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3296 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 166

tuação, os locais escolhidos possam dar a eficiência do ensino e seu aproveitamento, e muito especialmente às tradições docentes, aliás aqui e além invocadas para justificar a criação da escola a que se aspira.
Ora, a meia distância dos centros universitários de Lisboa e Coimbra, precisamente a 100 km de um e de outro (é essa mesma também a distância que separa Coimbra da cidade do Porto); situada no centro de uma região economicamente desenvolvida e progressiva, de numerosa e densa população escolar, que deseja continuar os seus estudos clássicos ou técnicos até à licenciatura, ou a grau académico mais elevado, Alcobaça, por todos estes motivos e designadamente pelo tradicional interesse que a sua abadia cisterciense sempre mostrou na divulgação da cultura, é uma das localidades que mais e melhores condições reúnem para a instalação, não apenas de mais um estabelecimento de ensino secundário, como se prevê, mas, e sobretudo, de uma escola ou instituto de ensino superior, isto é, de uma escola universitária.
E então vejamos.
Neste último aspecto, bastará dizer que, numa época em que a instrução se considerava dispensável ou mesmo inútil, foi em Alcobaça que, segundo a melhor versão histórica, se abriram as primeiras aulas públicas do País.
Como escreveu Manuel Vieira Natividade:
O estado de ignorância em que se achavam os Portugueses até princípios do século XIV é verdadeiramente manifesto, porque não encontramos menção de um homem esclarecido que não seja estrangeiro ou que não fosse receber o baptismo da instrução a terras estranhas. A instrução era, podemos dizê-lo, desprezada por todos os diversos graus da sociedade, e tão desprezada que frequentemente encontramos referências a priores e ministros religiosos que nem ao menos sabiam escreveu o seu nome.
Ora, reconhecido este estado de ignorância popular e, consequentemente, o atraso que neste campo se registava em relação aos outros países, foram os mosteiros que, entre nós, tomaram então a iniciativa de promover e difundir a instrução.
Hás a educação nacional (assim se diria hoje) ficou, no entanto, a dever especial favor ao Mosteiro de Alcobaça. Efectivamente, Jogo nesse recuados tempos desempenhou o Mosteiro de Alcobaça papel de excepcional, relevo no desenvolvimento e expansão do ensino, que já naquela época passou a ministrar em muito elevado grnu.
"Só no reinado de D. Afonso III", continua Manuel Vieira Natividade, "a instrução começou a desenvolver-se. Neste primeiro passo tomaram parte os abades dos mosteiros mais importantes de Portugal, e o Mosteiro de Alcobaça foi o primeiro que teve aulas públicas onde se lia: Grammaitica, Logica e Thcologia para os mancebos de fora do mosteiro que quiserem aproveitar."
O próprio abade de Alcobaça, D. Pr. Estevãm Martins, instituidor dessas aulas, as inaugurou, lendo as primeiras lições em 11 de Janeiro de 1269.
Eu sei que este facto foi recentemente contestado, aliás com base em argumentos muito especiosos.
Ou não estivéssemos na época das obsidiantes contestações.

e me for permitido, Abrirei aqui um parêntesis, para enunciar, embora muito sumariamente, os termos da controvérsia.
Estatui-se na escritura da sua instituição que o perpétuo e contínuo estudo de letras seria criado no Mosteiro ad communcm utilitatem monachorum nostrorum et omnium: . .
Vê-se, no entanto, claramente do original que a copulativa et está colocada entre estas duas últimas palavras, de modo a poder supor-se que ali foi incluída posteriormente.
Sobretudo desta circunstância se pretende agora concluir que o texto primitivo teria sido falsificado e que este, inicialmente, se referia & criação da escola, não para ensino dos monges e de todos (público), mas tão-somente para utilidade de todos os monges (omnium monacho-rum).
Esto raciocínio parece, todavia, demasiadamente simplista e muito precipitado.
Começamos por notar que, a entender-se como pretendem os opositores, estaríamos em presença de uma grosseira falsificação, visto que, no texto, a irregularidade se descobre ao mais leve exame. E, deste modo, o autor da falsificação, se fora esse o seu desígnio, teria perdido o seu tempo, pois nunca assim é de considerar aquela que, pela sua evidência material, a ninguém pode enganar.
Por isso mesmo é que a contrafacção ou imitação grosseiras de quaisquer escritos ou documentos, ainda que no intuito de induzir em erro, nem sequer para efeitos penais se consideram falsificações.
De outro lado, se tivermos em atenção que foram, de facto, os mosteiros que em primeiro lugar ministraram na instrução pública no País; se notarmos o excepcional interesse que n Abadia, de Alcobaça tão cedo demonstrou por essa causa; a disseminação, pelos coutos do Mosteiro, de ferrarias e granjas, verdadeiras escolas públicas industriais e agrícolas para instrução dos colonos, onde o ensino das "humanidades" não em estranho; se tudo isto já era assim em 1269, parece mais razoável e sensato supor e mesmo entender que a mencionada copulativa et, longe de constituir uma falsidade, fora antes ali acrescentada para emendar um erro inicial de escrita, ou então no natural propósito de harmonizar o - texto com a realidade, isto é, com a prática já anteriormente seguida do ensino dos "mancebos" de fora do mosteiro que quiseram aproveitar:". Não será assim?
E a tese contestatária não terá o seu principal fundamento na ânsia da originalidade? . . .
É que, até hoje, nenhum escritor (muitos de comprovada e inegável autoridade) nessa matéria tinha posto em dúvida a verdade das primeiras aulas públicas em Alcobaça.
Mas as tradições de Alcobaça não ficariam por aqui. Se procurarmos bem, - ainda no seu Mosteiro iremos encontrar algumas das mais fundos raízes da Universidade portuguesa.
Com as primeiras aulas públicos, com o impulso que D. Afonso III e, depois, o sábio Rei Lavrador deram à instrução, as ciências começaram a vulgarizar-se, operando-se, desde logo, uma verdadeira reforma nos costumes e nos espíritos, que havia de trazer também aos Portugueses uma nova mentalidade.
Daí nasceu a ideia das Escolas Gerais, isto é, da fundação da Universidade.
Ora, acrescenta M. Vieira Natividade: "Foi ainda o abade de Alcobaça (D. Dr. Estêvão Martins) quem mais trabalhou para a fundação desse estabelecimento, convidando os abades de outros mosteiros o bastante para vencer todas as dificuldades. Destacou-se, porém, o abade de Alcobaça pela importância dos seus donativos e pelos esforços que praticou para ser instituído em Portugal esse melhoramento civilizador".