O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3786 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 150

dariam vapores fruteiros à província para por eles se fazer essa exportação!!
Veja-se bem o que se poderá ter perdido para a economia da província só no tocante à exportação de frutas por virtude de uma administração um pouco descuidada.
Outro produto da terra que poderia ser exportado em palpável quantidade, o café, dos melhores do Mundo, não tem merecido a honra de ver aumentada a área da sua cultura.
É triste ter de se. afirmar que em 1962 apenas se exportaram 22 t.
O mesmo sucede com a purgueira e o rícino, cuja produção vem decaindo dia a dia.
Nunca se tentou uma campanha a favor da cultura do cajueiro, apesar das suas imensas utilidades e de essa cultura representar apreciável quota nas exportatações de Moçambique e conhecendo-se que a sua vizinha Guiné Portuguesa, não tem poupado esforços para que ela se torne, pelo menos, regular manancial de riqueza.
Em 1963, o notável engenheiro agrónomo brasileiro Pimentel Gomes, numa pequena monografia intitulada O Cajueiro, escreveu, a p. 8, o seguinte:

O cajueiro encontraria no simpático arquipélago de Cabo Verde condições ecológicas que permitem o seu desenvolvimento.
................................................................................
A agricultura está mais adiantada nas ilhas de Santiago, Santo Antão, S. Nicolau, Fogo e Brava. E, porém, uma agricultura muito atrasada, pois os problemas económicos do arquipélago têm sido bastante descurados. Faltam obras contra as secas periódicas a que estão as ilhas sujeitas. Falta, de maneira absoluta, o ensino técnico. O crédito agrícola está por ser organizado. O fomento agrícola é descurado. O fundo do pessimismo dos Cabo-Verdianos tem razões bem fundadas.
Encontrariam eles no cajueiro uma árvore frutífera extremamente rústica, muito resistente às secas, capaz, talvez, de vestir as encostas desnudas e cinzentas das suas montanhas, fornecendo frutas abundantíssimas, deliciosas e riquíssimas de vitaminas, capazes de concorrer para a industrialização do arquipélago.

E mais adiante, a p. 10:

O cajueiro é uma planta preciosa como fruteira, e deve a sua cultura tomar grande incremento no Brasil. Utilíssimo por toda a parte, mais útil é ainda na região semiárida, que nos seus trechos não irrigados é pobre em frutas. O cajueiro aí tem um grande papel a desempenhar, pois, além de outras virtudes, resiste bem ao rigor das estiadas.
................................................................................
A mesma medida deve ser tomada nas ilhas de Cabo Verde, cuja pluviosidade é pequena e muito irregular, variando muito de um ano para o outro.

Assim escreve um brasileiro sobre Cabo Verde. Esse opúsculo é de há doze anos. E, que eu saiba, nunca alguém se ocupou de tal assunto nesta província. Cabo Verde não tem tentado uma experiência de que poderia resultar uma palpável melhoria do seu problema económico.
É tempo de se começar, mas com execução pronta, demais muito facilitada por recursos limitados de que necessita essa experiência.
Se o caso merecer o interesse da Administração, Cabo Verde só pede que não lhe mandem mais uma missão ou brigada para estudos e execução. Seria mais um pesadelo a ajuntar a quantos que de há muito a vêm atormentando.
Enviem-lhe 3 t ou 4 t de boas sementes, que, quanto ao resto, a província tem francas possibilidades de executar tecnicamente o ensaio com o pessoal lá existente.
Se se verificar a possibilidade de grande expansão da arborização do arquipélago pelo cajueiro, além desse enorme benefício, a feição comercial e industrial dos seus produtos seria forte e salutar vantagem, de que pouca gente se apercebe, e só assim se explica que até hoje não se tenha lançado mão dessa tentativa.
A Comissão de Contas opina, em mais de um passo do seu parecer, haver imperiosa necessidade de se "tentar a industrialização de recursos potenciais que existem, como o peixe e outros".
Quanto à indústria do peixe, farei desde já algumas referências para o seu quase completo esclarecimento.
Pràticamente, desde que começou o povoamento do arquipélago se verificou a grande riqueza piscatória dos seus mares, riqueza que os primeiros povoadores aproveitaram para seu sustento e fornecimento de barcos que demandavam os portos das ilhas então descobertas.
Só muito mais tarde, em fins do século XVIII, o Governo se apercebeu da necessidade de olhar a sério para o problema, fazendo publicar decretos e portarias e nomeando comissões de estudos e inquéritos, com o fim de aproveitar devidamente a riqueza do mar. A certa altura o entusiasmo sumiu-se. O Governo desinteressou-se e a população seguiu na sua esteira.
Em 1957 foi mandada ao arquipélago a Missão de Biologia Marítima, que começou a prospectar as suas águas e a sua fauna, em especial o atum e a lagosta, com vista à sua industrialização.
Essa Missão trabalhou a bordo do navio Baldaque da Silva cerca de quatro meses em 1968 e três meses no ano de 1959, tempo escasso para uma prospecção perfeita, mas que no entanto deve ter permitido a colheita de elementos que novas prospecções aumentariam, de modo a tirarem-se conclusões certas quanto às possibilidades piscatórias dos mares de Cabo Verde e outros circunvizinhos. O relatório dos seus trabalhos foi publicado no volume Estudos de Economia, da Junta de Investigações do Ultramar, em 1961.
Dele transcrevo a primeira conclusão, do teor seguinte:

A situação geográfica do arquipélago e a riqueza da fauna ictiológica dos seus mares são elementos promissores da viabilidade económica de indústrias extractiva e transformadora da pesca do atum e similares.

Muito antes dessas prospecções, várias empresas piscatórias se instalaram em algumas das ilhas, quase todas com pouca viabilidade de sucesso, dado que não conceberam um devido planeamento nem as dimensões que a exploração deveria ter, em face da riqueza que o mar lhes propiciava.
Uma empresa, a Congel, lançou ombros em S. Vicente a empreendimento que pode vir a ter forte repercussão na economia da província. Sabe-se que obteve grande financiamento proveniente da Alemanha, o que poderá garantir uma exploração segura e em grande escala.
Sabe-se ainda que outra empresa, também financiada por alemães, conta poder estabelecer cometimento igual na Praia.