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2744 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 150

-pouco a terra-mãe que lhes moldou o carácter e tonificou o coração.
Eu vi, ainda, Sr. Presidente, na alegria dos velhos e na esperança dos novos um sentimento de incontido triunfo. Ao aclamar o Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano, o povo da serra. orgulhava-se do grande sucesso do filho de um dos seus mais queridos filhos. É tomava-o como seu, proclamando-o com a naturalidade dei um pai que se revê em quem lhe continua o nome.
Passa-se, ainda aqui, algo de único e maravilhoso: o povo da. serra orgulha-se das vitórias de cada um dos seus filhos, toma tais êxitos como património de todos e proclama-o com a mesma intensidade com que, nesse luminoso dia 9 de Novembro, aplaudiu o Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano.
À serra, ocorreram nesse dia muitos dos que na diáspora a que a vida es obrigou não esquecem a terra-mãe. E, ao evocar, em Pessegueiro. (Pampilhosa da Serra), o seu labor e a sua dedicação às origens, o Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano repetiu uma lição que também aprendeu com o seu saudoso pai.
Essas generosas agremiações regionalistas que, por si sós, têm operado maravilhas, na resposta ao desafio que i, progresso lançou a uma serra tão esquecida dos Poderes Públicos, bem mereceram a consagração de voz tão autorizada. E no incentivo do Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano às suas c usadas insistências terão ganho alento para novos e mais arrojados voos.
Sr. Presidente: Com a responsabilidade que resulta da representação que as populações do distrito de Coimbra me entregaram, sinto que não podia calar tudo o que disse, mas estou igualmente certo de uma incapacidade para traduzir tudo > que apreendi nessa memorável visita.
Como pobre homem da Pampilhosa da Serra, limito-me a repetir o que. ao findar desse dia, na homem que o toque das trindades convida a um exame de consciência, ouvi da boca de muitos:

No meio de tanta alegria, só uma coisa nos pesa, não termos podido receber melhor o Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano em nossa casa.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cunhe Araújo: - Sr. Presidente: No passado dia 14 de Outubro comemorou-se o quinquagésimo aniversário da gloriosa morte do primeiro-tenente Carvalho Araújo, comandante rio caça-minas Augusto de Castilho, afundado no mar dos Açores e com o qual pereceu varado pelas bulas de um submarino alemão si quem heroicamente resistira no cumprimento da sua missão - comboiar o paquete S. Miguel, cujos passageiros e tripulantes puderam salvar-se graças ao sacrifício da sua vida.
Solenes cerimónias se realizaram em alguns pontos do País com o fim de lembrar e exaltar o memorável feito, tão ousado que o próprio comandante do navio inimigo, acerca dele, haveria de escrever:

Tenho de confessar que o ataque foi feito com um brio e uma tenacidade nunca observados nos outros inimigos e que a valentia com que esse navio (mais fraco quanto a artilharia) se arrojou sobre o meu submarino me provocou admiração.

Entre elas, pelo sentimento e esplendor que a caracterizou, julgo merecer salientado relevo a realizada em Vila Real. capital dessa altiva província transmontana de que provinha o bravo marinheiro, que elo sempre amou como terra mater, onde cresceu e despertou para a vida consciente, onde estudou e se fez homem, onde formou o seu rijo carácter e de que sempre se considerou natural no entendimento acertado de que ao acaso do seu nascimento se sobrepunha o poder vinculatório das terras em que fora gerado e se enraizava toda a sua tradição familiar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em tribuna armada frente à estátua do glorioso marinheiro, erecta na avenida com o seu nome, ali perpetuado no bronze a que hábil escultor soube imprimir a expressão decidida do seu carácter indómito e resoluto, pude, entre os demais, sentir todo o orgulho de ser transmontano e português e sentir bem vivos na raça, largamente representada, todo o frémito dos sentimentos de cuja amálgama pôde brotar o herói relembrado e homenageado. Corpo hirto, braços distendidos, punhos cerrados, o peito altaneiro e a fronte arrogantemente erguida emprestavam à frieza do bronze, que todos fixavam, o porte humano do homem que representava na arrojada posição de oferecer à copiosa metralha inimiga a invencibilidade, da bandeira por que lutava.
E era, então, como se estivéssemos a vê-lo no convés do frágil Augusto, de Castilho, batido pelas ondas, tremulando o seu capote ao sopro da brisa atlântica, altivo, imensamente grande e esplendorosamente aureolado pelos louros da batalha que não perdera ao ganhar a imortalidade dos heróis, morrendo ao serviço da Pátria de todos nós. Havia misticismo no ambiente respirado e na grave compostura das gentes.
O rufar dos tambores, a impecável formação dos soldados e marinheiros, a marcha rítmica com que desfilaram em continência, a evocação dos que ao lado de Carvalho Araújo morreram igualmente heróis, a chamada dos vivos, o ribombar sibilante dos oito jactos com que a nossa Força Aérea só associou à homenagem, a presença do Sr. Ministro da Marinha e demais autoridades, as flores e o calor humano dos muitos que silenciosamente comungavam a hora de consagração vivida entre os seus familiares presentes, puderam emprestar à solenidade aqui relembrada a marca inequívoca e indelével do patriotismo que foi a mais eloquente expressão do sentimento nacional que a inspirou. Muito para o de lá do fantástico episódio guerreiro, da veneração prestada à coragem, à honra e dignidade no cumprimento do dever, da generosa dádiva da própria vida em seu holocausto, tudo foi mais, muito mais no sabor de intenso sentido epopeico daquela tarde morna de 14 de Outubro, em que a nobre cidade de Vila Real, colgaduras pendentes das janelas a que se assomavam rostos compenetrados, soube ser digna da hora vivida e do homem cujo símbolo orgulhosamente guarda na bela Avenida de Carvalho Araújo, que antes de o ser da Nação o foi todo seu pelo coração.
E a ter sido como o afirmam os cronistas da governação então vigente, se realmente entrámos na guerra que ... vitimou obrigados pelas necessidades de salvaguardar a integridade do nosso território ultramarino, então, ainda bem que foi à nossa geração que inequivocamente hoje se bate e morre pela sua sobrevivência, que pôde cumprir, como devia, a comemoração e exaltação do feito precursor dos seus próprios feitos, com todo o direito, com mais direito de guardar, para si e de se sentir orgulhosa pelo depósito que detém e manterá, honrosa e galhardamente, das virtudes e da coragem tão nobremente vividas pelo heróico Carvalho Araújo, redivivo nesses outros que tombam, mas não morrem, olhos postos na bandeira da Pátria por que igualmente lutam.

Vozes: - Muito bem!