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3868 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 194

temente afirmado o seu profundo e sincero desejo de que, na paz, todos possamos contribuir para um Portugal cada vez melhor, um Portugal em que todos possam alcançar um nível tia vida compatível com os direitos humanos que constituem o corolário de um cristianismo autenticamente vivido, sem deturpações e isento de intenções tombas vezes obscuras e demagógicos. Tal linho de pensamento e de actividade exigirá sacrifício e deste nos deu V. Ex.ª o primeiro exemplo no aceitar o terceiro mandato para que foi eleito. Ocorre o início deste mandato no ano em que se celebra o IV Centenário da publicação do imortal poema em que Camões soube cantar as virtudes de uma raça que, enfrentando tantas vezes as maiores dificuldades e incompreensões, tem conseguido impor-se pelas qualidades que os séculos não diluíram e que os governantes de hoje não podem deixar adulterar.
As virtudes cívicas e militares do povo português, que V. Ex.ª tão dignamente representa, têm de ser preservadas da nefasta, influência de ataques frontais ou subtis que nos vêm do exterior e, por vezes, também do interior.
Numa das últimas estrofes de Os Lusíadas, o poeta escreveu:

A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando o pelejando.

Não teria Camões total razão, pois há também que «sonhar, imaginar e estudar» e, neste momento, apenas procuramos acentuar que o desenvolvimento e o progresso de um povo «não se aprende na fantasia», tornando-se necessário «ver, tratar e pelejar». Disto nos têm dado o mais extraordinário exemplo as forças armadas portuguesas e este admirável povo em cujo nome, como Deputado, nos cabe também a honra de saudar V. Ex.ª no dia histórico que hoje vivemos.
E que as nossas últimos palavras, nesta sessão de tão grande significado, correspondiam a um voto sincero e vibrante. Na nova etapa da caminhada sem fim em que todos estamos empenhadas - os portugueses do passado, do presente e do futuro - que Deus ilumine o espírito do mais alto magistrado da Nação, inspirando ao mesmo tempo aqueles que nos governam para que, com a boa vontade de todos, uma vez mais possamos marchar unidos, não apenas ma defesa da Pátria comum, garantindo-lhe a necessária integridade, mas também na defesa do bem-estar de todos os que constituem esta gloriosa Nação e do cristianismo propósito de melhorar os suas condições de vida, largando-lhe, tanto no campo dos valores materiais, como no dos valores espirituais, os mais rasgados horizontes.

No final do discurso, a assistência sublinhou as palavras do orador com prolongados aplausos.
Em seguida, o Sr. Presidente da Assembleia Nacional anunciou que, usando da palavra por direito próprio, S. Ex.ª o Presidente da República ia ler a sua mensagem às duas Câmaras. S. Exa. o Presidente da República, que, ao levantar-se, foi demoradamente ovacionado, leu então a sua mensagem, do seguinte teor:

Srs. Presidentes da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, Srs. Deputados e Dignos Procuradores: Perante VV. Ex.ªs e de acordo com o preceituado no artigo 75.° da nossa Constituição Política, assumi há pouco e pela terceira vez consecutiva as altas funções do Presidente da República.
No momento solene da posse e usando a formula de compromisso que o mesmo artigo prescreve, jurei, mais uma vez, manter e cumprir leal e fielmente a Constituição da República. As palavras do texto constitucional são intuitivas e aparentemente simples, mas, bem meditadas, representam um rosário, quase sem fim, de responsabilidades. E embora o sejam, também, para todos os portugueses, elas atingem, quanto ao Chefe do Estado, e logicamente, o máximo da sua intensidade, constituindo para ele preocupação permanente era todos os seus pensamentos, procedimentos e decisões.
O reconhecimento perfeito das responsabilidades e do seu constante incremento, derivado da já longa permanência na chefia do Estado, fez-me hesitar muito, muito mais ainda do que em 1965, no propósito de me candidatar a novo mandato presidencial, que se me afigurava pouco justificável, mas para que estava sendo insistentemente impedido por apelos de que a minha consciência nem sempre conseguia desprender-se com a indispensável tranquilidade. Não resultaram essas hesitações do aparecimento de quaisquer quebras de ânimo ou de súbito temor às responsabilidades, pois tais hesitações seriam irremovíveis. As suas causas derivavam do natural receio, bem compreensível, de ao cabo de tantos anos de exaustivos esforços e de idade, não conseguir desempenhar, por mais alguns ainda e com a eficiência plena que elas exigem, tão altas e difíceis funções. É certo existir em qualquer idade o risco da pessoa desaparecer da vida ou de se incapacitar nela, mas não deve esquecer-se que tal risco vai logicamente crescendo ao longo dos anos que se vão vivendo.
Porém e através de insistente argumentação, de que não consegui libertar-me convictamente, fizeram-me crer que o meu dever, no momento actual, era continuar. Por isso anuí em me candidatar e como fui eleito, continuo; e continuo porque a um português que sinta, entranhadamente Portugal, não se afigura legítimo eximir-se ao cumprimento do seu dever, enquanto o puder e souber cumprir.
A minha candidatura foi recebida com geral simpatia e com manifesto entusiasmo em todo o morado português. De uma e de outra deram pleno eco os órgãos de informação e o excepcional volume de correspondência recebida, tudo parecendo mostrar ser a renovação dos meus anteriores mandatos a solução mais desejada. E confirmando esse parecer, o Colégio Eleitoral elegeu-me, por expressivo e consolador número de votos, para mais um septénio na chefia do Estado, o que exprime, sem dúvida, a continuação da confiança que a Nação em mim tem depositado.
Desvanecidamente agradeço essa confiança, tão largamente manifestada, e procurarei continuar a merecê-la, servindo o País, como o tenho procurado fazer sempre, com toda a dedicação e entusiasmo que lhe são devidos. É, aliás, uma obrigação e pelo seu cumprimento não há lugar, evidentemente, a qualquer gratidão. Mas é oportuno repetir o que afirmei na mensagem há sete anos dirigida à Nação, deste mesmo lugar. Em servir a Pátria não há sacrifícios que contem: mas só servindo-a exemplarmente se justificará continuar na chefia da Nação.
Não penso que venham a ser fáceis os anos que se avizinham, pois se tal pensasse seria agora e apenas mais um simples espectador desta solene cerimónia. E não penso, nem é de pensar, porque a humanidade se está mostrando cada vez mais profundamente perturbada e porque a experiência trazida dos dois anteriores mandatos e o clima de incrível animosidade, que tão injustamente nos criaram e tão encarniçadamente está sendo mantido, não permitem optimismos inconvenientes.
Infelizmente não voltarão, com a brevidade precisa, os tempos calmos que há anos atrás se viveram, embora