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11 DE DEZEMBRO DE 1968 2761

da Serra, realizada no pretérito mês de Novembro, já foi merecidamente realçado nesta Casa pelo Sr. Deputado Nunes Barata, que, sendo um ilustre e muito valioso representante daquela vasta região, aqui deixou, com a alta fluência do seu verbo, bem assinalada a importância do fasto que tão venturosamente se viveu.
Salientou muito bem o Sr. Deputado quanto as gentes serranas se orgulharam e orgulham por aquele dia inesquecível, em que a própria serra se vestiu do mais rutilante sol, dominando facilmente as tormentas dos dias anteriores, para significar ao homem ilustre que a visitava a satisfação de o receber e, ao mesmo tempo, afirmar-lhe, na mais bela das linguagens que a Natureza fala, a certeza do porvir da Pátria sob a sua égide.
É que, assim como o Sol vencera os castelos das nuvens que lhe haviam escondido as perspectivas de grandeza dos relevos magníficos, desvendando a serra imponente que é a sua verdadeira realidade, também o sol bendito da lusitanidade acabará sempre por vencer os ensombramentos das nuvens da inveja que, por vezes, possam tentar esconder toda a grandeza da Pátria.
Esta mensagem bem a compreendeu o governante ilustre quando passeou os seus olhos pelas lonjuras onde os alcantis pareciam tocar o próprio céu ... em que as nuvens se haviam refugiado.
E bem a compreenderam também as gentes serranas e todo o escol dos valores regionais que comungaram dos mesmos sentimentos de apoteose naquele dia que se viveu com rara felicidade!
O Prof. Marcelo Caetano volvia às regiões em que, na adolescência e na meninice, amealhara a fortaleza de ânimo e o valor que o haviam de guindar às proeminências de primeiro servidor de Portugal; e esta qualidade, a despeito de ficar guardada no íntimo das almas e não ser, por isso, aliciamento para homenagens, mesmo assim inundou de felicidade toda a região, repercutindo-se de norte a sul do País.
Por isso os povos compareceram, naturalmente, com as almas incendiadas de respeito e de veneração, a tributarem a saudação simples que a própria humildade e a sinceridade tornaram gigantesca, e, naqueles momentos tão curtos do dia ensolarado, a serra viveu o seu dia grande!
Por seu lado, o governante afável, afastado das galas da sua alta estirpe, sentiu felicidade nesse encontro com o povo generoso e sacrificado que, esquecido das grandes inibições em que é forçado a viver, o saudava comovidamente.
Eu vivi, Sr. Presidente, a jornada maravilhosa e senti as alegrias inesquecíveis dessa apoteose da simpatia.
Tenho procurado defender nesta Câmara os direitos irrecusáveis das gentes daquela região, onde o fascínio da terra alimenta generosamente e revigora em cada dia o amor ao rincão natal de forma tão surpreendente que transforma em tarefas agradáveis os pesados sacrifícios para garantir a sobrevivência e o progresso desses empobrecidos pedaços de Portugal, sacrifícios que nunca são regateados.
Sinto, por isso, que me não seria lícito deixar de assinalar também a ímpar grandeza do acontecimento.
Esta a razão das minhas descoloridas palavras.
Quando se fala das virtual idades e dos sacrifícios dos povos serranos, perpassa vagarosamente perante nós a verdadeira heroicidade daquelas gentes que nunca perdem o rumo do seu torrão natal e a essa porção da terra, as mais das vezes proporcionadora de escasso nível de vivência, dedicam amor que não tem par em qualquer escala do bem-querer.
Amor assim, que tudo oferece e nada pede, só o cicló-pico poder do fascínio da terra o pode explicar.
Eu não sei, Sr. Presidente, de qualquer outra região do País onde se preste tão devotado culto à terra...
Desse culto desinteressado e apaixonado nasceram as agremiações regionalistas que, integrando casas regionais - que são os organismos da cúpula hierárquica -, representam as mais recônditas aldeias e para elas canalizam todo o progresso compatível, dando exemplo de solidariedade que muito importa realçar.
É que, como o Sr. Prof. Marcelo Caetano muito justamente reconheceu na sua histórica viagem que se relembra, todos esses organismos, desde os mais modestos aos mais poderosos, se equivalem na determinação de nada pedirem em auxílios oficiais sem primeiro oferecerem muitíssimo mais.
Assim se tem processado um engrandeci mento especialmente valioso, por ter sido alcançado à custa dos maiores sacrifícios dos interessados directos e relativamente pequena comparticipação do Estado ou até das autarquias.
Sem embargo, os povos serra-nos podem orgulhar-se muito justamente da- sua obra gigantesca, que, pelo muito sacrifício que tem pedido, assume valor igual ou até superior ao dos grandes empreendimentos que emolduram as grandes cidades deste país.
Eu creio, Sr. Presidente, que há a maior vantagem em divulgar este infindável rosário de abnegações ao bem comum, praticadas com o maior e mais dignificante desinteresse.
Havendo deixado um dia a terra-mãe, para irem mourejar o pão de cada dia longe dela, na Pátria ou no estrangeiro, as gentes serranas têm prestado também relevantíssimos e assinalados serviços ao País, valorizando as cidades e as vilas de forma notável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São incontáveis aqueles que triunfaram.
As virtudes adquiridas e exercitadas na dureza do seu viver preparam para a vida os seus naturais de forma especialmente valiosa.
Ora foram essas gentes que receberam carinhosamente o Sr. Prof. Marcelo Caetano e o envolveram numa intérmina homenagem de respeitosa admiração.
Já não são muitos, infelizmente, aqueles que ainda continuam nos rincões serranos toda uma vida de luta e de trabalho pelo pão de cada dia, pois a forte erosão humana que depreda até as latitudes muito mais rica? deste país também ali exerce a sua nefasta influência.
Mas os que ficaram e os que, como se disse; não perdem o norte do torrão natal garantem que as virtudes dessas gentes permanecerão como parte mais valiosa do nosso capital humano.
Pensando precisamente nesta circunstância, entendi dever sugerir que na serra se erguesse um monumento ajustado a vincar o valor, a dedicação e o abnegado apego à terra daquelas boas gentes, monumento que servirá também para exaltar os serviços prestados à Pátria por um numeroso escol de homens valorosos que viram a luz do dia e se criaram nas povoações humildes que a serra guarda como jóias preciosas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Cada região tem orgulho nos seus filhos, como a Pátria tem orgulho de todos nós.