados na discussão dos nossos opositores, quando pretendem contestar a validez da nossa posição, como apontou o carácter revolucionário de alguns movimentos africanos, cujos fins estão longe de sei- conformes aos interesses das populações que visam.
E, num juízo sereno, lúcido e profundo, acaba por demonstrar todo o equívoco da definição dos conceitos de descolonização, independência e autodeterminação tal como eles são entendidos pelos afro-asiáticos e nas diversas salas das Nações Unidas, assim como o significado autêntico de certos subsídios e ajudas internacionais, convertidos posteriormente em ignóbil forma de exploração dos países auxiliados.
E, em confronto com todo este amálgama de ódios, confusões e torpeza, numa voz que tem por si toda a força e majestade de uma pátria que não foi realizada a compasso ou por força de imposições estranhas, mas pelo querer do seu povo, oferece o .Sr. Doutor Oliveira S ai azai1 «a mais estreita e amigável colaboração», «a maior correcção» e promete, numa afirmação de patriotismo sem par, a defesa dos nossos, territórios «até ao limite dos nossos elementos humanos e dos nossos recursos»!
Em face da política onusiana, anota as suas constantes contradições, as contínuas violações das disposições da Carta, imoladas ao sabor ondulante de uma maioria ocasional, ao mesmo tempo que destaca as linhas de evolução do domínio político ou económico que a Rússia e os Estados Unidos desenvolvem na sua estratégia frente ao continente africano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É o que expressivamente enuncia quando postula:

Assim a África está sendo o campo em que se digladiam dois mundos: nós constituímos apenas ocasião e pretexto.
Salientando que o tema das nossas preocupações sobre o ultramar já vem de longe, remata o Sr. Presidente do Conselho a sua luminosa exposição sobre os problemas que ora se nos deparam e em que está «em causa a existência da Nação».
Não poderia este órgão de soberania - a expressão mais viva da representação popular - deixar de se pronunciar sobre a política ultramarina do Governo.
E a nossa pronúncia, não pode traduzir-se senão num bem-haja ao Governo por tão bem ter servido e defendido os superiores interesses do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E o nosso aplauso não pode ser outro senão o afervorado e solene ajoelhar - alma em prece -, numa homenagem de gratidão a Deus, por nos ser concedida a suprema glória de ver as nossas forças armadas, a nossa soberana juventude, marcharem «naturalmente, como quem vive a vida» e merecerem, pelo seu exemplo, pela sua acção, o nome imortal de «benditos» da Pátria!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A gesta dos que, por seus feitos e virtudes, escreveram as imorredouras estrofes dos Lusíadas continua-se em África, num novo e majestoso canto, salpicado de páginas imperecíveis da mais autêntica epopeia, cinzelada a rútilo sangue, a indómita fé a inconcusso heroísmo, no livro marmóreo do tempo!
O Portugal de hoje já não é «nevoeiro», atestam-no os feitos dos nossos heróis; o Portugal de agora, inabalável, unido nas suas dores como na sua glória, esse «outrora senhor do mar», de quem o Poeta receava estivesse «dormindo», ergue-se de pé, todo inteiro, vigilante, espírito e corpo em armas, escrevendo em pleno século XX novas e gloriosas epopeias, para que não se perca, com a fazenda, a honra nacional! E é esse Portugal, hoje unido e coeso como nunca, que importa saudar na plenitude da sua nobreza, na certeza de sua integridade!
Não nos cansamos de repetir: se ruísse o maravilhoso mundo que os portugueses criaram, a história ficava vazia, o corpo do País despedaçado e a alma da Nação - essa amortalhava-se!
Dizia Vieira que «dos futuros condicionais e contingentes ninguém é sabedor senão Deus e os profetas».
Das declarações públicas que vem fazendo o Sr. Presidente do Conselho acerca dos nossos problemas ultramarinos fica-nos a certeza de ser ele o melhor augure das linhas vectoriais com que se escreve o futuro da Pátria.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz obséquio.

O Sr. António Santos da Cunha: - Referiu-se V. Ex.ª às forças armadas e ao entusiasmo com que a nossa mocidade bem tem sabido compreender o seu dever, marchando alegremente - é o termo - para as nossas terras do ultramar. Julgo que de facto é nota a pôr em destaque e que vem desmentir o muito que de mal se disse