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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 161 2926

E quando um Deputado ultramarino, oriundo de uma das nossas províncias de além-mar, afirma saber, a propósito dos portugueses africanos que no ultramar ainda não tiveram acosso "à língua de Camões", "que o problema é o preço de uma virtude e que decerto modo só Portugal pode considerar tão portugueses como os domais, desfrutando de plena cidadania todos os que, sem distinção de raças, credos, civilizações e níveis de cultura, constituem o elemento humano da Nação Portuguesa", esse Deputado, afirmo, bom pode merecer a atenção, mais, a gratidão de todos aqueles que vivem e sentem o problema ultramarino, não como o único que nos aflige, mas como um dos que, certamente, mereceu sempre, a atenção dos legisladores, embora, lutando-se por vezes com dificuldades, no momento, insuperáveis. Mas a circunstância em que vivemos agora pode até certo ponto, facilitar a solução do problema ou, pelo menos, permitir dar um grande passo em frente para o seu estudo e resolução final. Até da desgraça que nos atingiu se pode tirar o partido que o caso requer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não desejo repetir os argumentos invocados pelo ilustre autor do aviso prévio nem inclinar-me para esta ou para aquela solução apresentada, naturalmente tendas elas passíveis de ajustamento, ou às quais haverá a juntar outras possivelmente mais válidas: mas não posso deixar do acentuar que qualquer delas pode, pelo menos, ser o início, ou melhor, a experiência que se corrige ou antecede, a solução definitiva.

Sinto que nada será de mais tentar, a fim de só pôr cobro àquilo que não pode deixar de chocar quem o verifica, embora, como já foi dito, isso não afecta o esplêndido sentimento de portugalidade dessas populações autóctones, a quem devemos, sem sombra de dúvida, a recuperação de valores ou a sua manutenção, contra a vontade daqueles que, do exterior, bem desejavam vê-los perdidos, para nós, e para sempre.

Não é apenas pela força das armas que Portugal se mantém como país africano. Mas o que se torna indispensável é completar, e com rapidez, uma obra que tem séculos. Hoje, porém, a rapidez em certos casos, note-se bem, é a chave do êxito, e nós queremos, em tudo, vencer em África o próprio tempo.

Não será obra fácil num território onde segundo o autor do aviso prévio, se falam 16 línguas e 83 dialectos generalizar-se a língua portuguesa. Mas o campo de operações é bom, a gente magnífica, os sentimentos que pelo português europeu nutrem as populações autóctones indiscutíveis - o próprio avisante o reconhece -, e por isso haverá que reunir todas as forças para que, em força, se inicie, em maior vastidão ainda, tudo quanto já esteja possívelmente programado.

A ideia expressa no trabalho em discussão "de que a verdadeira guerra que travamos em África não é contra inimigos conscientes dos valores portugueses, mas sim contra a ignorância desses valores", dá conta, numa síntese, admirável, do que pensam, e como pensam, os valores humanos que possuímos, quando animados de um fervor patriótico e de um sentido das realidades como aquelas de que, dá provas, mais uma vez, o ilustre Deputado avisante.

Ele não é, como julga que lhe chamam pessoas menos avisadas, ou menos isentas, "arauto das soluções baratas". É um homem íntegro, realista, que nada quer da política, e apenas refere problemas e soluções tendentes a unir cada vez mais os povos que constituem Portugal. Serão, porém, as sua soluções as melhores? É possível que não, mas, também não é o seu objectivo nem dever encontrá-las. Para isso existem técnicos. Estes que o façam, mas façam mesmo! O Dr. Manuel Nazaré conhece os problemas, enuncia-os e dá as suas sugestões: cumpre, em
Suma, a responsabilidade que aceitou ao deixar-se indicar como candidato o Deputado de uma das mais belas, das mais distantes e das mais significativas províncias portuguesas. Só temos de lhe agradecer, o seu contributo indesmentível para a unidade da nossa Pátria. Através do seu trabalho, agora apresentado, ele completa o seu pensamento e a sua linha do acção delineada quando, pela primeira vez, entrou nesta sala: lutar por Moçambique como parte integrante da Pátria Portuguesa.

Ninguém se ofende quando se levantam nesta sala problemas de interesse vincadamente locais ou regionais; quer eles se situem quanto a terras, a melhoramentos, a habitação ou a qualquer outro tema, que, por toda a parte, são motivo do atenção constante. Pelo facto da ainda haver terrorismo em Moçambique, os problemas que interessam àquela província não são tabu; pelo contrário, são de uma actualidade indiscutível. Urge, repito, encará-los e resolvê-los.

Será esse, por certo, o pensamento dos nossos governantes, será esse, sem dúvida, o desejo do ilustre governador-geral, Dr. Baltasar Rebelo de Sousa. Ao seu encontro irão, com certeza, os desejos dos demais Deputados por aquela província, todos, sem excepção, igualmente interessados na resolução dos problemas que mais interessam a Moçambique. Finalmente, todos nós, que nesta Assembleia nos encontramos, temos o dever de apoiar, com entusiasmo e com fé, tudo quanto seja a bem da unidade da nossa Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Faço meus os anseios do Dr. Manuel Nazaré e pergunto como ele: "Que mais belo investimento de recursos e mais promissora sementeira de esperanças se pode desejar do que essas de pôr todo o português a falar português?".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sinto que fui demasiado longo e, naturalmente, pouco expressivo. Mas, apaixonado pelos problemas do ultramar, consciente do meu dever de português e de político, não quis deixar de dar o meu apoio ao aviso prévio do Dr. Manuel Nazaré sobre um toma aliciante, a "Difusão da língua portuguesa".

E termino, adoptando as conclusões do último Congresso das Comunidades Portuguesas, onde a comunhão da língua foi considerada, uma vez mais, "a fonte da perene fraternidade que liga Portugal ao Brasil, e em geral os núcleos populacionais de expressão portuguesa espalhados pelo Mundo". Que dizer, então, quando se trate de portugueses residentes no seu próprio território? Aquilo, talvez, que afirmou um ilustre congressista:

A língua portuguesa tem de ser o veículo por excelência, o único veículo pelo qual alcançamos o sentimento de unidade que nos fará irmãos unidos dos outros, irmãos mais conscientes uns dos outros.

O ilustre Deputado Manuel Nazaré referiu-o: e ou, ao repetir essa verdade, louvo-me de ter tido ocasião de intervir no debate, guardando, embora, a mágoa de não o ter sabido fazer melhor.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.