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10 DE FEVEREIRO DE 1971 1715

a desempenhar cabalmente que tem de se começar a preparar neste mesmo instante.

Não estilo em causa apenas os interesses de uma cidade que aspira logicamente a servir melhor n vastíssima área de influência que herdou; é o interesse do País que o impõe.

Para boa compreensão do que á hoje Santarém e da razão de ser das suas limitações é útil recordar em que medida o seu longo e brilhante historial a vinculou ao rio Tejo e à conquista, física e económica, das vastíssimas planuras do Sul. Não foi por acaso que ocupou uma posição de atalaia, que lhe permitia dominar os acessos para o interior, ao longo do rio, e para o Sul, através dele. Não foi por acaso também que se viu elevada, em determinado momento, a categoria de capital de um reino que prefigurava a mais duradoura entidade política da Europa.

No século XVI, a vyla do Santarém ainda era uma das maiores e mais dinâmica» povoações do reino. A proximidade de Lisboa e a intensa utilização da via fluvial constituíram fortes estímulos ao seu desenvolvimento. Não admira, portanto, que o seu termo se alongasse da serra dos Candeeiros até à ribeira de Sor. Santarém constituía, desde a reconquista, uma poderosa testa de ponte no avanço para o Sul, encabeçando uma possante frente de povoamento que contava com o Cartaxo, Azinhaga, Golegal, Tancos, Constância e se prolongava até Abrantes, que constituía a sua réplica mais significativa na definição de uma unidade regional.

Foi,, na verdade, a partir destes dois pontos chave que, no longo do tempo, se consolidou a unidade económica da bacia do Tejo.

Há cerca de, um século Santarém, povoação alcandorada, podia ter sentido o primeiro apelo a um desdobramento pelas 'terras baixas. Bastaria que a linha férrea tivesse sido lançada pelo interior. Mas não se quis então dissociar o rio desta nova aquisição em matéria de transportes. O porto de Santarém ainda desempenhava uma função importante. Imperou o critério da coordenação, e muito bem.

Hoje, porém, a via fluvial encontra-se substituída pela estrado, e, naturalmente, pelo caminho de ferro. As ligações com Lisboa suo cada vez maus íntimas e tendem a reforçar-se.

Entretanto, a cidade não parou de crescer. Obrigada a ocupar toda a área disponível no planalto, não tardou a integrar o velho Largo de Porá da Vila, transformado no actual Campo de Sá da Bandeira. As feiras de gado, os mais importantes do País, foram transferidas para local mais desafogado e excêntrico, onde foi possível pôr de pé a maior manifestação de vitalidade e genuíno amor à tenra a que a cidade poderia aspirar - a Feira do Ribatejo, mais tarde transformada, por mérito próprio, em Feira Nacional de Agricultura. Também este certame começa hoje a ser asfixiado pela cidade que não pára de crescer.

Para resolver problemas instantes de urbanização foi mandado elaborar, em devido tempo, um plano consentâneo com as necessidades previsíveis. Através dele será possível dar nova .estrutura à cidade num perímetro de 15 000 ha, dotando-a das infra-estruturas de apoio social e das áreas de expansão industrial indispensáveis a um desenvolvimento harmónico. Como não podia deixar de ser, esse plano conta com uma premissa fundamental - o desvio da linha férrea para o interior, deixando, por alguns quilómetros, o traçado marginal.

O trabalho foi conduzido com pleno conhecimento da Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses, que colaborou com o estudo dessa variante, orçamentada já com
vista à instalação da via quádrupla. Uma vez que o Sr. Ministro das Comunicações encora com simpatia este projecto, parece que não devia haver razão para hesitações.

A realização aparecia justificada dos pontos de vista urbano e das comunicações, uma vez que se lhe associava o traçado da variante da estrada nacional n.º 3, da maior importância para o trânsito rodoviário de passagem. E evidente que só através desta nova implantação se abrem perspectivas à definição de áreas industriais e à construção de um mercado agro-pecuário de importância regional que possa servir Lisboa e uma vasta área do centro do País.

Importa, na verdade, que se não perca a vocação especialíssima que transformou a feira de gado bovino de Santarém na mais importante de quantas ainda subsistem.

Ela é reforçada pela existência de um órgão de investigação prestigioso como a Estacão Zootécnica Nacional, no que se prevê venha a ser possível transmitir aos futuros especialistas em produção animal o indispensável contacto com os problemas que se deparam ao fomento pecuário do País.

Pois tudo isto estará em causa se com brevidade não for imprimida coesão e uma outra dimensão ao espaço urbanizado de Santarém, já hoje susceptível de comportar móis de 30 000 almas.

Que se passou, entretanto, a tolhar o passo a este processo racional de reestruturação da cidade? Apenas isto. As vertentes viradas ao rio, em virtude de infiltrações de água e de uma inclinação propícia das camadas geológicas, tornaram-se instáveis e deram origem a escorregamentos maciços, que interromperam por várias vezes a linha férrea.

A necessidade de garantir, ainda que provisoriamente, a abertura de uma linha tão importante, levou a Companhia a mandar elaborar vários estudos e n encarar novas hipóteses. Todas põem em causa o actual traçado, demasiado dependente do comportamento de encostas extremamente difíceis de estabilizar. Os esforços realizados pelos técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil não conseguem, apesar do seu mérito, tranquilizar os responsáveis. Por outro lado, os trabalhos de reparação da linha levaram a que se praticasse um verdadeiro atentado ao precário equilíbrio existente entre o rio e as margens, neste troço.

Ao longo de cerca de 760 m da margem direita foram descarregadas centenas de milhares de metros cúbicos cie terra, de forma a constituir um terrapleno com que se pensa vir a resolver o problema.

Para já, conseguiu-se estrangular o rio e imprimir nova dimensão e vigor as inundações que flagelam os campos marginais e cujo comportamento futuro se desconhece. Em estimativa elaborada recentemente fixei os prejuízos que estas originam numa média anual de 210 000 contos. Neste ponto os técnicos não podem desconhecer quão perigosa está sendo a sua intervenção e em que medida ela contraria aã boas regras a seguir em toda a complexa tarefa de dominar o rio.

Uma vez que o aterro não tem consistência para garantir o apoio necessário à implantação da linha e vai estar sujeito a uma fortíssima acção erosiva, pergunto em que medida se justifica a insistência em prosseguir uma experiência de que não pode resultar uma solução válida e na qual já se consumiram cerca de 60 000 contos e alguns anos de trabalho!

A visão global que procurei imprimir ao problema leva-me a supor que não lhe podem ficar indiferentes todos os que pugnam pelo certo de uma intervenção que con-