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15 DE DEZEMBRO DE 1964 4165

E se na vida da Nação esses dois tiros puseram mancha de vergonha, à geração que os ouviu tinha de trazer cruciante desespero.

Era preciso que houvesse sangue para que pudessem alcançar seus fins os que sempre trabalharam no escuro das alfurjas. sempre os mesmos, com gente diferente, mas causa igual.

Era assim, e Sidónio Pais assim teve de morrer, entregando tão cedo a vida que oferecera conscientemente à Pátria, na esperança de a salvar.

A bala que o feriu a ele também nos atingiu, pois, nesse mesmo instante, nós, os novos desse tempo, e que o seguíamos, todos sentimos que em poucas horas envelhecêramos anos.

Eu falo por mina, que era um rapazinho, cadete da Escola de Guerra, onde seguia o meu curso, e, por definição, era um cadete de Sidónio. Nós, os que o vimos morrer, os novos desse tempo, sentimos imediatamente que era preciso reagir, lutar, fazer qualquer coisa, e, sobretudo, tomar consciência do desastre e das suas consequências, vistas à luz de já nos sentirmos mais velhos. Nada há mais aliciante para a mocidade, que é boa a generosa, do que a ânsia de conduzir, com fé e com risco, um facho, se estiver convencida da razão por que o não deve deixar apagar.

E, por isso, fomos nós talvez, os mais novos desse tempo, os melhores colaboradores que Sidónio teve, para que se não apagasse a chama que já iluminava si estrada por ele tomada, com o aplauso e o entusiasmo gritante de quase toda a Nação, que galvanizada resolvera segui-lo.

Nós sabíamos que ainda não chegara a nossa hora, mas não ignorávamos, apesar da nossa exuberância de juventude, que era certamente necessário, e desde logo, manter o nosso concurso, viver a nossa fé e dar o nosso entusiasmo para que o esforço já feito por Sidónio se não perdesse nos dias que iriam seguir-se à sua morte.

Os seus colaboradores, os mais velhos, e que foram homens do Governo, por ele chamados ou que patriòticamente se lhe ofereceram, pondo a Pátria acima de partidos, não puderam dar tudo o que valiam no curto espaço do seu governo. Os novos desse tempo têm a consciência de ter dado calor, entusiasmo e dedicação às intenções do Presidente Sidónio Pais, e de lhe ter feito justiça, apesar de serem tão novos e lhes faltar em experiência o que sobrava em dedicação.

Uma vez, não sei se a esta mesma hora, mas deste mesmo lugar, há doze anos atrás, e também neste dia, eu disse, se a memória me não falha, que no primeiro desfile da Legião, o seu grande desfile, o primeiro que se fez em Lisboa, a velha cidade reconheceu quase todos entre os mais velhos que desfilavam. Reconheceu-os porque eram exactamente os mesmos, agora mais velhos, que sempre haviam combatido pela causa sagrada da Pátria! Os mesmos que já vinham da primeira hora salutar de revolta contra tudo quanto era causa de perdição e desgraça de um povo que agonizava e nunca tinha querido morrer!

Eram afinal os mesmos de sempre, com a idade cada vez mais avançada, mas que, tendo sido da primeira hora, queriam ser também dos que lhes estavam sucedendo.

E neste momento recordo, com infinita tristeza, tantos que já faltam ... e até alguns nesta própria sala.

De entre todos destaco um, e se a todos os outros me não refiro é porque eles ficam todos bem acompanhados nesta minha evocação, que os engloba: o nosso colega de tanto tempo aqui na Assembleia e sempre o mais indómito dos rapazes novos, pois assim o foi até ao fim da sua vida - o Jorge Botelho Moniz.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sei que faltam muitos já e dos melhores. Mas, mesmo assim, devemos estar todos prontos ainda para o que nos for possível realizar, continuando a servir.

Foi assim que se fez quando Sidónio já era morto ... Nessa época de revoluções e de atentados, em que tudo se resolvia no tiro ao alvo, verdadeiro jogo de feira, em que o dia de sorteio grande foi o 19 de Outubro, os que estavam ainda vivos resolveram continuar a lutar para conseguir o que Sidónio. cedo de mais. tinha também tentado ...

E a fé patriótica era de tal ordem e a vontade tão segura e firme que foi possível ver nascer, finalmente, um grande dia, o 28 de Maio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Também agora ninguém deve adormecer e esquecer que é imperativo de consciência cumprir o dever patriótico, religioso e humano de não querer que voltem a Portugal os dias tristes que nele já se viveram.

Ë preciso pôr em relevo, como eu tento fazer, que o Presidente Sidónio Pais ajudou, mais do que ninguém, com a sua tentativa de regeneração - que foi a primeira, e muito cedo! - a que terminasse o marasmo aviltante em que a Pátria aos poucos se afundava.

Foi por isso que me atrevi, e com tão pouca voz, a tomar-lhe este tempo.

Não apoiados.

Passaram já 46 anos sobre a morte do Presidente, e 46 anos é tanto tempo que a vida de hoje é diferente da de então em tudo ou quase tudo o que era a antiga vida, desde o clima social ao respeito humano, à prática religiosa e aos valores económicos, tanto na nossa terra como em todas as outras por este mundo fora.

Só a mocidade de hoje, que também é diferente, mercê dessa vida nova e também dos nossos olhos, porque somos mais velhos, constitui esperança bem fundada de mais cedo, se ela quiser - e eu julgo que o deseja -, se tornar depressa mais velha para dar à Pátria mais cedo o concurso da sua intervenção, fornecendo os homens de amanhã.

Devem lembrar-se de que se deve deixar tão depressa o que é despreocupação feliz de juventude, quanto mais cedo, como agora, a Pátria espere e deseje o vosso esforço, ao saber-vos preparados para as responsabilidades a assumir.

A mocidade de hoje, enlevada nas facilidades que a vida actual lhe proporciona, precisa lembrar-se de que bem cedo terá de fornecer os homens de governo de amanhã.

Foram os que envelheceram depressa, na vida agitada que em novos viveram, os que trouxeram agora a Portugal, nesta hora de ódios, combates e perfídias que o atingiram, o orgulho de estar em condições de permanecer forte e capaz de responder e reagir aos insultos e agressões de que é vítima.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não é de censurar que os mais velhos o recordem e entendam que é útil para os mais novos dizer-lhes, tantos anos decorridos, o que foi a vida e morte do Presidente Sidónio Pais. Há momentos em que, ao recordar Sidónio Pais, como agora, me lembro de que S. João Baptista perdeu a vida a tentar endireitar caminhos.

Também Sidónio alguns caminhos endireitou ... e na luta entregou a vida.